Doha a quem doer

OPINIÃO16.11.202205:30

Amanhã devemos fazer ‘zapping’ entre o jogo da Seleção e a parte II da entrevista de CR7?

SE Ronaldo lança uma bomba (e não vou aqui discutir se tem ou não razão em tudo ou em alguns aspetos, até porque, convenhamos, nunca saberemos ao certo...), ela vai persegui-lo onde quer que vá, neste caso para o seio da Seleção em vésperas da estreia no Mundial. Doha a quem doer.

Ronaldo defendeu os seus interesses, ajustou contas com quem entendeu que tinha de ajustar, automotivou-se e colocou-se no mercado antes de subir para a grande montra, reduzindo a Seleção a um mero pormenor nesta história. Doha a quem doer.

Diz que agora só quer poder concentrar-se no Mundial, mas a Seleção gostava de poder dizer o mesmo. O insólito chega ao ponto de, amanhã, enquanto Portugal defrontar a Nigéria em jogo de preparação, estar a dar em direto a segunda parte da entrevista a Piers Morgan. Os portugueses devem fazer zapping e optar por ver Ronaldo a partir a loiça em campo ou fora dele? O capitão arrastou Portugal para a arena das suas guerras pessoais. Foi tudo pensado ao pormenor do ponto de vista do jogador, mas nunca da Seleção. Pode correr bem? Pode, e oxalá que sim, mas, já se percebeu, tem tudo para correr mal. Doha a quem doer.

Ronaldo pode até ser mais bonito do que Rooney, como reclama (estranho argumento este), mas parece ser cada vez mais um homem amargurado que não aceita deixar de estar em primeiro plano. E se não estiver lá pelo que joga e marca, então, parece, será pelo que faz e diz. Doha a quem doer.

Há aquela história que se conta da senhora que entrou no autocarro cheio e, ficando de pé, disse bem alto para um senhor ouvir: «Já não há cavalheiros.» Ao que ouviu de volta: «Cavalheiros há, lugares é que não.» Quanto a Ronaldo, compreensão há, paciência é que não. Doha a quem doer.

Entretanto, que se iluminem os estádios-cemitérios onde milhares perderam a vida e que comece a festa do futebol. Doha a quem doer.