Ele está convicto. Eu não
«Estou absolutamente convicto de que vamos ser campeões» - Sérgio Conceição.
1 - Infelizmente, não partilho a firme convicção do treinador portista. Porque:000000 00a) Estamos a 4 pontos do Benfica e, embora ainda tenhamos de os receber no Dragão e possamos contar apenas connosco para recuperar três deles, ainda fica a faltar mais um. Dir-se-á que o Benfica vai perder outros pontos, noutros lados, como nós vamos. Pois, mas aí é que está: não vai. Ou, se vai, serão sempre raríssimos e menos do que aqueles que nós vamos perder. Em 30 jogos do campeonato, Bruno Lage cedeu apenas um empate e uma derrota - justamente contra o FC Porto - e vai em 15 jogos consecutivos fora de casa sempre a ganhar. É uma anormalidade, é imbatível, indisputável. O Benfica ganha quando joga bem, quando joga mal e quando não joga nada. Como disse há dias Miguel Guedes, é um mistério que o Benfica passeie com tanta tranquilidade no campeonato e só passe dissabores e humilhações com os de cima, na Europa, e com os de baixo, nas taças internas. É um mistério, é...
b) Se não funcionar o factor temor reverencial dos adversários internos perante o Benfica, funcionará outro factor de vassalagem, como na época passada vimos funcionar em três jogos decisivos para dar o título ao Benfica, sem pudor nem espinhas. Infelizmente, e contrariando o teor do reles comunicado sobre arbitragens anteontem dado à luz pelo Benfica, não tenho dúvidas disso.
c) Mas creio que não será necessário chegar a tanto. Este ano o Benfica tem a seu favor mais um dado: quatro meses, vinte jogos e sete reforços depois, o FC Porto de Sérgio Conceição está a jogar cada vez pior. Em lugar de melhorar com o decorrer do tempo e dos jogos, piora a olhos vistos. E como não se trata de um fenómeno passageiro mas de um problema de identidade, não se vê perspectiva de melhorias em tempo útil.
2 - Vi pelo canto do olho, distraidamente e apenas bocados do Boavista-Benfica. O que vi chegou-me para algumas conclusões: que o Benfica jogou para ganhar e mereceu ganhar, sem qualquer dúvida. Não sei se terá sido a sua melhor exibição, como vi dito, mas foi seguramente melhor do que a pobreza que também vinha exibindo. Vinícius é um grande matador, como já se sabia desde o Rio Ave, e só não apareceu antes porque era preciso justificar os 20 milhões do flop RDT, com que o Real Madrid se vingou da esperteza saloia do negócio Garay (além da humilhação de LF Vieira, que, tendo ido a Madrid para o negociar, foi recebido por um mero director do clube). O segundo golo do Benfica só é possível devido a uma falta de Cervi, tão evidente que fica difícil imaginar uma razão séria para nem o árbitro nem o VAR a terem visto - mas não é isso que obscurece a vitória dos encarnados que, mais tarde ou mais cedo, apareceria. Última conclusão: se bem que jogando o seu habitual futebol caceteiro e feio, não houve ali sombra do Boavista que, contra o FC Porto, só teve um objectivo ao longo dos 90 minutos: que não houvesse jogo. Também fiquei a pensar porquê.
3 - Para justificar mais um desaire contra o Belenenses em Lisboa (para o qual devia estar mais do que avisado), Sérgio Conceição invocou o antijogo do adversário e a arbitragem. Não tem razão em nenhuma das duas desculpas.
A acusação de antijogo é grave e não deve ser atirada para o ar sem razão válida. O FC Porto já a teve esta época no já citado jogo do Bessa e no Funchal, e teve-a, sobretudo, na época passada, no jogo em Paços de Ferreira, que, de tão vergonhoso, deveria ter sido mandado repetir pela Liga, a bem do futebol. Mas não foi esse o caso do Belenenses: não convém confundir antijogo com um jogo defensivo feito por uma equipa que é naturalmente mais fraca. Uma coisa é não facilitar, outra é não querer jogar. E o Belenenses quis jogar: fez um golo - no primeiro ataque que fez, é certo - e ia fazendo outro, não fosse uma enorme defesa de Marchesín.
