E se chover e fizer sol?
Os do desporto não se metem porque é política; os da política não se metem porquê?
AUEFA, naquela atitude envelhecida, que de resto é habitual também na FIFA e nos comités olímpicos e, pelo que parece, na generalidade das organizações desportivas sob a capa esburacada do pressuposto e inexistente conceito de apolítico, negou, como todos lemos, à cidade de Munique, na Alemanha, a possibilidade de iluminar o estádio com as cores do arco-íris, que simbolizam direitos da comunidade LGBT.
O comportamento foi sendo diplomaticamente questionado. A FPF coloriu o símbolo com aquelas sete cores e marcou, bem, uma posição que nem sempre sai com imediatismo.
É interessante verificar que tudo isto, sendo polémico, já não o é tanto. Claro que quando a Hungria proíbe direitos humanos e o governo português se refugia, cobarde, na neutralidadezinha, ainda dá tudo que pensar: os do desporto não se metem porque é política; os da política não se metem porque é política. Então?
Mas, ia eu escrevendo, a polémica já nem é o que era, é menor. Ou seja, a sexualidade dos outros, à medida que as gerações passam, vai sendo encaminhada para onde deve: para os outros. Já não é uma questão de eu - qualquer um - ser a favor ou contra direitos LGBT, é uma questão de sentir que nada tenho a ver com isso. A coisa já se situa, felizmente, acima disso, ao nível de quem sente que são coisas dos outros, e que a sexualidade dos outros é deles. A sexualidade de outra pessoa só me interessa se o sexo com essa pessoa me interessar. Não? A favor ou contra? Mas quem é que precisa de aprovação?
Podemos usar ou não as cores do arco-íris em braçadeiras, símbolos, estádios ou discursos, sim; mas e se chover e fizer sol ao mesmo tempo, proíbe-se o arco-íris no céu?