Dois falcões e dois argelinos
O primeiro Falcão de que me recordo chamava-se Paulo Roberto. E lembro-me como se fosse hoje daquele 5 de julho de 1982. Estava um calor tórrido em Barcelona e faltavam pouco mais de 20 minutos para o final do Brasil-Itália quando Paulo Roberto recebeu a bola ligeiramente sobre a direita da área italiana. Fingiu que abria na direita para a entrada de Júnior, rodou sobre si próprio e, de pé esquerdo, fez o 2-2. E a imagem eternizou-se: o 15 do Brasil a correr, de boca bem aberta e cabelo louro encaracoladíssimo, a gritar golo. A seu lado, parecia que estavam 200 milhões de brasileiros a gritar o mesmo golo. O Brasil perderia por 2-3 e a Itália sagrar-se-ia, dois jogos mais tarde, campeã do Mundo. Mas a imagem do senhor Paulo Roberto Falcão a marcar de pé esquerdo e depois a gritar o seu fantástico golo ficou na mente de todos os que viram o jogo do Sarriá.
O último Falcão de que me lembro nasceu quase 12 anos depois do golo do primeiro Falcão. Brasileiro como Paulo Roberto, Cláudio também é médio. Em Aveiro, aproveitando muito bem um pequeno desvio na bola do árbitro Luís Godinho, Cláudio Falcão fez o primeiro golo da temporada portuguesa: um golaço, aliás.
O primeiro argelino de que me lembro chamava-se Rabah. Quase cinco anos depois de Paulo Roberto Falcão ter marcado, em Barcelona, golaço do outro mundo, o senhor Rabah Madjer marcaria outro fantástico. Também me recordo como se fosse hoje daquela noite Viena de 27 de maio de 1987. Frasco entrou pela direita, abriu em Juary e este colocou a bola, redondinha, à frente de Madjer. Bom, atrás do 8 do FC Porto. E ele, insolente, deu-lhe de calcanhar. Depois foi festejar, caindo no relvado como um tordo e Sousa e Futre, também tordos, caíram em cima dele. O FC Porto venceria a Taça dos Campeões de 1987 e a imagem de Madjer a marcar de calcanhar e cair depois, redondinho, está eternizada no cérebro de todos os que gostam de futebol.
O último argelino de que me lembro nasceu quase três anos depois dessa vitória portista. Chama-se Yacine Brahimi e marcou ontem, em Aveiro, grande golo. Pegando na bola sobre a direita, progrediu com ela durante alguns metros, tabelou com Aboubakar e depois, quando Beunardeau saiu da baliza para evitar o golo, Brahimi fez golaço. Tal como Rabah há 31 anos, Yacine acabaria o jogo lesionado. E seria de fora que veria mais dois belos golos. O de Maxi Pereira quase da linha de fundo e o de Corona bem de fora da área. A época começa bem.