Do ego (ou não)
O que Jesus poderia ter dito: «O homem da eliminatória? Vlachodimos e eu!»
Meu caro Jorge Jesus:
FOI Marcelo Bielsa, no seu jeito sempre filosófico de jogar futebol com as palavras, que o descobriu:
— … quem ganha não deve preocupar-se em ir à procura das razões, que há de haver sempre alguém a inventar teorias para o justificar.
Não, não é disso: de razões e teorias que lhe vou falar, porém. (Ou se calhar, é.) Do que lhe vou falar é da história que se repetiu (quase a papel químico) em Eindhoven - e, quando lhe perguntaram se Vlachodimos fora o homem da eliminatória, a sua resposta foi de fogacho:
— Não. O homem desta eliminatória chama-se Benfica, a sua equipa.
Voltou, pois, a não destacar (como devia, ainda assim...) o Vlachodimos - mas, desta feita, até poderia ter dito (o que talvez o seu ego tenha pensado):
— … foi o Vlachodimos e fui eu!
Sim. Sei que já lhe passou pela vista aquela ideia famosa do Michel Platini:
— No futebol, tudo o que se faz de melhor, do ponto de vista ofensivo, depende, sobretudo, dos jogadores - e tudo o que se faz de melhor, do ponto de vista defensivo, depende, sobretudo, do treinador.
Não, não tenho dúvidas: o Benfica só não perdeu cheque de quase 38 milhões porque o teve, a si, caro Jorge, ao nível do Vlachodimos - na sua tática e na sua estratégia, mas não só. Ao reagir como reagiu à expulsão de Veríssimo, pondo a equipa a defender-se (em grande...) procurando quase só ganhá-lo por 0-0 - ela só o ganhou porque teve o treinador que encontrou forma sagaz de evitar que os pés se entortassem aos seus jogadores, que não deixou, pelo seu espírito e personalidade, que ela, a equipa, se precipitasse para o abismo por falha de perícia. Ou que nela, na equipa, não se abrisse fenda por onde pudesse entrar perigo ou descrença que a acobardasse. E se não tivesse sido assim, mesmo com Vlachodimos em dimensão sobrenatural, talvez tudo tivesse acabado como não acabou: na tragédia que se poderia ter soltado do minuto 32 (e não só…)