E a Seleção diz: ‘abençoada lei Bosman’
São os dirigentes que há muitas décadas, para se manterem no poder, tornam adversários em inimigos, os culpados da fanatização dos adeptos
DURANTE décadas, a clubite foi o principal inimigo da Seleção Nacional. Cada vez que saía uma convocatória, protestos inflamados brotavam, à vez e conforme as circunstâncias, dos principais clubes, tornando a vida de quem tinha por obrigação fazer escolhas, simplesmente insuportável. E nem mesmo os pódios de 1966 e 1984 foram exceção...
Felizmente, para a Seleção Nacional, o ano de 1995 trouxe o acórdão Bosman e com ele abriram-se as portas do estrangeiro aos maiores talentos do nosso futebol, aqueles que habitualmente eram chamados para jogar de quinas ao peito. Nas convocatórias, os jogadores dos clubes nacionais passaram a ser residuais, e normalmente longe da titularidade, e com isso foi possível saltar para um patamar de maior consenso em torno daquela que deve ser a equipa de todos nós. O sucesso de Portugal no século XXI, onde obteve, além dos títulos no Europeu e na Liga das Nações, três pódios em Campeonatos da Europa e esteve numas meias-finais de um Mundial, ilustra não só o bem que fez à Seleção que os seus principais valores evoluíssem em campeonatos bem mais competitivos que o nosso, mas também o desinsuflamento da clubite que durante tantos anos minou os alicerces da Seleção.
Porém, embora essa doença tenha sido atenuada substancialmente pelos fatores descritos, o vírus não morreu, e cada vez que pode, vem à superfície e manifesta-se, como aconteceu, e a todos por razões diversas, no Dragão com Félix, em Alvalade com João Mário, ou na Luz, com Otávio.
Por mais razões que sejam apresentadas para estes factos, essas serão sempre razões menores perante a magnitude de uma representação nacional, que só faz sentido se for vista sob o prisma da unidade. Porém - e será redutor falar em nomes, bastando enunciar os princípios subjacentes -, é imperioso que os jogadores que por cá continuam deixem de insultar os adeptos dos clubes rivais, e que os seus próprios clubes não se demitam da obrigação de censurar publicamente esses comportamentos.
Se queremos um futebol melhor, há que erradicar a cultura de ódio fomentada por uma camada de dirigentes que só são capazes de encontrar argumentos de afirmação própria na criação de inimigos externos. Enquanto não desaparecer essa irracionalidade, vinda de cima, nada mudará.
ÁS – BRUNO FERNANDES
Dois golos à Bósnia, só por si, justificariam esta distinção. Porém, o que mais impressionou foi a desinibição do capitão do Manchester United, que parece um peixe dentro de água, no aquário tático montado por Roberto Martinez. Muito provavelmente, em termos de Seleção, o melhor de Bruno Fernandes está para vir...
ÁS – RUI COSTA
Passou pela AG do Benfica com grande tranquilidade, graças às prioridades que está a implementar na Luz. Ontem, as águias conquistaram os títulos de hóquei em patins e futebol (iniciados). Os clubes não foram fundados para outra coisa que não fosse para, mantendo contas certas, tentar ganhar, ganhar e ganhar.
ÁS – JOSÉ PESEIRO
O treinador de Coruche, que tem lugar cativo na primira linha da ordem de mérito nacional, acaba de qualificar a Nigéria para a fase final do CAN. Embora por cá, demasiadas vezes, valha mais a pena cair em graça do que ser engraçado, a verdade é que a carreira de José Peseiro, sólida e séria, é de se lhe tirar o chapéu...