Do efeito Lage 

OPINIÃO02.02.202003:00

POÉTICO e filosófico no elogio à importância da equipa acima das estrelas, Alfredo Di Stéfano disse-o, certa vez:
- No futebol, nenhum jogador é tão bom como todos juntos.

Melhor ainda é equipa que consegue ter treinador melhor do que todos os jogadores juntos. Mesmo tendo Pizzi ou Rafa, Vinícius ou Seferovic,  Vlachodimos ou Taarabt a evitarem, aqui e ali, que o Benfica tropeçasse num grão de areia ou se amarrotasse num seu transtorno - é o que o Benfica vai tendo no Bruno Lage (e, esse é que é o maior problema do FC Porto, de Sérgio Conceição).

Sim, Bruno Lage tem sido melhor do que todos os jogadores juntos porque não deixa que eles se arrastem, confusos e baralhados, por labirintos sem fim, mortiços nas suas impaciências ou nas suas fraquezas - e porque, com ele, a equipa não deixa de ser o melhor que uma equipa pode ser: equipa inteira.

Bruno Lage tem sido melhor do que todos os jogadores juntos porque raramente se prende (ou se malogra) no  jogo rotineiro que torna as equipas piores porque descobre depressa (no treino ou no banco) a forma de a ter com melhor defesa e ação, com mais dinâmica e baliza, com mais furor e eficácia, com mais critério e movimento - e porque (além de outras coisas mais, claro) mesmo tendo o melhor plantel da Liga, gere-o (e aos seus egos e aos seus desconcertos) com argúcia - percebendo sempre o que é melhor para o jogo (e, sobretudo para a equipa), escapando a complexidades e azias, ratoeiras e abismos, que lhe poderiam roubar fé e destino, levar-lhe sonhos e sorrisos (a exceção que confirma a regra foi a derrota com o FC Porto).

Dir-me-ão: não viu a segunda parte contra o Belenenses! E eu respondo: vi! E por ter visto é que escrevi o que aqui escrevi. E escrevi-o porque, se Di Stéfano afirmou o que afirmou, eu acho o que Nélson Rodrigues sempre achou: que no futebol o pior cego é o que só vê a bola - sobretudo a bola correr pela relva em instantes apenas ou sombras fugazes.