De todos nós...

Por entre má memória de pecadores, os 26 de Santos (e o que poderá acontecer com eles...)

Meu caro Fernando Santos:
 

EU sei, como você sabe, que uma das crueldades maiores que o futebol tem - é o futebol ter fraca memória. Por isso é que, mesmo tendo feito por Portugal o que mais ninguém fez, há amiúde quem apareça, pecador mais ou menos sorrateiro, a apequená-lo (ou pior…) - e é nessas alturas que eu percebo ainda melhor aquela sagaz descoberta do Nélson Rodrigues:
- No futebol, o pior cego é o que só vê a bola…
Sim, porque só pode ser cego (no seu piorio) quem não vê (ou não viu) que, consigo, a Seleção se tornou no exemplo cabal de fazer do seu futebol a arte de tornar perfeitas todas as imperfeições (e sobretudo as imperfeições dos outros), ganhando o que já ganhou (e não  foi só o Euro que lhe deu a eternidade...) Sim, porque só pode ser cego (no seu piorio) quem não vê (ou não viu) que, consigo,  a Seleção não se preocupa em jogar bonito, preferindo jogar bem - e nela o jogar bem é nunca deixar que os seus jogadores sejam alguma vez parafusos de uma máquina industrial, é fazer da equipa uma equipa solidária, mesmo que dentro dela haja um génio como Cristiano Ronaldo (esse génio que continua lá a dar-lhe o toque divino, mesmo que alguns já julguem que não e cheguem ao desplante de exclamar que melhor seria atirá-lo para o banco - ou para lugar pior…) Sim, porque só pode ser cego (no seu piorio) quem não vê (ou não viu) que, consigo, meu caro Fernando Santos, o selecionador vai dando, a cada ano que passa, sinais de ser o que você é: o alquimista sereno que sabe que, no futebol, uma equipa só funciona, o seu sonho só funciona, se a equipa trabalhar bem em equipa, sem nunca a deixar insegura ou atabalhoada ou descomprometida com a sua ideia de jogo e o seu espírito - esse espírito que você lhe dá  bem para lá da fé que lhe vem do crucifixo que tem no bolso. E não, eu não tenho dúvidas: os  seus 26 de mais logo são os melhores 26 para se fazer a equipa de todos nós - e para você a pôr a ganhar outra vez...