De volta à realidade

OPINIÃO22.07.201801:03

Embora não nos tenha proporcionado momentos de futebol espetacular - muito por culpa de quase todas as grandes seleções terem ficado demasiado cedo pelo caminho -, o Campeonato do Mundo foi capaz de nos proporcionar uns dias de paz na guerra em que alguns decidiram mergulhar o futebol português. Uma espécie de período de tréguas em que se pôde, de facto, falar de futebol. Durou mais ou menos um mês. Já não foi mau. Quase como as férias: sempre boas e sempre demasiado curtas. Terminado o Mundial, pois, eis-nos de volta à realidade, quase sempre deprimente. E bastou uma semana para perceber que os próximos tempos serão mais do mesmo, com os mesmos protagonistas de quase sempre:

Benfica - A semana começou com a revelação de mais informação confidencial do clube da Luz: primeiro com a publicação de alguns dos contratos assinados há menos de um mês - mais para chatear do que outra coisa, claro, ou pelo menos para mostrar que continua a haver gente disposta a desafiar as quase sempre inconsequentes ameaças feitas pelo gabinete de crise; depois, com mais e-mails que mais não pretendem do que provar a existência de um esquema para controlar a arbitragem. O Benfica ameaçou com mais processos e desta vez nem a Google escapou. Há de chegar o dia em que da Luz sairão instruções para processar até o inventor da Internet, aparentemente o mal maior de tudo aquilo que se tem sabido. Haja alguma noção...

Francisco J. Marques - Aquele que se tem apregoado, no último ano, como principal paladino da verdade e da transparência precisou de pelo menos três meses para assumir (e porque lhe perguntaram...) que tinha sido constituído arguido no processo de divulgação pública de informação privada no caso dos e-mails. Garantiu Francisco J. Marques, e bem, estar tranquilo. Tem, também ele, o direito à presunção de inocência. Convém é que se lembre, daqui para a frente, que esse não é um direito que lhe pertença em exclusividade. Vale para todos, cidadãos e instituições. Porque arguido, por muito que custe perceber a muita gente, não significa culpado. Talvez agora o diretor de comunicação do FC Porto possa explicar, tintim por tintim, a diferença.

Bruno de Carvalho - É irónico que venha acusar os outros de falta de democracia. Logo ele, que sem ganhar uma vez no futebol conseguiu ser o campeão no que toca a processos e expulsões de sócios, não poupando os que não alinhavam no seu discurso; ou que alterou os estatutos para limitar ainda mais a liberdade de expressão dos sportinguistas. Agora que lhe toca a ele, o primeiro presidente destituído da história do Sporting, vem fazer-se de vítima. Enfim. Nada que surpreenda. Foi quase sempre assim...

FELIZMENTE, nem só de notícias deprimentes vive o futebol português, embora no meio de tanta lama seja, às vezes, complicado dar-lhes a importância devida. Mas houve algumas:

Jorge Jesus - As entrevistas concedidas pelo agora treinador do Al-Hilal foram deliciosas. Muito por culpa de uma personalidade sem igual e sem medo de sair dos lugares-comuns que normalmente marcam as conversas dos seus pares com os jornalistas. Imagine-se o que será quando se confirmar o fim da cláusula de confidencialidade que impede Jesus de falar sobre o que viveu nos três anos de Sporting com Bruno de Carvalho. Se o permitir, Sousa Cintra estará a prestar um serviço público aos portugueses. E em especial aos sportinguistas que ainda têm dúvidas...

Cristiano Ronaldo - Aos 33 anos recusa acomodar-se, deixou o conforto de Madrid e arrisca nova aventura na Juventus. A loucura que se seguiu à oficialização do negócio só mostra que o clube de Turim acertou na mouche quando decidiu apostar naquela que é, sem dúvida, a maior marca do futebol atual. O Real vai ter saudades de CR7. Bem mais do que o contrário. Florentino que se cuide.