É a Marte assim, perdidamente
Para início de conversa (e não sou o autor). Perguntaram a Neil Armstrong qual a viagem que faria, depois de ter ido à Lua e após ter terminado o confinamento. O norte-americano respondeu: «É a Marte assim, perdidamente.»
Entre ir a Marte (Marte, Nuno Reis, Marte!) ou ler Florbela Espanca, preferi aderir à moda dos desafios. Durante o confinamento apareceram os mais diversos. Os 10 álbuns de que mais gosto. Os 10 livros. Os 10 jogos. Fico-me por 10 futebolistas que me marcaram. Não necessariamente os de que mais gosto. Ei-los pela ordem que surgiram nos neurónios que me restam. 1. Oliveira, mais tarde António Oliveira. O génio malandro. Lembro-me de o ver a treinar sempre atrás de todos, como se tivesse os pés repletos de calos, quando afinal se limitava a suar o mínimo possível para jogar o melhor possível. E como jogava, meu Deus; 2. Yazalde, mais tarde Chirola. Índio com cara de bebé e pés de matador. O craque dos 46 golos que se apaixonou por Maria do Carmo Ressurreição de Deus; 3. Seninho, o Seninho de Manchester. A seta que ajudou o FC Porto no fim do jejum de 19 anos. A seta que, a 2 de novembro de 1977, marcou os dois golos que eliminaram o United. A seta que jogou no Cosmos de Pelé e Beckenbauer; 4. Nelinho, o Nelinho do Bessa que, a 10 de janeiro de 1976, ganhou sem quase jogar. Cumpriu as ordens de Mário Wilson como soldado norte-coreano e não deixou Alves jogar. O Benfica ganhou ao Boavista por 4-1 e saltou para a liderança; 5. Jordão, primeiro o Jordão do Benfica, depois o Jordão do Sporting, mais tarde o Jordão da Seleção, a enguia negra. Craque em cada centímetro de pele, osso e músculo. Lembro-me dele a marcar ao Sporting e a festejar que nem louco, a marcar ao Benfica e a festejar que nem louco, a marcar à França e a festejar que nem louco; 6. Benje, Pedro Benje, o negro guarda-redes. Tinha 35 anos quando o vi jogar pela primeira vez, mas parecia ter 135. Arrastava os pés como se tudo lhe doesse e depois como um felino (gato, tigre ou leão) defendia tudo; 7. Chalana, o Fernando Albino de Sousa Chalana, o craque imenso que vi jogar pela primeira vez a 30 de janeiro de 1977. Nunca antes vira alguém fintar apenas com uma piscadela de olhos ou com subtil ginga de anca. Quando vi, não mais esqueci; 8. Mário Ventura, o Mário Ventura do V. Setúbal. Cabelo longuíssimo a fintar de forma belíssima; 9. Albano, o Albano dos Cinco Violinos. Nunca o vi jogar. Mas o meu pai contou-me que, um dia, fintou um adversário passando-lhe por baixo das pernas. É o que basta para estar no meu top-ten; 10. Éder, Ederzito António Macedo Lopes, julho de 2016. É a Marvos assim, perdidamente. A todos.