Diamante ao preço da chuva
Já se perdeu a conta ao número de viagens que o representante de Bruno Fernandes fez, ou diz que fez, a Inglaterra para lhe arranjar um novo clube, embora se estranhe o insucesso da empreitada quando tem em carteira um artista de classe superior em qualquer parte do mundo. Não sendo minha intenção duvidar da sua preparação na arte de bem negociar, surpreende, no entanto, o arrastar desta novela bizarra sem desfecho anunciado e que só tem contribuído para a desvalorização do futebolista.
O United deseja-o e, como novidade mais recente, segundo o jornal The Independent, praticamente solucionada a contratação de Maguire, central do Leicester, por generosos 90 milhões, a pronto, pois claro, noticia a mesma publicação que a partir de agora haverá total disponibilidade para abordar a situação de Bruno Fernandes. Que se mantém debaixo de olho do Tottenham, caso se concretize a saída do dinamarquês Eriksen. Sem esquecer o Manchester City, porque sim, e outros. Além do PSG, que se tem mantido à distância, mas igualmente cativado pelo imenso talento de Bruno e pela excelente oportunidade de negócio que se lhe depara com sua aquisição, na perspetiva de, tal como aconteceu no tempo de Pedro Pauleta, o emblema parisiense voltar a captar o entusiasmo e a preferência da numerosa comunidade lusa.
A última novidade, se é que o termo se adequa, prende-se com o valor que o United estará na disposição de pagar, 62 milhões, ficando por esclarecer se é mesmo assim ou se não passa de conversa de empresário para entreter. De toda a maneira, no outro lado da barricada, apesar da cláusula de rescisão de 100 milhões, o presidente Varandas de 75 milhões não baixa, pelo menos até 4 de agosto…
Frente a frente, um empresário a tentar um negócio que lhe permita gorda comissão para salvar a época e um presidente a impor um limite mínimo para se dar ao incómodo de ouvir o que têm para lhe dizer. Os dois em diferentes lados da barricada, mas talvez abraçados na intenção de banalizarem um diamante até ao ponto de os mercados lhe atribuírem o preço da chuva.
No meio, fica o artista, que muito legitimamente luta pela sua valorização profissional, pela sua vida, pela sua família. É uma pessoa, não é um objeto. Por isso, é normal que não se sinta confortável por ver o seu nome em leilão, do género quem dá mais, por responsabilidade do empresário, provavelmente impreparado para se movimentar com a necessária agilidade em determinados meios, nem por se ver tratado com a frieza revelada por uma administração que em vez de atacar o problema de frente, resolvendo-o, opta por uma aparente indiferença, aliada ao tempo e ao desgaste, para, como li, aplicar o ‘plano da SAD’, com melhoria salarial, entre outras sugestões contratualmente complexas, na certeza de estar diante de um jogador, se esse cenário se verificar, em posição naturalmente fragilizada.
Do ponto de vista do objeto, a estratégia, embora atrevida, salvaguarda os interesses financeiros da entidade patronal e apenas esses. Do ponto de vista da pessoa, não sei se será boa ideia, pela razão simples de se estar a falar de um jogador especial, muito especial mesmo. Com ele, o Sporting poderá ser, verdadeiramente, candidato a campeão. Sem ele, será mais do mesmo: promessas inócuas como a que Varandas fez na recente cerimónia de entrega de emblemas, na mesma linha, aliás, do seu antecessor.
Mundialização da marca Benfica
A vitória sobre o Chivas de Guadalajara (3-0), na noite do último sábado, na Califórnia, apesar de poder ter sido recebida com um encolher de ombros de indiferença, foi a primeira que o Benfica conseguiu desde que passou a fazer parte da lista de convidados ilustres do International Champions Cup. Nas presenças anteriores, em 2015 e 2018, em seis encontros realizados, estão contabilizados três empates e três derrotas.
Ao sétimo jogo, finalmente, os encarnados ganharam, alguma vez teria de acontecer, mas a mudança mais significativa, quanto a mim ainda pouco notada, tem a ver com o investimento que está a ser feito no sentido de expandir a marca Benfica, ampliar-lhe os horizontes de influência, reforçar-lhe a notoriedade em áreas do globo já conhecidas ou por descobrir e, obviamente, gerar mais riqueza e poder. Este é o caminho, ou será que Real Madrid, Barcelona, United, City, Juventus, Liverpool e Bayern estão todos errados e nós é que somos os donos da razão? Claro que não e quem no futebol da nossa paróquia não quiser perder o comboio dos poderosos, em termos de objetivos desportivos tem de concentrar-se em dois lugares no Campeonato: o primeiro e o segundo, os únicos que dão entrada, por via direta ou indireta, na Liga dos Campeões, ou, em alternativa, jogar na Liga Europa e ganhá-la. O resto, visto de tão alto, é calendário…