É melhor avisarem o Pichardo…

OPINIÃO25.07.202206:30

Ganhar à portuguesa não é fazê-lo com uma perna às costas, e 40 centímetros de vantagem. Ganhar à portuguesa costuma envolver drama e sofrimento...

VITÓRIA DAS CORES UNIDAS DE PORTUGAL

Um salto e apuramento garantido; um salto e medalha de ouro ao pescoço. Quando se faz uma noitada para ver ao vivo, espera-se mais adrenalina. Pichardo rebentou com a escala. 

A LGUÉM avise o Pedro Pablo Pichardo que não é assim que os portugueses costumam ganhar coisas. Nós somos mais o golo de Éder, depois da lesão do Cristiano, o Lopes a ser atropelado em frente ao estádio da Luz dias antes de partir para os Jogos de Los Angeles, ou Évora a ganhar a Idowu, em Pequim, por cinco centímetros. Nós somos o País que viveu (e às vezes ainda vive…) sob o jugo da calculadora na hora dos apuramentos para as grandes competições internacionais, revemo-nos na saga dos Magriços, underdogs em 1966, somos os mesmos que se empolgaram com o sprint vitorioso (e quiçá inesperado) de Fernanda Ribeiro sobre a chinesa Wang Junxia no ouro olímpico de Atlanta, e ainda os que riram com o sorriso da menina da Foz, na maratona de Seul, e ajudaram, a fazer força por fora, Joaquim Agostinho a subir as montanhas de França no encalço de Merckx, Ocaña, Zoetmelk ou Van Impe…
O que Pichardo fez na madrugada de sábado para domingo, não se faz. Então fazemos uma noitada televisiva, prontos para sofrer, e o atleta do Benfica, que já tinha despachado a qualificação com uma perna às costas, arruma com tudo e com todos logo no primeiro salto, deixando o segundo a 40 centímetros? Nem uma unha roída, um sobressalto no coração, ou mesmo um impropério por qualquer coisa que corresse mal. Nada disso. Como se tivesse asas nos pés, Pedro Pablo Pichardo vestiu-se de Muhammad Ali, voou como uma borboleta (para o ouro) e picou (os rivais) como uma abelha, reforçando com o título mundial de 2022, a conquista olímpica de 2021, tornando irrelevante qualquer discussão sobre quem é o melhor do Mundo no triplo-salto.
Obrigado Pichardo, porta-estandarte (que recebeu das mãos de Francis Obikwelu) das cores unidas de Portugal, num clube a que pertencemos todos e onde constam, entre muitos outros, Deco, Pepe, Viktor Tchikoulaev, Vladimir Bolotskikh, Auriol Dongmo, Juan Severino, Cristian Spachuk, Mike Plowden, Carlos Andrade, Caíque Silva e Alan Cavalcanti.


BENFICA PRECISA DE UM BOM SPRINT FINAL

De amanhã a uma semana começa a luta pela Champions. E o estado de prontidão do plantel ainda não está conseguido. O que requer um esforço suplementar na reta da meta.

A oito dias do arranque oficial da época do Benfica, na Luz contra Midtjylland ou AEK Larnaca, os encarnados já mostram algum estado de prontidão - amanhã, na Eusébio Cup, haverá novas evidências - mas ainda vivem envolvidos em dúvidas indesejáveis. Essencialmente porque continua a falar-se, sem que alguém o desminta, em saídas potenciais de elementos que na época passada foram nucleares - Weigl e Vlachodimos - sem que se vejam avanços substantivos nas contratações que ainda faltam, nomeadamente para o ataque e para o meio-campo. Sendo absolutamente verdade que Roger Schmidt já teve o supremo mérito de fazer passar aos jogadores a sua mensagem quanto ao modelo de jogo, não é menos verdade que a exigência da pressão alta que leve à recuperação rápida da bola só pode ser atingida com um plantel capaz de promover rotações constantes, até nos 90 minutos de cada partida. Até agora, o que vimos foi um Benfica a dar, na melhor das hipóteses, apenas 45 minutos de jogo, a cada jogador, o que não terá réplica quando a bola começar a rolar a sério. Nessa altura, Schmidt vai dispor de 11+5 (e não de 26 como sucedeu frente ao Girona) e estes 5 suplentes utilizados devem estar à altura de quem substituírem.  
Poderão os encarnados estar a jogar com o fator da menor qualidade de Midtjylland/AEK Larnaca, convictos de que irão passar esta eliminatória, de uma forma ou de outra (pois é, mas o Krasnodar e o PAOK ainda estão frescos na memória portuguesa…), o que lhes daria mais tempo para a recomposição do plantel. Para já, o que a realidade mostra é que de amanhã a uma semana começa a demanda pela Champions, um dos grandes objetivos desportivos e financeiros da época, e o plantel ainda não está fechado. Embora concorde, como já escrevi em A BOLA 3D, que os responsáveis encarnados têm trabalhado muito e bem - as entradas parecem apropriadas e as saídas, em massa, requerem disponibilidade e tempo para serem feitas de forma criteriosa - o calendário mostra-nos ser necessário um sprint final que acautele e proteja a coerência do projeto de Roger Schmidt. 


