Ensaio sobre a cegueira na Luz
O Benfica moldou-se à imagem de Jesus e é produto de navegação à vista e... amadorismo
R UI COSTA assume que o Benfica tem de perceber por que motivo perdeu «cinco pontos nos últimos três jogos», contudo há muito que dava sinais, mesmo durante a fase de bons resultados, que não só o modelo é incompleto como também, após os milhões investidos, assenta num plantel extenso, mas parco em soluções que lhe garantam a dimensão necessária para uma época longa, extenuante e de grande diversidade de obstáculos. Jorge Jesus, que se reinventou nos três centrais, pouco tem acrescentado de variedade e criatividade ao processo ofensivo sobretudo no plano do ataque posicional, lado B do conjunto que chegou a ser o ponto de partida e hoje não é mais do que espaço para raridades e experiências. Também o clube se moldou à imagem do treinador e dos seus humores, hoje mais o produto de navegação à vista do que um projeto planeado e estruturado, no fundo mais próximo do que devia do amadorismo que a modernidade não perdoa. O scouting não existe, a formação perdeu peso e não há experiência que evite erros no mercado. Já são poucos os resultados que sustentam os meios.
A quebra era inevitável, resta saber se Jesus consegue preencher as falhas macro do sistema encarnado, quando ele próprio volta a dar sinais de fragilidade na avaliação do potencial dos jogadores, dos adversários e das próprias decisões, do gabinete ao banco, mesmo durante as partidas. Não querendo ser arauto da desgraça de ninguém, os sinais estavam lá e persistem, ainda que os rivais caminhem para já pouco firmes. O Sporting volta a parecer espremido, mas a ideia permanece válida e abrange todos os jogadores. Já FC Porto e Sérgio Conceição ainda estão a aprender a construir um modelo diferente, que torne a equipa mais versátil e perigosa, e incorpore tanto talento cultivado. Visíveis a olho nu, os piores sinais vêm sim da Luz.