Ele é insaciável. Ponto
O bis de Cristiano Ronaldo no regresso à atividade (ao fim de 20 dias confinado) foi comentado com respeito e admiração pela imprensa italiana - que anda encantada com os golos e as performances do miúdo Zlatan (39 anos). Saído do banco aos 55’ para o lugar do habilidoso mas inconsequente Dybala, Cristiano precisou apenas de três minutos para colocar a Juventus em vantagem no estádio do Spezia (estava 1-1), num golo em que revelou todos os atributos de um matador consumado: perceção, aceleração, enquadramento e definição, num movimento rápido e harmonioso concluído com um remate preciso. O Ronaldo de sempre. A celebração, com sorriso largo e franco e o tradicional siiii!!!, teve o condão de nos fazer lembrar que Ronaldo, aos 35 anos, mais do que qualquer outro jogador, é a personificação do golo.
Melhor: a materialização do golo, ainda e sempre o momento mais importante deste jogo amado por centenas e centenas de milhões de adeptos em todo o mundo. Quinze minutos depois, Cristiano, faminto («sinto-me uma fera enjaulada», disse ele à imprensa italiana quando estava fechado em casa) voltou a alegrar milhões de adeptos juventinos com um penálti à Panenka, movimento/atrevimento inédito na sua longa carreira. Mal sabia ele que naquele momento - foi o seu 744.º golo - acabara de ultrapassar o brasileiro Romário (743) e subir ao pódio dos maiores goleadores de sempre, atrás do rei Pelé (757) e de Josef Vladikov Bican (805), um austríaco de ascendência checa nascido em Viena (1913) ao tempo do Império Austro-Húngaro, cuja estatística está longe de suscitar concordância dada a inexistência de registos oficiais em determinadas fases da sua carreira. No caso de Pelé, os 13 golos de diferença serão anulados num futuro muito próximo.
No caso de Bican, assumindo que ele marcou mesmo 805 golos, Cristiano precisa de marcar mais 62 até ao final da carreira para se tornar o maior goleador da história do futebol. Mais uma vez, trata-se apenas de uma questão de tempo: julgo que num prazo de dois anos, senão antes, o trono será do português. A única dúvida é se Messi, mais novo que Ronaldo dois anos, terá depois fôlego - e capacidade - para lá chegar. Talvez seja do momento soturno que o Barcelona atravessa, mas é um facto que o registo goleador de Messi baixou drasticamente nos últimos tempos (apenas quatro golos nesta época, todos de penálti) e 21 golos no ano corrente… contra os 50 de 2019.
Hoje, se não houver surpresas, Ronaldo estreia-se nesta edição da Champions (com o Ferencvaros em Budapeste), não de olho em algum recorde (que é seu: 131), apenas no próximo golo, que é aquilo que melhor o define. Porque com ele há sempre mais um golo para marcar. E depois desse, outro. E mais outro. E assim sucessivamente.
Contas feitas, e por culpa da pandemia, a época de Cristiano resume-se a uns esquálidos quatro jogos oficiais (três com a Juventus, um com a Seleção). Marcou dois golos à Suécia, um à Sampdoria, dois à Roma e agora dois ao Spezia. Ou seja: em quatro jogos, três bis e sete golos, sendo cinco de bola corrida e dois de penálti. Velhos são os trapos.