Quanto à arbitragem, o golo do Belenenses não tem sombra de irregularidade e, mesmo que tivesse havido a tal mão no meio-campo, isso não desculparia o Manafá ter sido batido pelo Licá, o Marcano ter cortado depois a bola para a frente da área e, no fim, nem o Loum nem o Danilo estarem no lugar onde deviam estar (de que serve, afinal, jogar com dois médios defensivos?). Quanto ao penálti sobre Marega que os três juízes do painel de O Jogo garantem ter existido, eu, pura e simplesmente, não o vi.
O FC Porto deixou dois pontos no Restelo porque não jogou nada, porque não vem jogando nada - como eu e alguns portistas com olhos de ver vimos assinalando há tempo, há demasiado tempo. No meu caso, desde o início da época, com três breves intervalos para os jogos com o Benfica, o V. Setúbal e o Famalicão. E nada mais. Constatando o óbvio, disse Sérgio Conceição que o que falhou foi a definição final. Toda a gente o sabe e ainda o escrevi aqui na semana passada: a equipa não sabe o que há-de fazer da bola quando se aproxima da área. A táctica mais rotineira ainda continua a ser o pontapé directo dos centrais para os avançados e a bola em profundidade para a corrida do Marega - que já não é a mesma de outros tempos. Tirando isso, que é estéril, só restam as bolas paradas como verdadeiras ocasiões de golo. No resto do tempo, os jogadores desgastam-se em corridinhas sem sentido, em fintas que não ganham espaço, em passes e mais passes que não criam ocasiões de remate, ou em tentativas de remate contra florestas de pernas. Por exemplo: Corona. Saudado por toda a crítica como o único desequilibrador deste jogo, não concluiu com sucesso uma única jogada de ataque: um centro, um passe a rasgar, um remate. Limitou-se a conquistar um penálti, cedido aliás precipitadamente.
Tudo isto não resulta nem da arbitragem nem do antijogo do adversário nem de maus jogadores - pelo contrário, temos um excelente plantel. Resulta de má estratégia, má preparação, má escolha de tácticas e de jogadores. A responsabilidade tem, pois, um nome: Sérgio Conceição. A época está correr-lhe desastrosamente e isso vai-se vendo no seu crescente nervosismo e má disposição, nas suas manifestações de autoritarismo deslocado, como o da festa de Uribe, ou nos constantes rapapés a Pinto da Costa, já tratado como pai-protector. Tirando a excepção do jogo da Luz, tudo parece mal planeado, a começar pela eliminatória com o Krasnodar, continuando pelos jogos da Liga Europa, pela entrada e saída de jogadores da equipa sem sentido (porque saiu às tantas Zé Luís, porque saiu agora Luis Díaz?), a recente opção por jogar com dois médios de contenção, quando o défice é de médios de construção (viu-se como a equipa sufocou logo o Belenenses com a entrada de dois médios ofensivos), enfim, um rol de escolhas e atitudes que a mim me dão sinal de um indisfarçável desnorte.
4 - O treinador do Belenenses, Pedro Ribeiro, é o mais jovem da Liga. Quando aos 14 minutos o Belenenses foi pela primeira vez à frente e, aproveitando um mau alívio de Marcano e um remate tão bom quanto feliz, abriu o marcador, ele fez uma cara de quem estava mesmo à espera daquilo, como se estivesse ensaiado e treinado. Enfim, percebe-se: era para disfarçar a alegria. Mas quando no final do jogo declarou pomposamente que merecia ter ganho pois fora a dele a melhor equipa, esqueceu-se que o ridículo também ataca a juventude.
5 - Rui Barros, treinador do FC Porto B, depois de empatar 2-2 em Penafiel: «Tivemos oportunidades para ganhar, mas às vezes não perder também é bom.» Como disse?
6 - Longa e elucidativa entrevista de Augusto Inácio aqui, em A BOLA. Eu, que não seguira de perto a história dos dois depoimentos, e contraditórios, que deu a propósito do despedimento de Mihajlovic e das suas relações com Bruno de Carvalho, percebi agora tudo. Antes não tivesse percebido.