Duas temporadas!...
Está a terminar a época desportiva de 2018/2019. Há um ano a época de 2017/2018 estava prestes a terminar com acontecimentos inesperados que não devem ser esquecidos, mas que não gosto de recordar.
Mas, é tempo de balanço do que temos hoje e do que havia então. Os actores que há um ano estavam no palco não eram os mesmos de hoje. Uma coisa é comum: ninguém os prendeu para irem para lá. E os que os colocaram no palco são os mesmos que os retiraram para colocar os que lá estão hoje.
Não é fácil estar no palco, e há sempre gente que não sabe estar. Muitas vezes a vaidade de figurar e as palmadinhas dos amigos podem mais que o bom senso necessário para se saber estar. A altura provoca os deslumbramentos que desfocam a verdade, a ambição descontrola a razão e a arrogância resvala para a tirania. Outras vezes, por se estar no alto, o petulante torna - se pouco inteligente, o sovina bastante generoso e o prudente torna-se atrevido.
Os que estão no palco do poder, politico, económico ou simplesmente associativo não se devem esquecer de algumas máximas ou princípios que a experiência aconselha.
Uma delas é não esquecer os degraus por onde subiram ao palco e os compromissos que tomaram, as ideias que difundiram e defenderam, as reclamações que fizeram, os legalismos que criticaram, os desmentidos que proferiram, os arbítrios que apontaram. Exige-se que uma vez em cima do palco sustentem os ideais que defenderam em baixo, conquistando o respeito dos que aí estão pela coerência.
Uma segunda regra é terem a consciência na observância dos princípios, na escolha dos processos e procedimentos e dos outros actores que com eles pisam o palco. Não vale a pena mascarar interesses, usar expedientes, torcer propósitos. Convém antes estar atento às manobras das camarilhas, dispensar louvores e subserviências, afastar os incompetentes e os trafulhas.
Um terceiro principio é o conhecimento do meio onde se está, falar simples e com verdade àqueles que o escutam, com a consciência que também são de carne e osso. Importa considerar que todas as vaidades e todas as ambições têm o mesmo fim, e tudo se confunde no cemitério, onde, como diz Hamlet, não há diferença entre a caveira de um sábio e a caveira de um rústico.
O último acto do drama representado no final da época de 2017/2018 é algo que não agradou à plateia, antes envergonhou e indignou quem a ela teve de assistir. A pateada pôs termo à representação desses actores. E foi sobre um palco estilhaçado que a representação continuou sem um cenário definitivo.
Seis actores se candidataram ao papel principal, a protagonista de nova peça. Fui um deles, mas não tive a honra de subir ao palco. Fiquei na plateia, isto é, de fora, o que é seguramente mais cómodo e fácil, isto é, estar de fora, com o animo fresco e corpo regalado, apontando os defeitos, as misérias, os erros e tudo o mais que nos venha a cabeça quando falamos dos que estão no palco.
Estou de fora pois daquele palco, para o qual terminou o meu tempo. Para outros palcos o meu tempo não terminou, porque continua a haver papeis para os mais velhos e experientes.
Contudo, tenho mantido algum recato na crítica, porque despeito ou inveja são sentimentos que não cultivo, nem nunca cultivei, e não tenciono cultivar. E como não gosto disso, também procuro não me pôr a jeito.
É sabido por uns, e percebido, por outros, que não tenho grande simpatia pelos actores actuais, porque muito falaram da união, mas nada fizeram por ela. Bem pelo contrário!...
Quero antes falar daquilo que me merece elogio, e elogio franco e sincero, não o elogio venenoso, porque aquilo que tenho a dizer, de bem ou de mal, digo-o frontalmente e sem rodeios. E, embora não concorde com muita coisa, não quero falar disso, porque acho muito cedo para julgamentos, sobretudo, quando ainda temos na mente uma situação que, quer se queira quer não, se não os absolve em tudo, é pelo menos uma forte atenuante.
De qualquer forma, o futebol, como razão ou sem razão, é que é sempre o foco de qualquer julgamento. Se se ganha está tudo bem; se se perde está tudo mal. É injusto, mas é assim.
Se o Sporting, no futebol, ou até em outra qualquer modalidade, não tivesse ganho nada, nesta altura da época desportiva, estava justificado. Os actores por melhor que façam o seu papel, não fazem milagres. E era necessário mesmo um milagre para que um trauma de vários anos, aumentado por uma catástrofe sem precedentes, nos levasse ao sucesso.
