Do descontrolo de Vieira…

OPINIÃO07.10.201904:01

Luís Filipe Vieira perdeu a compostura na última assembleia geral do Benfica e teve uma atitude que nenhum presidente de qualquer clube - ainda menos um presidente com a sua experiência e um presidente do Benfica - deve ter em público. Não vale a pena estar a classificar o comportamento de Vieira, se foi agressão ou tentativa de agressão, embora deva neste caso recordar que o Benfica pediu, há uns tempos, a suspensão de Brahimi por agressão quando o argelino, ainda no FC Porto, deitou as mãos ao pescoço de um adversário. Mas não vale a pena ir por aí. O mais importante é tentar perceber não o que Vieira fez, mas porque o fez.

Percebe-se que as palavras daquele sócio foram particularmente violentas. Provocatórias? Talvez. Urdidas por um grupo minoritário mas barulhento, inspirado num ex-vice que assume agora o papel de principal opositor à liderança até agora incontestável de Vieira? Não é certo que assim seja, mas admitamos que sim. Ainda assim, nada justifica o que se passou a seguir. Porque mesmo tendo-se o presidente do Benfica sentido ofendido com o que ouviu, não pode esquecer-se nunca que estava a ouvi-lo de um sócio. Que paga as quotas, não só para poder assistir aos jogos do clube com algumas vantagens ou por mera questão de militância, mas, se calhar, precisamente para poder ter, no local próprio (como são as assembleias gerais), direito a usar da palavra, para elogiar ou para criticar. Para aplaudir ou para assobiar. Para votar contra ou para votar a favor. Porque ser sócio de um clube, e dele gostar, não significa concordar com tudo o que faz um presidente. É simples e tenho a certeza de que aquele sócio não gosta menos do Benfica por gostar menos de Vieira. Porque não haverá nunca - e houve recentemente, ali pertinho, quem achasse o contrário com o resultado que se viu… - um presidente maior do que um clube. O que devia ter feito o presidente do Benfica era responder, para todos ouvirem, às acusações que lhe foram feitas. Até porque tem argumentos que rebatem, de forma tranquila, quase todas. Teria sido, convenhamos, mais inteligente, até porque responderia, ao mesmo tempo, às bicadas daquele que é, hoje, o seu principal opositor.

É, talvez, isso que torna mais difícil perceber o descontrolo de Luís Filipe Vieira. O facto de não ter razões para estar, sequer, preocupado com a oposição. Há sócios que não percebem todos os negócios feitos pelo Benfica? É normal que haja. Mas não houve, até agora, pelo menos que se saiba, algum que tenha sido considerado ilegal. Há sócios que olham de lado para os processos judiciais que envolvem a SAD ou alguns dos seus administradores ou ex-colaboradores? É natural. Mas tem Vieira a seu favor as recentes decisões dos tribunais, todas favoráveis ao Benfica. Há quem use como arma de arremesso o sonho de um Benfica de novo grande na Europa face a resultados que parecem contrariar esse desejo? E então? Ser ambicioso, em especial num clube com a dimensão do Benfica, não é crime. E a verdade é que, mesmo admitindo-se que os recentes resultados na Champions podem até, usando as palavras do presidente encarnado, envergonhar alguns benfiquistas, a grande maioria não esquecerá como estava o Benfica quando Vieira chegou e como está o Benfica agora.

Não tem, portanto, Luís Filipe Vieira de perder o sono só porque alguns não concordam com tudo o que diz ou faz. É verdade que para o ano há eleições e admite-se que esta época seja especialmente importante, sobretudo a nível do futebol. Mas, convenhamos, Vieira não tem, nem terá tão cedo, oposição à altura. E devia sabê-lo melhor do que ninguém. Perder as estribeiras só favorece quem o critica.