É urgente Vieira falar

OPINIÃO16.02.202106:00

Além do desencontro entre os discursos de Jesus e dos jogadores é iniludível o desconforto destes, por se sentirem incapazes de fazer mais e melhor

O S jogadores do Benfica começam a ficar saturados das justificações que o treinador tem utilizado para contornar a realidade do futebol do clube, que é preocupante: em 19 jornadas no campeonato perdeu 19 pontos.    
Otamendi foi o primeiro a pronunciar-se e a seguir ao encontro com o Famalicão, de uma forma muito clara, declarou que o que passou, passou,  que a equipa precisa de outra mentalidade competitiva e que daqui em diante todos os jogos devem ser encarados como finais.
Anteontem, na sequência de mais uma tentativa de recuperação falhada, em Moreira de Cónegos, Seferovic confessou que o problema não é físico, porque todos se sentem bem, ao contrário do que anda a ser vendido, e colocou o acento tónico na indisfarçável desorientação do coletivo, que está a sofrer «com a incapacidade de controlar algumas fases dos jogos»  e que tem de «defender e atacar melhor», sublinhou.
Dentro de menos de duas semanas é março e, no entanto, o treinador do Benfica continua a falar como se a época tivesse começado no mês passado, saltitando entre desculpas e promessas,  mas sem nada apresentar de concreto. O último salva-vidas a que se segurou, com a exuberância  que ajuda a compreender a sua personalidade, foi o Covid, identificando-o como sendo a causa da desastrosa temporada da águia.
Nem vale a pena falar na roda, tão cara a Sérgio Conceição, que  os jogadores encarnados, ou alguém por eles, ao resolverem copiá-la, muita comichão devem ter provocado entre o universo benfiquista e imenso gozo devem ter dado ao portista, não só pelo mau gosto da iniciativa, mas também por em setores tão profissionalizados continuarem a prevalecer estratégias motivacionais que  encheram o futebol  da lusa paróquia de histórias engraçadíssimas, mas que, salvo melhor opinião, me parecem desajustadas e até inúteis.
Uma coisa é o trabalho psicológico  que deve ser feito em relação a cada jogador,  sabendo-se que cada caso é um caso, e de preferência na discrição do balneário, outra são estas manifestações públicas  de mero folclore para adepto ver e de efeito muito duvidoso. Como se está a verificar no FC Porto: quando faltam as peças principais que fazem a máquina funcionar na perfeição não há rodas que valham… 

N OUTROS tempos, os futebolistas encarnados marcavam a diferença com elegância, fazendo uma vénia à sua massa adepta antes de cada jogo e no período áureo do Benfica europeu, quando a equipa ia viajar para o estrangeiro e o último jogo interno se realizava na Luz, despediam-se do seu público, recebendo em troca uma ovação  que os empolgava para suplantarem as maiores adversidades.
Há uma semana escrevi neste espaço que no limite o Benfica teria de garantir o terceiro lugar, o último que poderá dar acesso à Liga dos Campeões. Permitir o avanço do SC Braga, como aconteceu esta jornada, é muito perigoso, pois convém não esquecer que nas  duas ocasiões anteriores  em que os dois emblemas se defrontaram esta época  a águia somou duas derrotas.
Além do desencontro entre os discursos do treinador e dos jogadores é iniludível o desconforto destes, por se sentirem incapazes de fazer mais e melhor numa casa desarrumada, que é a equipa, em que cada qual não sabe bem como executar as tarefas que lhe estão destinadas. Antes que deixem de acreditar e o colapso  aconteça convém que Luís Filipe Vieira saia da penumbra e se chegue à frente, por ser o pai da ideia e ninguém poder falar por ele.  
 

Semana europeia
 

E STAMOS em semana de competições europeias, o que é bom para desanuviar o pesado ambiente que se vive no futebol  português. Durante estes dias as discussões incidirão sobre as reais possibilidades de as equipas portuguesas seguirem em frente, fazendo-se uma pausa nos  árbitros e nos penáltis.
Amanhã, na Liga dos Campeões, o FC Porto recebe a Juventus de Cristiano Ronaldo, no Dragão, e a 9 de março desloca-se a Turim para disputar a segunda mão dos oitavos de final,  a mesma fase em que, na época 2017/2018, já com Sérgio Conceição, o FC Porto baqueou diante do Liverpool. No ano seguinte, o dragão eliminou a Roma nos oitavos e nos quartos de final voltou a defrontar o  poderoso Liverpool. Agora, o opositor viaja de Itália e está uns furos abaixo do que era  o rolo compressor de Klopp.  O FC Porto não anda bem, mas a Juventus também não.
Depois de amanhã, o Benfica joga em campo neutro, na capital italiana, com o Arsenal, para a Liga Europa (16 avos de final) e como considero que o representante  português é forte candidato a vencer a prova  e como Jorge Jesus afirma que a sua equipa já está muito mais competitiva e como o plantel encarnado, apesar de alguns desequilíbrios à vista de quem quiser ver, é realmente bom, só tenho de apostar na sua vitória, no jogo e na eliminatória.
No mesmo dia, o SC Braga recebe a Roma treinada por Paulo Fonseca e que ocupa uma  das posições de topo na liga italiana. Estamos a falar de uma prova em que o SC Braga já assumiu o estatuto de passageiro frequente, tendo, inclusive, chegado à final de Dublin, com o FC Porto, em 2011. Na altura era treinado por Domingos Paciência, agora por Carlos Carvalhal. Apenas se mudaram os nomes, porque a ambição é a mesma, traçada pelo seu presidente, António Salvador, que tirou o clube minhoto do anonimato e o tornou conhecido ao mais alto nível europeu. Não vai ser fácil. Paulo Fonseca  treinou o SC Braga em 2015/2016 antes de lançar a  sua carreira internacional no Shakhtar Donetsk e conhece os cantos da casa, mas o pessoal de Carvalhal tem dado mostras de uma fantástica capacidade de superação.