Pois o milagre não aconteceu, mas podia ter acontecido, e o que se conseguiu não foi um milagre, mas andou lá perto.
Como se sabe, não concordei com a substituição do treinador, no momento em que foi feita, porque sempre entendi que essa substituição não seria do interesse do Sporting, embora compreendesse o desejo do actor principal contracenar com pessoas da sua confiança. O Sporting estava bem classificado, mas nunca poderemos sabia o que teria acontecido se tivesse continuado José Peseiro. Ninguém o pode dizer com seriedade e honestidade, e o contrário também não, e foi isso que os actores arriscaram e, como espectador tenho de os aplaudir.
O actor contratado também foi uma incógnita para mim, porque não o conhecia, pese embora o meu gosto pelos actores holandeses nesse papel.
Olhando objectivamente para a peça ou peças produzidas, em termos de futebol, só tenho mesmo que me por de pé para aplaudir a peça ou peças montadas. Num cenário de horror, conseguimos conquistar a Taça da Liga, passar a fase de grupos da Liga Europa, chegar à final da Taça e ao terceiro lugar no campeonato. Não exigia tanto, por mais que me custasse sentir que não podia exigir o que se verificou. Só espero que, mudado o cenário, não haja muita mudança de actores, isto é, que o teatro se mantenha em cena e não seja substituída por uma qualquer novela mexicana!...
Quanto às peças amadoras, ou ditas amadoras, servidas por profissionais, então aí o sucesso foi estrondoso, porque tem repercussões internacionais. E aqui sei que me vão criticar por aquilo que vou dizer, mas ficaria mal com a minha consciência se o não fizesse. Sei as vantagens do politicamente correcto, mas não abdico de procurar ser justo nas minhas apreciações. Refiro-me, como é óbvio, aos actores que antes estiveram no palco e que também tiveram sucesso na sua interpretação do que significa o ecletismo que está na massa do nosso sangue.
E volto sempre ao mesmo, que é a continuidade e estabilidade na politica das modalidades com os resultados que se conhecem, ao contrário da politica de futebol, aos ziguezagues e repelões com os resultados que também se conhecem. Na politica e nos actores.
Falei antes no futsal, e agora falo do hóquei, modalidade de que sempre gostei de garoto e pratiquei ... sem patins, porque nunca consegui aprender a patinar! Como me lembro da maior equipe de todos os tempos, que me arrastou a galvanizou tantas e tantas vezes. Aquilo não era teatro, era um ballet sobre patins. Que saudades do meu querido Amigo João Sobrinho (companheiro de tropa) e do António Livramento! Os outros ainda estão vivos felizmente, como o Xana, o António Ramalhete e o Júlio Rendeiro, este um dos mais brilhantes dirigentes com quem tive o privilégio de contracenar e que tenho pena nunca tenha colocado nos seus objectivos ser Presidente do Sporting! Daria um grande Presidente!
Mas falando deste triunfo a que não tive possibilidade de assistir ao vivo, tenho que confessar que subi para cima da minha cadeira na plateia para aplaudir alguém que foi, para mim, o principal actor deste revival do hóquei em patins, sem esquecer o papel do Engenheiro Aguiar de Matos no regresso desta modalidade - Gilberto Borges, por quem tenho uma enorme estima e consideração. Não está no palco, sob as luzes da ribalta, mas nos bastidores do trabalho persistente do dia a dia, com dedicação, esforço e devoção e daí só pode vir a glória.
Disse-lhe por mensagem de telemóvel, o que agora lhe quero aqui deixar com as mãos a ferver de tanto o aplaudir, do meu lugar da plateia para o lugar a que tens direito no palco dos grandes actores: tenho orgulho em ser teu companheiro no Grupo Stromp, mas sobretudo teu Amigo. Mereces o título europeu! Grande abraço e viva o Sporting Clube de Portugal. A temporada está a acabar. Por muito que alguns não queiram, e façam por isso, como no teatro, o pano do Estádio José de Alvalade e do Pavilhão João Rocha, em Portugal, como em outros teatros na Europa, continuará a subir e a descer, para os actores leoninos virem a boca de cena agradecer os aplausos.