E depois de Rúben Amorim?

OPINIÃO14.12.202106:00

O seu trabalho foi bemfeito e se quiser experimentar outros futebóis ninguém pode criticá-lo, pelo contrário. A SAD leonina estará atenta à sucessão

NA sequência do interesse do RB Leipzig na sua contratação, Rúben Amorim deu a conhecer que só pensa no Sporting até ao final da presente temporada e que recusará qualquer proposta que lhe seja feita. Tranquiliza a família leonina, mas no próximo defeso irá ouvir o que o seu representante terá para lhe dizer e se as notícias forem boas, então sim, admitirá optar por um novo rumo na sua vida profissional.
Sentimento compreensível, surpreendendo, porém, a sinceridade com que aborda questões sensíveis   como esta, regra geral recusadas até ao limite do tolerável e que ele antecipa, numa manifestação de coragem, sim, mas também de respeito pelo universo leonino, o qual  gostaria de prolongar por tempos infindos os momentos felizes que o seu treinador lhe proporciona.
Amorim integra uma nova geração de treinadores que vê o futebol de uma forma diferente e dá especial relevância ao espírito de família, assumindo-se apenas como mais um de entre os que contribuem para o sucesso final. Não se põe em bicos de pés, muito menos reclama os méritos pelo que corre bem e transfere para terceiros a responsabilidade pelo que corre mal.
Recolocou o Sporting no caminho dos títulos. Tirou-o do marasmo em que caiu e ao fim de dezanove anos fez dele campeão nacional, devolveu-lhe a confiança e, sobretudo, ampliou-lhe os horizontes competitivos, como o acesso aos oitavos de final da Liga dos Campeões irrecusavelmente testemunha.

Oleão despertou de uma prolongada descrença  em que aceitou quase  como uma inevitabilidade a supremacia de águia e dragão. Com a chegada  de Rúben Amorim tudo mudou, embora o treinador recuse os louros e os enderece à instituição Sporting. «O projeto é do clube, esta ideia já estava implementada, tudo isto estava pensado pela estrutura, não fui eu», afirmou, revelando uma grandeza moral rara de enxergar na  mesquinhez que caracteriza o futebol da lusa paróquia.
Rúben Amorim devolveu o orgulho de ser leão a todos os sócios e adeptos, aliviou divisões internas e foi tirando sentido aos opositores de Frederico Varandas, tal como exerciam a sua oposição, mais para incomodar do que por qualquer razão pertinente a sustentá-la. Tem sido um gerador de reconciliações, através de vitórias no campo e da palavra motivadora e sensata na sua comunicação simples, eficaz e honesta. Diz o que tem a dizer, recusando o papel de vendedor de banha da cobra, que  muitos outros  gostam de assumir quando impingem produto mau por bom, nomeadamente com análises a jogos que só eles viram. Rúben não faz parte dessa equipa, vê os mesmos jogos que todos vimos.
Os adeptos do Sporting têm de se preparar para a iminência de separação no final da época. Rúben teve essa elevação. Não se passa nada, por enquanto, mas, no futuro próximo, tanto pode ir para um clube de top, em Inglaterra ou Itália, ou voltar ao SC Braga ou até ao Casa Pia. Um exagero engraçado por si sugerido e que traduz a vida de um treinador de futebol, na dependência dos resultados e das oportunidades, sim, mas, essencialmente, da competência individual. 

AMORIM é o mais jovem nas gerações herdeiras de Mourinho, mais cultas, mais sabedoras e também mais ambiciosas e atrevidas, sabendo que a profissão de treinador é demasiado aliciante, exigente e perversa, tendo de se viver o dia de hoje sem confiar no de amanhã.    
Carlos Carvalhal, Paulo Sérgio e Paulo Sousa, na casa dos  50, mais André Villas-Boas, Sérgio Conceição, Abel Ferreira, Leonardo Jardim, Nuno Espírito Santo, Paulo Fonseca, Bruno Lage, Abel Ferreira e Marco Silva, na casa do 40, entre outros que não me ocorrem, pelo que me penitencio, são casos interessantes da ideia que pretendo passar. A alternativa será esperar vinte anos ou mais se for preciso, na esperança de um proposta salvadora, umas vezes por obra do  acaso, outras por influência amiga. Porque ao fim de tanto tempo de espera em carreira tão intensa e acelerada não vejo como possa ser de modo diferente.
Como treinador principal, José Mourinho foi convidado pelo Benfica em 2000 para substituir Jupp Heynckes (dois treinadores campeões europeus), mas, na altura, quem avaliou as suas qualidades ou  sabia zero de futebol ou foi extremamente negligente.  Quatro anos depois, quando partiu para a Premier League, já tinha no currículo uma Taça UEFA e uma Liga dos Campeões ao serviço do FC Porto.  
Rúben Amorim talvez não queira fazer o seu percurso em ritmo tão acelerado, mas sabe que o caminho é o mesmo. Por isso, alertou, no próximo defeso poderá haver novidades. Abriu os caboucos e  iniciou a construção de novo edifício futebolístico no leão. O seu trabalho foi bem feito, continua a ser, e se quiser experimentar outros futebóis ninguém pode criticá-lo, pelo contrário. A administração estará atenta à sucessão. A confirmar-se ou não a saída, garantidamente, o tema irá agitar o próximo verão.