CONCEIÇÃO APRESENTADO NO AJAX, CONCEIÇÃO REFORÇADO NO DRAGÃO

Num clube que depois do anúncio da candidatura de Villas-Boas em 2024 vive sobre um vulcão, Sérgio Conceição emergiu vencedor do braço de ferro que tentaram fazer com ele.

H Á uns meses, quando André Villas-Boas (AVB) agitou o portismo declarando-se candidato às eleições de 2024, o clube mudou, os fiéis de Pinto da Costa (PC) cerraram fileiras em torno do chefe, e passou a viver-se um clima de tensão e incerteza - potenciado por amostragens à opinião pública que revelam que os tempos do unanimismo pertencem aos livros de história - jamais visto no longo consulado do atual presidente. Ainda há poucos dias, o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, muitas vezes apontado como potencial sucessor de Pinto da Costa, sentiu necessidade de dizer que em 2024, entre PC e AVB, votaria sempre PC.
Neste contexto, Sérgio Conceição, que tem vindo a operar milagres com meios reduzidos, surge como garante do consenso possível, pelo que foi com grande estranheza que se viu um dos indefetíveis de Pinto da Costa, o líder da claque, vir a público atacar Sérgio a propósito da saída, para o Ajax, de Francisco Conceição. Porém, ao contrário do que sucedeu no caso de Villas-Boas, em que o próprio PC se aprestou a lembrar que AVB trocou a cadeira de sonho pelos milhões do Chelsea, desta feita Fernando Madureira, depois de uma entrada de leão foi forçado a uma saída de sendeiro, retratando-se - a culpa foi da cabeça quente - do feroz ataque que fez a Sérgio Conceição.  
Tudo isto resumido e baralhado, revela-nos um Sérgio Conceição ainda mais forte e consensual entre os adeptos do FC Porto, às portas de uma época em que o Sporting promete estar mais forte e o Benfica mudou de paradigma. Dragão-mor nos dias de hoje? Sérgio Conceição. 


PARIS, CAPITAL DA DINAMARCA, NA CONSAGRAÇÃO DE VINGEGAARD

Quantos dinamarqueses ficaram ontem em Copenhaga? Poucos, por certo, pela quantidade de vikings vistos nos Campos Elísios…

O Tour de 2022 decorreu sob o signo da Dinamarca, onde se disputaram as três primeiras etapas em clima de euforia, como que adivinhando a apoteose viking que estava guardada, três semanas depois, para os Campos Elísios, na coroação de Vingegaard como vencedor material, formal e moral da maior competição velocipédica do Mundo. Quantos dinamarqueses estiveram ontem em Paris, na celebração do compatriota que deu lições de ciclismo e fair play? Eram tantos, de se lhes perder a conta, e tão entusiasmados e orgulhosos, que nos fazem concluir pela vocação global do Tour, que há muito transcendeu as fronteiras do Hexágono.
O espetáculo que percorreu as estradas de França em 21 etapas confirmou que há um novo ciclismo, feito de ataque e ousadia, que potencia o espetáculo e seduz os adeptos, com heróis como Vingegaard ou Pogaçar, a que se juntam outros jovens turcos, onde está incluído o português João Almeida, que são garantes da modalidade para os próximos anos.
O espetáculo vai prosseguir, dentro de 26 dias, na Vuelta, onde estarão as estrelas mais cintilantes e poderemos assistir a alguns acertos de conta entre os maiorais do pelotão internacional, com o aliciante do regressos de João Almeida, a quem a Covid-19 terá custado um lugar no pódio do Giro…
Infelizmente, Portugal - que continua a produzir ciclistas de muito bom nível - perdeu a roda deste pelotão que se mostra por quase toda a Europa, e descolou, quiçá irremediavelmente, da ideia de voltar a acolher uma grande Volta. Aliás, as mais recentes declarações de Joaquim Gomes foram pura e simplesmente penosas, só compreensíveis à luz de dificuldades que toldam a razão e dão primazia ao salve-se quem puder.