Diferença está nos treinadores
Águia deve preparar-se para um período de seca de conquistas por tempo indeterminado e para a desvalorização progressiva do projeto do Seixal
N A primeira passagem de Jorge Jesus pelo Benfica, por simples curiosidade jornalística, perguntei a alguém identificado com a organização do clube como é que o treinador comunicava com os jogadores. A resposta foi-me dada com um sorriso comprometido e através de frase esclarecedora, «eles lá se entendem». Na altura, não tendo como contrapor, admiti que sim, simplesmente. No tempo presente, porém, coloco algumas dúvidas, que não têm a ver, por exemplo, com a alegada dificuldade de diálogo com Waldschmidt, mas sim com justificações, umas mal sustentadas, outras até bizarras, que o treinador foi dando nos últimos meses com o propósito de ir amaciando uma realidade cruel que a sucessão de fracassos colocou à vista de todos.
Falhou a participação na Champions, na sequência de um comportamento negligente diante dos gregos do PAOK, que era orientado por Abel Ferreira, comprometendo, nesse momento, o resto da temporada. Na Liga Europa, caiu nos 16 avos de final e na Taça da Liga foi eliminado pelo SC Braga nas meias-finais.
No campeonato é o que se conhece, o título está fora de questão, apesar de colossal investimento no plantel e das promessas de pujança feitas pelo próprio Jesus na sua apresentação. O acesso direto à Liga dos Campeões, o segundo objetivo mais relevante, ainda respira, mas não parece. Apesar de, pontualmente, ainda ser possível, a verdade é que já é encarado como causa perdida. Basta escutar o tom resignado do treinador benfiquista, o qual, em vez de reunir as tropas, proibir o desânimo e manter o moral em alta até à última gota de suor, a seguir ao recente empate com o FC Porto, como hábil vendedor de méritos que julga possuir, preferiu colocar em banca por valor inflacionado o único título que ainda pode ganhar (Taça de Portugal), o qual lhe dará vantagem em relação ao rival portista, sem título algum, na perspetiva que defendeu, ao suscitar dúvidas sobre a posição da Supertaça no calendário nacional. Enfim, habilidades…
L UÍS Filipe Vieira inventou Jesus e fez dele um treinador rico e com poder, mais do que a sensatez aconselha, porque, santa paciência, três vezes campeão nacional em sete anos não é cartão de visita especialmente recomendável. Outros assinaram idêntica proeza em menos tempo e com menor dispêndio, por certo, mas a vida é assim. Decidiu também elegê-lo como trunfo eleitoral, quando não tinha necessidade.
A obra de Vieira, a sua dedicação, a sua disponibilidade e o seu trabalho continuam a merecer o respeito e a admiração da maioria de sócios e adeptos do clube. É a minha convicção. No entanto, ao lembrar-se outra vez de Jesus, entregando-lhe até a recuperação do prestígio europeu que o Benfica consolidou na brilhante década de 60 e manteve até 1990, ano da última presença em final dos Campeões Europeus, ficou refém das vaidades, das incoerências e dos destemperos de quem anima mais as redes sociais, no que elas têm de pior, do que os adeptos benfiquistas, com vitórias que amplifiquem a imagem da águia no mundo.
A situação é delicada. Com dinheiro contado ao cêntimo para investir e sem o mínimo de certezas de que Jesus será capaz de colocar a equipa na próxima edição da liga dos milhões, a família encarnada deve preparar-se para o pior dos cenários, a que poderá corresponder um período de seca de conquistas significativas por tempo indeterminado e a desvalorização progressiva do notável projeto do Seixal, por ironia do destino ricamente representado na Champions pelo Manchester City, e ao qual o atual treinador pouca, ou nenhuma, importância atribui, ao contrário do pensamento que Rúben Amorim expressou assim que viu confirmado o regresso leonino à mais importante competição da UEFA e que nos ajuda a entender melhor a diferença entre o Sporting, em período de fulgurante afirmação, e o Benfica, em fase de perigosa indefinição.
«Vamos sofrer ainda mais, mas não vamos mudar a nossa ideia, a aposta na formação», declaração feita por Rúben Amorim, depois do jogo com o Rio Ave. Alguém acha que Jesus diria o mesmo ou parecido?
RODRIGO PINHO - A propósito da equipa ganhadora que Jesus quer formar, depois da surpresa Gilberto, fiquei admirado com a notícia sobre a contratação de Rodrigo Pinho, e creio que não desmentida. Alinha no Marítimo, está a dias de comemorar o seu o 30.º aniversário e terá assinado um contrato com a duração de cinco anos. Será um sinal da estratégia a seguir para constituir o desejado Benfica europeu? Olha-se para o currículo dele e nada de espantoso se observa. Marcou dois golos ao FC Porto? Sim, e isso basta? O que mais me intriga, porém, é estar desaparecido em combate, principalmente quando o emblema maritimista mais precisa dele para ajudar na luta pela manutenção na Liga principal. Pelo que pude apurar, queixa-se de uma dor…