E pronto! Está provado! Não nascemos para isto!

OPINIÃO16.09.202107:00

Rúben dizia que tinha um péssimo registo na Europa. Agora, é pior do que péssimo. O jogo não foi um pesadelo, porque quando acordámos, hoje, tínhamos mesmo perdido 1-5

Aprimeira ideia que me veio à cabeça foi que Coates faz muita falta ao Sporting. A segunda, por volta dos 10 minutos, foi deixar de ver o jogo e passar a ver a Netflix. Porém, resisti até ao fim e não tenho nada a dizer, senão isto: o número de passes falhados foi diretamente proporcional à nervoseira dos jogadores do Sporting. Salvaram-se Matheus Nunes e Pedro Porro, que ainda rematou ao poste, além de ter chutado para uma defesa não muito simples do guarda-redes do Ajax, que por sinal nos ofereceu o golo de honra com o frango que deu.

Depois, houve o golo anulado a Paulinho (eu não vi o fora de jogo, mas não coloco em causa), que nos daria o 2-3 e uma possibilidade de reabrir o jogo, mas dois minutos depois, aos 51, aquele Haller que meteu mais golos ao Sporting do que qualquer equipa portuguesa num jogo, fez o 1-4 e ainda faria o 1-5, cerca de 12 minutos depois.

Outra coisa infeliz é que quatro golos do Ajax pareciam replay, foram todos iguais. Antony centrava e Haller entrava entre o lateral e o central (fossem eles quais fossem) e a quatro metros da baliza atirava para o lado que queria, sem dar hipóteses a Adán, que aliás não fez uma defesa que se visse, nem teve culpa em nenhum golo.

A destoar, apenas o golo aos dois minutos com que o Ajax abriu o festival: bola na trave que ressalta para Haller, que a encostou para dentro da baliza. Para a história, o facto de Berghuis ter também metido um golo e Paulinho ter feito o 1-3.

O Sporting parece ter mau-olhado na Europa. No ano passado levámos 1-4 do Lask Linz; este ano o adversário é melhor e deu 5. Pois… só que desta vez não é bota fora e temos mais cinco jogos. O próximo é contra o Dortmund, na Alemanha. Dizem que o Dortmund é melhor que o Ajax, por isso podemos ganhar. Ao menos temos Coates e escusamos de entrar tão nervosos.

Há uma  anedota judaica que me parece boa para dias tristes. Ia Josué com um camelo e três moedas, pelo deserto, quando uma voz lhe diz: na próxima cidade joga tudo o que tens. Josué jogou e ganhou. Já com dois camelos e seis moedas, a mesma voz diz-lhe para jogar tudo. Ele joga e ganha. Bem imaginem que ele ouviu a voz tantas vezes que tinha uma cáfila de camelos e milhares de moedas, quando ouviu a mesma voz: joga tudo e ganhas. Ele jogou tudo e perdeu. Então, a voz disse-lhe: Josué, o que tiveste foi azar!

Pois, aqui também houve azar; mas também inexperiência, nervoso miudinho, e sei lá que mais. Agora, como diz a canção brasileira, «levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima».
 

A MURRO?  

VALE a pena recordar que no sábado passado o Sporting defrontou o Porto, também em Alvalade. Foi, do meu ponto de vista, um jogo relativamente bem jogado em que o Sporting foi perdulário, sobretudo por intermédio de Nuno Santos, que depois de um golo que exigiu bastante perícia, falhou dois que pareciam fáceis. Sublinho o pareciam, porque nem Nuno Santos é propriamente um ponta de lança, nem qualquer jogador tem a velocidade que o nosso extremo demonstra. Isso significa que é necessário correr muito e bem (ou ser do Ajax) para alguém chegar ao ponto de finalização que Nuno Santos chegou.

De resto, a arbitragem pecou por excesso, por defeito, por falta de apoio do VAR (e não sei se me escapa algo). Antes da arbitragem, e para ser justo, devo salientar que o golo portista de Luis Díaz foi uma obra de arte… e se tivemos azar com a inspiração daquele momento, aos 71 minutos de jogo! Na contabilidade final o Sporting teve cinco remates à baliza contra um (aquele) do Porto.

Voltando ao árbitro, que aos quatro minutos já tinha mostrado três amarelos (Bruno Costa, Vinagre e Marcano), pode dizer-se que se autocondicionou por essa entrada de leão, mas não a favor do Leão. Porque, seguindo o seu próprio critério, Marcano devia estar expulso pouco depois e Porro numa jogada da segunda parte.

