Divagações em semana de Taça
1 - É cada vez mais difícil conciliar o tempo certo do desporto profissional com a evolução da pandemia. Desde logo, quanto à presença ou ausência de espectadores nos jogos. Mas, também, e como sua consequência, quanto aos estrangulamentos financeiros que vai provocar, ainda durante muito tempo. Vamos ter competições cada vez mais aos soluços e classificações condicionais, assim se prejudicando o que considero ser a necessidade desportiva de igualdade de condições. Já foi assim nas eliminações europeias a uma volta, jogando-se em casa de um dos contendores e receio que os campeonatos passem a ter muitos jogos adiados, depois realizados noutro contexto circunstancial. Por fim, em velocidade uniformemente acelerada, vemos as equipas a ficarem limitadas por terem jogadores infectados, não se sabendo ao certo que limites há (ou não há) para determinar ou não a suspensão de um encontro, ou até para o cancelar definitivamente, quiçá penalizando sobretudo apenas uma das equipas.
E foi assim que chegámos aos jogos da Taça de Portugal, que servem de antecâmara para mais um arranque parcial do campeonato nacional. Nas equipas fornecedoras de jogadores seleccionáveis além-fronteiras há, ainda, a sua reintegração aos bochechos, e com testes e precauções de toda a ordem.
Penso que, neste enquadramento, são bastante criticáveis as posições umbiguistas da FIFA e da UEFA, que, de cima dos seus pedestais poderosos, determinam o uso de atletas em plena pandemia, sendo que não lhes pertencem e que são pagos pelos clubes. Isto, para além, de viagens absurdamente longínquas que fazem de jogadores uma espécie de aves voadoras, que hoje estão no Paraguai e amanhã aterram em São Petersburgo, para jogar logo de seguida, se, entretanto, não tiverem sido contagiados.
Lamentável como, em tantas selecções, o contágio da Covid-19 está ali tão perto, quase a convidar colegas a se solidarizarem com o vírus. Desta vez, e quanto aos clubes portugueses, a fava calhou ao Benfica, sendo que esta oferta leguminosa se relaciona com o nome uruguaio de Darwin Núñez. Resultado: jogador 15 dias sem jogar e Benfica a pagar. E, desta maneira, vai o futebol dos poderes máximos, actuando urbi et orbi numa boa, como se nada estivesse a acontecer.
2 - Certamente em função da memória própria de um septuagenário, tenho a consciência de que, hoje, não retenho na cabeça o que conseguia melhor anos atrás. Usando uma expressão muito típica da gestão de stocks, o depósito memorial, com o andar da vida, vai ficando cada vez mais LIFO (last in, first out), ou seja, a mais recente memória é a que mais depressa desaparece. Lembro-me de tantas equipas do meu clube do século passado e, agora, se tiver de dizer a equipa-base de há meia-dúzia de anos posso lá chegar, mas com acrescida dificuldade. É claro que não é só a idade que importa, creio mesmo que o outro decisivo factor é o das constantes mexidas dos plantéis, depois de fulminado o tempo em que a constituição de uma equipa era estável durante bons anos. Agora, em equipa que ganha… mexe-se e em equipa que perde… também se mexe. Há ainda outro factor que me causa confusão, qual seja o da repetição de nomes (sobretudo, por vagas de modismo onomástico) que, só com cábula, consigo discernir. Acresce que, agora, a maioria dos jogadores adopta a identificação artística de dois nomes, o que tudo complica (recordo que, dantes, a passagem de um só nome de jogador para dois nomes só se dava, estranha e respeitosamente, quando o atleta virava treinador). No ano passado, no meu Benfica só Tavares eram três (Nuno, Bruno e David), e raramente acertei no nome próprio de cada um. Na selecção sub-21, que acabou de se apurar para a fase final do Europeu, Diogos eram três e logo todos juntinhos na defesa (Costa, Queirós e Leite). E Rúbens na principal selecção? Lá tivemos uma dupla de centrais Dias & Semedo, mas também no banco o Rúben Neves. O SC Braga tem dois Tiagos ambos guarda-redes (o Sá e o Pereira). Já o Portimonense tem três Lucas (Fernandes, Tagliapietra e Possignolo) e um Luquinhas.
Consultei o site da Liga e verifiquei que, na principal divisão, o nome mais comum é o de Diogo (com as variantes Diego e Dieguinho) com 18 jogadores. Para mim, surpreendente é a constatação de o nome Lucas (mais Luca, Luka e Luquinhas) estar em segundo lugar com 17 atletas. Seguem-se Bruno, com 14, Gonçalo, com 10, assim como, para mim também surpreendentemente, Mateus (e a variante Matheus). Em seguida, há Rúben, Rafael (e Rafa), Tiago, Ricardo, Rodrigo, Fábio, Nuno e Fabrício. Por aqui se vê a fornada de nomes de moda da última década do século passado (em Portugal e no Brasil).
Bem, toda esta pesquisa e arrazoado para me consolar com generosas razões que justifiquem por que hoje já não fixo os plantéis…
3 - Enquanto o campeonato outonou três semanas, tive tempo de olhar para a classificação, ao fim das sete jornadas, de um outro modo. Comparei a diferença de pontos ganhos ou perdidos com os mesmos adversários na época anterior. Sei que isto pode não dizer nada, mas talvez evidencie excessos (de optimismo ou de pessimismo), que nem sempre são bons ou maus conselheiros. Vejamos:
Sporting - mais 3 pontos (empate em casa com FCP contra derrota antes e vitória em Guimarães fora, antes empate). Os outros resultados coincidiram com a época transacta: vitória fora de casa (Portimonense, Paços de Ferreira e Santa Clara) e em Alvalade (Tondela e Gil Vicente).
Benfica - mais 1 ponto. Recuperou 4 pontos (vitória em Famalicão e, na Luz, contra o Moreirense, jogos que, em 2019/2020, empatara). Perdeu 3 pontos face ao Boavista fora. E igualou os restantes jogos (vitórias sobre Belenenses SAD, Farense, aqui equiparado a Desportivo das Aves e Rio Ave fora e derrota contra Sp. Braga na Luz).
Porto - menos 5 pontos. Passou de derrotado a vencedor, no Dragão, contra o SC Braga (+ 3 pontos). Perdeu pontuação em Alvalade (- 2 pontos), Marítimo, em casa (- 3 pontos) e Paços de Ferreira, fora (- 3 pontos). Igualou vitórias no Bessa e com o Portimonense e Gil Vicente, no Dragão.
Tudo conjugado, as classificações com os mesmo adversários, são: