Do clímax ao nosso antíclimax
Além dos golos e assistências, Leão foi vertigem, drible e potência na Serie A
UM FINAL de loucos em Inglaterra, Rafael Leão a coroar-se melhor jogador da Serie A com três assistências no jogo que vale, 11 longos anos depois, o título ao Milan e a final da Taça de Portugal no eterno, memorável, mas também (perdoem-me) fora de prazo Jamor, entre um fortíssimo campeão nacional e um dos despromovidos ao segundo escalão. Virou-se o domingo do avesso, do clímax ao anticlímax, em que os nossos olhos começaram vidrados nos últimos suspiros do melhor campeonato do planeta, se deixaram hipnotizar pela ginga de um dos grandes craques da atualidade na entrega, de bandeja, do scudetto a um gigante adormecido, e acabaram ligados a um desfecho previsível e um espetáculo incapaz de criar euforia, mesmo talvez junto dos adeptos do mais do que provável e justíssimo vencedor. Há muito o sabemos, todavia pouco fazemos para alterar the big picture, mesmo que nos acenem com a centralização dos direitos televisivos como cura de todos os males. Separa-nos, na verdade, um oceano do que deve ser um grande espetáculo de futebol.
Repito: Leão foi de longe o melhor futebolista da liga italiana. Muitos dos seus 11 golos foram decisivos, tal como as dez assistências, sobretudo na reta final da caminhada para a festa, e foi ainda durante todo o tempo vertigem, drible e potência, que lhe garantiram com quase unanimidade o prémio de MVP entregue pela própria Serie A. É o grande projeto do futuro imediato do futebol português e a Seleção deve saber absorvê-lo.
Já em Inglaterra, Kevin de Bruyne também conseguiu um assalto final voraz ao prémio de melhor jogador, com passes que só alguém com a sua visão periférica consegue antever, e golos muito importantes. Não posso, no entanto, esquecer o nível a que Bernardo Silva chegou, não só no plano ofensivo como defensivo. Simplesmente brilhante!