Além disso, no critério de malha apertada, nem se entende como um uppercut de Pepe sobre Coates, na área portista,  não foi analisado. Um uppercut, para quem não está familiarizado com os termos do boxe, é um murro desferido de baixo para cima, no geral nos queixos do adversário. Bem sei que há várias justificações, sendo a menos má aquela que diz que o defesa do Sporting estava a puxar o braço de Pepe, e que este, ao tentar libertar-se, deu-lhe involuntariamente um murro.

Naturalmente, nunca fiz a experiência empírica com medo de magoar alguém. Mas imaginem-se agarrados no braço, por alguém que está atrás; quando se tentam libertar puxam o próprio braço para a frente e não com o punho cerrado na direção do queixo de quem agarra. Mas isto, sou eu a dizer, como o lance é «de interpretação» como agora se diz, pode haver outras teorias.

Com árbitro ou sem árbitro; com murro e penálti ou sem ele, o certo é que perdemos uma excelente oportunidade de derrotar o Porto. A boa notícia (nacional, claro) é que comparando os mesmos jogos com os da época passada (salvo o Vizela, que poderíamos substituir por um dos clubes que desceu) temos os mesmos pontos. Já o Porto tem menos dois (empatou com o Marítimo, quando o ano passado tinha ganho): o Benfica é que tem mais um carrada de pontos (venceu fora o Gil Vicente e tinha perdido; e ganhou nos Açores ao Santa Clara, quando tinha empatado). É muito cedo e há muito campeonato para jogar, mas não deixa de ser uma tendência que é necessário levar em conta. Sobretudo quando os da Luz vão quatro pontos à frente. E o Sporting joga no próximo domingo contra o surpreendente segundo classificado na Liga — o Estoril, na mesma jornada em que o Porto recebe o Moreirense e o Benfica o Boavista. Também não são jogos muito fáceis, porque isso tem vindo a desaparecer de ano para ano. O que a mim sobretudo importa é a qualidade do jogo que apresentamos (e tem sido boa) e a tradução dessa qualidade em resultados. E neste ponto há razões para não estarmos inteiramente satisfeitos.
 

Sporting regressou ontem à Liga dos Campeões e não teve noite feliz


PREJUÍZO 

NO ano em que o Sporting foi campeão, os prejuízos foram de monta na SAD, sobretudo porque agravam a dívida expressiva e obrigarão a mais um empréstimo obrigacionista. Naturalmente, o Covid-19 e os seus impactos no mundo do desporto não podiam deixar antever outros resultados económicos. Por isso, e ainda que uma parte de mim clame por mais uns jogadores, compreendo e sustento a parcimónia que a SAD tem em relação às contratações. No que me parece ser ajudada por Rúben Amorim, que sabe (ou tem quem saiba por ele) ir buscar por bom preço, ou por empréstimo, jogadores de grande talento.

A carreira que agora começou desastrosamente na Champions será muito importante também deste ponto de vista (além de ajudar a pagar as multas que as autoridades desportivas portuguesas impõem ao Sporting por coisa nenhuma, ou quase). Aliás,  os resultados de todas as equipas portuguesas envolvidas nas competições europeias são importantes para permitir mais presenças e mais receitas. A somar a isto, claro, o facto de assegurar um lugar na Champions do ano que vem é, igualmente, fundamental.

Pode entender-se que o plantel do Sporting é curto — sobretudo se comparado com a quantidade de jogadores que tem o Benfica. Pode ser, mas confio que os técnicos, com Rúben à cabeça, saibam gerir aqueles que temos, sendo que por vezes é mais fácil incutir um espírito vencedor — tão importante — numa equipa com menos jogadores do que em plantéis onde há nomes de que ninguém se lembra.

As prestações dos que substituíram os que pareciam insubstituíveis têm as suas falhas (ontem Vinagre foi disso exemplo), mas demonstram quererem estar à altura da vontade e combatividade deste Sporting. Este ano é importante para se ter a certeza que estamos de volta ao lugar que nos pertence na história do futebol português.

Sem desânimo… e jogo a jogo, como diz o treinador.
 

JOGAR FORA 

Benfica — Saiu vivo de Kiev, como dizem; o que parecia ser mau, passou a ser bom nos dois últimos minutos, como dizia este jornal. O certo é que conseguiu um ponto fora de casa, e qualquer ponto é importante pelos motivos já expostos.

FC Porto — Grande resultado em Madrid, também com um empate a zero e com um golo anulado a Taremi de forma que não percebi bem (mas tal como no de Paulinho, acredito que houvesse ali marosca).

SC Braga — Joga hoje, para a Liga Europa, com o Crevna Zvezda (em português Estrela Vermelha) de Belgrado, na Sérvia. Apesar de o jogo ser fora, espero que o Braga faça um bom resultado. Para vingar o meu Sporting, por mais que não seja.