Depois de Cavani… nada
O primeiro jogo do novo ciclo do Benfica transmitido pela televisão do clube mostrou que muito se evoluiu em tão pouco tempo, com melhorias notórias principalmente em termos de atitude competitiva, quanto a mim a mais grave doença de vários jogadores na última temporada, em que ao défice de qualidade alguns ainda acrescentaram reprovável indiferença pelo jogo, mas quanto à grande equipa que Luís Filipe Vieira prometeu oferecer a Jorge Jesus na cerimónia de apresentação verificou-se igualmente que vai ser empreitada dura.
Para consumo interno, apenas com dois efetivos candidatos ao título de campeão, o que existe neste momento será suficiente, como já o era antes, mas não mais do que isso. Se, por outro lado, há a intenção de realmente dar o salto qualitativo e recolocar o clube no lugar europeu que ocupou no passado, é pouco.
O jogo com o Bournemouth revelou três contratações que vão robustecer o coletivo e valorizá-lo em arte, irreverência e capacidade de combate. Vertonghen é uma parede sólida, Waldschmidt tem boa escola de base (receção/passe) e não será por acaso que chegou à seleção alemã, e Everton transporta, além de classe, valiosos argumentos que, a confirmarem-se, farão dele, a breve prazo, um extremo discutido e pretendido pelos emblemas mais endinheirados da Europa. Da primeira observação a estes três elementos extrai-se que se trata de investimentos bem feitos, mas não o bastante para se formar a equipa prometida.
A duas semanas de 3.ª eliminatória da Champions no campo do PAOK, um jogo de altíssimo risco, convém reconhecer que há medidas a tomar com caráter de urgência.
Construir uma boa equipa de futebol não é como ir ao supermercado e encher o carro de compras para o mês. Demora o seu tempo, com avanços e recuos ou apostas mal sucedidas. É uma tarefa que vai sendo realizada por etapas até se completar um onze realmente capaz de fazer acreditar a família benfiquista. Neste sentido, e também na sequência do que o jogo com o Bournemouth mostrou, independentemente das exigências do treinador, porventura incontáveis e nem todas com condições financeiras e de mercado para serem correspondidas no imediato, continuam a notar-se fragilidades em posições que não admitem espera.
Não veio Cavani, mas tem de vir, e depressa, um goleador a sério, que marque aos fracos e, sobretudo, aos fortes. Se possível dois, porque com os que estão, por muito boa vontade que tenham, somente se prolongam ilusões. Não é dizer que está tudo mal, apenas ter a noção clara de que, se a vontade é mesmo criar condições para a águia voar mais alto e chegar mais longe, a exigência terá de ser maior, primeiro na avaliação criteriosa do praticante que entra, depois no seu rendimento em cada jogo, de forma a evitar que se coloque em cima da mesa um quarteto (Fejsa, Alfa Semedo, Lema e Ferreyra) como moeda de troca e ouvir do outro lado o interlocutor dizer que de todos quer um: Diogo Gonçalves.
Outra lacuna indisfarçável relaciona-se com o preenchimento do eixo central, com a ligação e a orientação de jogo. Compreende-se a razão pela qual Jesus reclama outro médio. Acredito que Weigl vai crescer muito, porque tem imenso virtuosismo por explorar, mas dali para a frente há muita parra e pouca uva. Taarabt marcou o golo da sua época, agrada aos adeptos, pode ser útil, mas não vai além daquele registo simples, feito de impulsos e nada desequilibrador, enquanto Gabriel, embora mais inteligente e dotado na execução e no passe, deve capacitar-se que é ele quem tem de jogar de acordo com a velocidade imposta pela equipa, em função do jogo e do oponente, e não esta a sujeitar-se à velocidade que lhe dá jeito a ele, geralmente devagar e quase parado.
O PAOK está à porta e Abel Ferreira quer fazer o jogo da sua vida. Situação normal, vem nos livros, por isso é obrigatório não facilitar.
Pedro Gonçalves simplesmente
Dirão que é assunto que não me diz respeito, e não diz, mas não gosto de ver o jovem e promissor médio Pedro Gonçalves, contratado pelo Sporting ao Famalicão, ser tratado por Pote. Assim como nunca apreciei a vulgarização dos Vitinha, dos Tó e dos Tozé , dos Chico, dos Zé e dos Zé Tó, dos Toni, dos Beto e mais modernamente dos Rafa. Igualmente jamais me pareceu sensato praticantes terem autorizado a subversão das suas identidades devido a semelhanças físicas, de estilo, até de penteado, gerando uma variante de profissionais com aspas, felizmente em vias de extinção, muito por força de um alteração estratégica, creio que sugerida pelo Vasco da Gama, no Brasil: país que é a nossa principal fonte de inspiração, mas também ele concluiu que não seria boa ideia para o progresso do negócio exportar talentos apenas diferenciados pelo local de nascimento, Pernambucanos, Baianos, Cariocas ou Paulistas, por exemplo.
Pelo que li e ouvi, fiquei a saber por que chamavam Pote ou Potinho ao miúdo Pedro Gonçalves, mas ele já não é essa criança simpática, alegre e redondinha. Agora, é adulto, destacado futebolista e diariamente sujeito ao rigoroso escrutínio da exposição pública, com os benefícios e as desvantagens que isso acarreta. Ontem no Famalicão, hoje no Sporting e, amanhã, provavelmente, a jogar numa das principais ligas mundiais. Respeito, naturalmente, quem pensa de maneira diferente, mas, para mim, será sempre o cidadão Pedro António Moreira Gonçalves, ou, simplesmente, o profissional Pedro Gonçalves.