E Jesus reaparece em Curitiba

OPINIÃO10.07.201901:52

Jorge Jesus, que cumpre hoje em Curitiba o seu primeiro jogo oficial com o Flamengo para a Copa do Brasil, é o único treinador europeu nas cinco principais ligas sul-americanas, se considerarmos que Juan Antonio Pizzi, treinador do San Lorenzo de Almagro é um argentino naturalizado espanhol; e apenas um dos três europeus em atividade no conjunto das dez ligas sul-americanas. Representante de uma das melhores escolas de treino do Mundo - a portuguesa - Jesus regressa ao ativo quatro dias depois de Seu Adenor Leonardo Bacchi, vulgo Tite, ter levado a seleção brasileira à conquista da Copa América com um futebol baseado nos melhores princípios europeus e interpretado por jogadores titulares em algumas das maiores equipas europeias. O gaúcho Tite, de 58 anos é, aliás, um verdadeiro oásis no panorama atual dos treinadores brasileiros, cuja reputação além-fronteiras nunca foi tão pálida. Não há técnicos brasileiros em nenhuma grande ou média equipa europeia e mesmo no habitat sul-americano a sua presença é absolutamente irrelevante: por incrível que pareça, só há um (!) treinador brasileiro a dirigir uma equipa primo divisionária fora do Brasileirão: trata-se de Evandro Guimarães, que lidera o boliviano Destroyers de Santa Cruz. Por contraposição, há 34 treinadores argentinos e 13 uruguaios a trabalharem fora dos seus campeonatos de origem (e há nove).


A BOLA TV e este jornal têm feito eco do impacto de Jesus, um «cara expansivo e altamente focado» (como lhe chamou um jornal do Rio) na imensa massa adepta do Flamengo - e na própria imprensa carioca. Fosse pela metodologia de treino, pelas declarações dos próprios jogadores, pelo discurso positivo e ambicioso desde o primeiro dia, a verdade é que o primeiro mês de Jorge Jesus criou grandes expectativas na nação rubro-negra. Como disse Tita, um dos heróis da conquista da Libertadores de 1981, à nossa colega Irene Palma no Rio de Janeiro, «andamos na rua e sentimos que todos estão felizes com o trabalho de Jesus, com essa maneira de ser (…) com a exigência aos jogadores». O estado de graça começa a ser posto à prova mais logo em Curitiba, na Arena da Baixada (42,372 lugares), perante  o Athlético Paranaense, 12.º classificado do Brasileirão, em jogo da 1.ª mão dos quartos-de-final da Copa do Brasil (a 2.ª mão é no dia 18, no Rio). Uma competição onde o Flamengo, note-se, tem dado cartas nos últimos anos: foi semifinalista no ano passado (batido pelo Corinthians), finalista vencido há dois anos (pelo Cruzeiro, ao fim de dois empates, 1-1 e 0-0 - valeu-lhe o golo fora…) e vencedor em 2013, precisamente à custa do adversário de hoje. Jayme de Almeida era o treinador e o ex-sportinguista Elias marcou o golo decisivo. É o exemplo de Jayme que interessa a Jesus.


Jorge Jesus rescindiu contrato com os sauditas do Al Hilal a 31 janeiro num processo algo estranho que pôs ponto final à primeira aventura do  mestre da tática no estrangeiro. Independentemente do que correu mal nos gabinetes (porque no relvado, nada a dizer), a verdade é que o Flamengo representa um desafio muito maior e certamente muito mais aliciante para o treinador que mais títulos ganhou em Portugal. Num país tradicionalmente avesso a treinadores estrangeiros - além de Jesus, só há o argentino Jorge Sampaoli (Santos) na Série A - e que, na realidade, só apresenta um treinador (Tite) ao nível do que melhor se vê na Europa - teria muita graça ver um ‘Manel’ de Portugal impor-se num clube com mais de 40 milhões de adeptos - um quinto da população brasileira.