Do Japão a Portugal
A tribo do ciclismo é uma tribo única, que nunca desiste. Cada edição da Volta é um novo instante, a ternurenta partilha entre avós, filhos e netos
Arrancou a Liga Portugal Bwin. Com o regresso do público, dos adeptos que dão vida à paixão do futebol como se provou na sexta-feira em Alvalade e ontem em Moreira de Cónegos com os benfiquistas, em unidade, a motivarem a equipa que jogou largos minutos com dez jogadores. Benfica e Sporting ganharam. O Benfica com uma vitória sofrida e o Sporting com uma boa segunda parte frente ao Vizela. Agora o Benfica tem de confirmar na terça-feira a vitória conquistada em Moscovo. Para acreditar na fase de grupos da Liga dos Campeões. Bem importante para o Benfica e para Portugal!
Terminam hoje os Jogos Olímpicos de Tóquio, em rigor do Japão já que algumas das provas não decorreram na bonita e atrativa capital do Japão. E Portugal conquista quatro medalhas e uma delas, a de Pedro Pichardo, de um ouro que entusiasma e emociona. Com ele, e este seu ouro, e com as medalhas de prata de Patrícia Mamona e de bronze de Fernando Pimenta e Jorge Fonseca, o olimpismo português, e o seu Comité, sob a serena e sagaz liderança de José Manuel Constantino, consegue um resultado significante e bem motivante. A nossa presença no Japão, e em particular em Tóquio, entusiasmou-nos e o Hino tocado e escutado evidencia, por muito que custe a alguns no desporto e a outros na sociologia e até na política, que Portugal é um País que acolhe o Outro, que faz acreditar no êxito e que potencia, com reciprocidade, o talento. Foi assim no atletismo e no futebol, no basquetebol e no andebol e com tantas e tantos outros em diferentes modalidades. Que se referenciados, diria recordados, esgotariam o espaço, bem limitado, deste artigo. E aqueles que não diferenciam a modalidade individual da modalidade coletiva mostram uma combinação entre a «inveja que dói» e a «diferença que angustia». Por mim olho para os medalhados e cumprimento-os como campeões, sabendo que também vestem as camisolas do Benfica e do Sporting que merecem aplauso pelos seus projetos olímpicos. Mas também não resisto, para além de sublinhar a ousadia da consciente opção de Pedro Pichardo e do Senhor seu Pai, a luta empenhada de Patrícia Mamona numa caminhada que chegou, em Tóquio, a ultrapassar com prata, e por um número, os 15 metros. Recordo bem o empenho e a persistência do JOMA - um clube de Sintra, de Monte Abraão, e ali a sua Juventude Operária! - e dos seus dirigentes - em especial o João Pedro Morais Cardoso - no atletismo e no apoio, simples e persistente, de jovens atletas e que eram, sempre escutei, «talentos impressionantes»! E uma delas era, já há cerca de uma década, a Patrícia Mamona. A sua prata, com aquele sorriso que cativa, é fruto merecido do trabalho da Patrícia e da sua dedicação, do seu empenho e do seu talento, do exigente trabalho e da experiência americana, do esforço do seu clube e do seu treinador - com o Colégio Militar presente! - e, também, da aposta e da persistência do JOMA. Sem esquecermos o nosso Comité Olímpico, os seus apoios e a sua firme convicção, mesmo em momentos de certa descrença! Parabéns a todos e em especial ao Pedro Pichardo. O ouro olímpico é português! E se olharmos para a União Europeia como um todo, os seus Estados membros e as suas delegações olímpicas conquistariam o maior número de medalhas - muito acima de duzentas! - e bem longe das arrecadadas, entre tantos outros, pelos EUA, pela República Popular da China, pela Federação Russa, pelo Japão, pelo Reino Unido ou pela Austrália!
A simpático e acolhedor convite do Pedro Lacerda, o homem forte da Kelly, que com a Simoldes dá alento à UD Oliveirense, e com o empenho, que registo, do Joaquim Gomes - a alma e o coração destas últimas edições da Volta a Portugal! - estive ontem na etapa que ligou a Sertã ao Alto da Torre. Foram cerca de cento e setenta quilómetros corridos e percorridos nos agora denominado territórios de baixa intensidade. Mas o que sentimos, também com a sorridente companhia do Paulo, é que a Volta é um momento singular da sociologia desportiva portuguesa. A tribo do ciclismo é uma tribo única, que nunca desiste. Cada edição da Volta, diferente no percurso - e esta com muita montanha! -, é um novo instante, repetidos momentos, a ternurenta partilha entre avós, filhos e netos. É o Povo na sua essência. É a partilha do camisola amarela com o carro vassoura, a partilha do pequeno naco do singular queijo da Serra - divinal! - com o vinho do produtor e a broa deliciosa. É a combinação única entre o prazer da corrida e o prazer da comida, entre o prazer da companhia e o prazer da partilha. E cada edição é um momento diferente e cada etapa na Torre ou na Senhora da Graça é uma busca da superação, como decerto muitos e muitas viram (ou irão ver) pelas imagens fantásticas da RTP. Aqui verdadeiro serviço público em que o Povo, o Povo que sente e ama o ciclismo, junta o prazer da corrida com o reconhecimento ao ciclista, ao seu imenso esforço, à sua tremenda vontade, à sua fé na vitória. E se nós pelas estradas, algumas sinuosas, tudo isto sentimos, acredito que todas e todos aqueles que assistem pela RTP combinam a narração e os competentes comentários com imagens singulares, extraordinárias do nosso Portugal, das nossas Beiras, deste interior que resiste. Por mim cada edição, e esta é a número 82, é um regresso à minha infância. À Volta em Viseu, à sua meta volante, às boleias para ir ver os ciclistas à Serra da Estrela, a chegada a Seia e ao Sabugueiro, os bonés apanhados do chão, os aplausos aos trabalhadores das pernas! Sim a estes que são os Reis das estradas. E que, com clubes que resistem e com marcas que estimulam, ajudam a que a festa da Volta vá hoje de Belmonte à Guarda e termine de hoje a oito dias na minha cidade natal, Viseu. Sempre meu berço, minha essência e minhas raízes!
Vamos viver um Agosto quente. Nas temperaturas atmosféricas e no pós Messi! Que calor! Neste momento em que terminam os Jogos e a centralidade desportiva, depois do Japão, se concentra em Portugal! E nada como acabar o dia de ontem, e dos milhares de telemóveis que via nas estradas entre a Sertã e a Torre com um jantar no Rei dos Leitões! Que degustação, certo Hermínio?!