Duas finais
1 - Esta Liga vai ser disputada até ao último minuto. Não há nem vencedores antecipados nem há, com a exceção do Feirense, inequívocos despromovidos. Como se percebeu ontem num Estádio da Luz com lotação plena - e que tremeu no momento do golo do Portimonense mas que soube reagir de imediato com um fervor que nunca quebra - e que evidenciou que o Benfica, este Benfica, sabe sofrer e que, também graças à inspiração dos seus valores individuais - com destaque para Rafa - sabe saborear vitórias difíceis. Sim, ontem o Benfica ganhou pelo talento das suas individualidades e pelo cimento, que se sente forte e sólido, do coletivo. Ontem foi o André Almeida, as suas assistências e também as suas lágrimas. Ontem foi Bruno Lage, a sua serenidade, e também a entrada de Fejsa como sinal claro que faz parte da equipa e é querido por todos. Ontem foi a alegria, saltitante e bem contagiante, de Jonas logo que marcou o quinto golo do Benfica. Ou seja, logo que voltou aos golos. Ontem, foi ainda o regresso aos golos de Seferovic o que confirma o seu faro de golo e o seu instinto de matador. Mas ontem, sejamos sinceros, também se sentiu ansiedade em alguns momentos do jogo, talvez em resultado dessa combinação complexa entre juventude e responsabilidade que enche o rico e unido plantel do Benfica. E ontem também foi a confirmação que o Portimonense tem grandes valores - sem esquecermos o ausente Jackson Martínez - e que Artur Soares Dias é um árbitro reconhecido e competente e que vai representar, e decerto bem, a arbitragem portuguesa no Mundial sub-20 que, com a participação da nossa Seleção, se vai disputar proximamente na Polónia. E ontem foi igualmente para grande alegria nossa a primeira vez que o Jorge Frederico, levado pelo Zé da Pedra Dura - que massinhas serves, meu! - foi, aos 35 anos, pela primeira vez ao Estádio e vibrou, e muito, com o seu Benfica. Ele que, na sua específica e singular essência de vida, é de uma simplicidade tocante e de uma simpatia que emociona. No final do jogo sorria e repetia o resultado. Tinha concretizado um sonho, envergando a camisola do seu Benfica!. Tinha cumprimentado o homem da águia e tinha visto o seu voo. E nós percebemos que a alegria do Jorge era a alegria do Jonas, a emoção do Jorge era a emoção do André Almeida, que a crença do Jorge era a crença do Rafa, que o sorriso do Jorge era o sorriso do João Félix, que a fé do Jorge era, também, entre todos, a fé do Florentino, do Pizzi e do Samaris. E esta comunhão, feita de encontros inesperados, percorre as bancadas e chega, em sons fortes e imagens únicas, aos milhões de benfiquistas que acreditam, hoje mais do que ontem, que a reconquista é possível. E que restam duas finais. Restam, no total, cerca de cento e noventa minutos. Mas sabendo, até pela experiência de ontem, que não há vitórias antecipadas. Há, sim, e no final, conquistas que se merecem. E no próximo domingo será uma outra final em Vila do Conde frente a um Rio Ave em grande momento de forma! Com a alegria do Jorge Frederico Coco!
2 - O futebol e o homem português são referência neste fim de semana na Inglaterra. Hoje em Reading, em homenagem ao treinador José Gomes, os adeptos do clube que «salvou da descida de divisão» vão levar uma camisola da seleção portuguesa vestida. É um bonito sinal de agradecimento. O treinador José Gomes chegou ao Reading a meio de dezembro passado, e o clube, que estava quase que condenado à descida de divisão, mantém-se na segunda liga britânica, uma das mais competitivas do mundo do futebol. Bonito gesto das gentes de Reading! Como foi bonita a homenagem que a Universidade de Wolverhampton conferiu a Nuno Espírito Santo. Concedeu-lhe, em razão dos êxitos desportivos alcançados - reforçados com os três pontos de ontem - o título honorário de Doutor em desporto. Percebemos bem que a Academia se casa coma cidade e com os símbolos da cidade. Um deles é o clube que chegou há um ano, com a liderança de Nuno Espírito Santo à principal liga inglesa - e a mais vista do planeta! - e que este ano conseguiu a melhor classificação de sempre. A Universidade faz o reconhecimento que, jogo a jogo, os adeptos sublinham e aplaudem. E este duplo reconhecimento em Inglaterra tem de ser motivo de orgulho para todos nós. É um pouco de nós que é reconhecido. E o futebol é, mesmo, nos seus fantásticos exemplos - onde está, esta semana, também o Pedro Emanuel com a conquista da Taça do rei na Arábia Saudita - um dos grandes embaixadores de Portugal.
3 - Uma nota final para Iker Casillas. O mundo do futebol mostrou que sabe distinguir os jogos nos relvados - e até alguns fora deles - como jogo da vida. Sabemos todos que cada um de nós é um ser que se não repete. Sabemos admirar o imenso guarda-redes que, há quatro anos, enche a baliza do Futebol Clube do Porto. E sabemos bem que a sua presença entre nós - em particular na cidade do Porto - ajuda a promover mais um destino de eleição. O Presidente Rui Moreira sabe-o bem. Mas nós, simples mortais, recorremos ao nosso extraordinário Padre António Vieira e dizemos: «Todos imos embarcados na mesma nau, que é a vida, e todos navegamos com o mesmo vento, que é o tempo.» E esta vitória imensa de Casillas neste jogo da vida é um verdadeiro momento de uma comum e fraterna alegria.
4 - Com subida do Famalicão - que se saúda na pessoa do Miguel Ribeiro! - o Minho terá cinco representantes na próxima edição da Liga NOS. Do Mondego para baixo a redução de presenças desce época a época. Talvez seja hora para meditar acerca desta realidade real! E, também, da litoralização do nosso futebol de topo! E estas reflexões são bem urgentes e exigem conhecimento e vontade, convicção e comunhão, partilha e solidariedade. Sim, solidariedade. Que cada vez se sente menos e que escassamente se partilha!