De regresso ao nosso salão de festas
O jogo do próximo domingo não é decisivo para a vitória no campeonato. La Palisse não o diria melhor. Mas não é um jogo como os outros - e o dito senhor voltaria a assiná-la por baixo.
Para o meu clube, que é o que me interessa, tem algumas particularidades conjunturais.
Não é novidade para ninguém que este início de temporada tem sido complicado. As exibições não têm sido as melhores e o momento de forma de alguns jogadores decisivos para a dinâmica da equipa tem andado longe do ideal. É verdade que o jogo contra o Tondela e a segunda parte contra o Galatasaray já mostraram uma evolução interessante: dinâmica, várias soluções atacantes e uma solidez defensiva invejável. Mas ninguém negará que a qualidade apresentada ainda não é suficiente para a difícil tarefa que temos pela frente. O caminho faz-se caminhando e mais uma vez o Sérgio Conceição mostrou ser um treinador criativo que consegue montar a equipa de forma a que se possa alcançar os resultados desejados mesmo sem a equipa estar ainda a carburar como sabe e pode. O melhor exemplo disso foi o jogo de quarta-feira.
Não exijo ao nosso treinador que tenha a palavra rigorosamente certa no momento apropriado. Por isso penso que se exprimiu mal quando disse aquelas tão criticadas palavras sobre espetáculos no Coliseu e no Sá da Bandeira - criticar os críticos não tem mal nenhum, ele tem tanto direito a criticar os comentadores quanto os comentadores têm de o criticar. Não há quem não saiba que é impossível dar grandes espetáculos uma época inteira. Todas as equipas atravessam melhores e piores momentos. Vital é que nos dias em que as coisas correm mal se ganhe e que nos momentos decisivos, normalmente com equipas da nossa igualha, apareçamos na máxima força. Isso não me impede de reafirmar, pelo contrário, o que sempre defendi: as equipas que jogam bem têm sempre muitas mais hipóteses de ganhar do que as que jogam mal. Quem bebe vinho carrascão uma época inteira não bebe champanhe no fim.
O jogo na Luz servirá, sobretudo, para percebermos se a equipa está a evoluir no bom sentido. Os últimos sinais fazem-me estar otimista.
Tenho, no entanto, algumas certezas. O Benfica vai entrar em campo a tremer - Rui Vitória já mostrou visíveis sinais de nervosismo quando disse aqueles disparates sobre a arbitragem depois do jogo contra o Chaves. É normal que assim seja. Nos últimos anos, jogar no Estádio da Luz tem sido um verdadeiro passeio para o brasão abençoado. O nosso saldo é claramente positivo e na maioria dos jogos as nossas vitórias têm sido escassas face à superioridade que temos demonstrado. Pouco têm importado quais são os jogadores que entram em campo ou as diferenças pontuais. Até na terrível época, que começou com Lopetegui e acabou com Peseiro, o FC Porto veio ganhar a Lisboa.
A outra certeza que tenho é que a nossa força, vontade e capacidade de superação se mantêm incólumes. São esses atributos que têm sido decisivos nestes confrontos. Podemos estar em dificuldades, podemos não estar no melhor momento de forma, mas os jogadores do FC Porto sabem bem o peso da camisola que envergam e o pânico que a sua atitude gera nas almas dos benfiquistas.
Vamos então mais uma vez mostrar que o Estádio da Luz continua a ser o nosso salão de festas.
Deve haver uma boa explicação
NÃO consigo entender a razão para o nosso melhor ponta de lança, Tiquinho Soares, não ter sido inscrito na Liga dos Campeões.
Como conheço a competência do nosso departamento médico, não acredito que se tenha enganado no diagnóstico de forma tão brutal. Ou seja, que tenha comunicado a quem de direito que o Soares não podia jogar na primeira fase ou que só pudesse jogar no último ou dois últimos jogos. O facto é que, pelos vistos, só teria faltado a um... Não me passa pela cabeça, claro está, que tenha ficado de fora por decisão técnica.
No meu clube quando falhamos, falhamos todos e, não há dúvida, falhamos de forma flagrante.
Parar para pensar
TENHO recebido algumas mensagens muito indignadas por eu, ultimamente, escrever sobre o Benfica e os seus problemas com a lei. Até o meu querido amigo e companheiro de tertúlia Bagão Félix me criticou por isso. Se a esmagadora maioria das mensagens não passam de meros insultos, a coisa muda de figura se pessoas que admiro e respeito me chamam à atenção. Pensei então no assunto.
Estarei eu a gastar demasiado tempo a falar sobre os problemas legais do Benfica? De facto, todo o espaço que gasto sem falar do meu FC Porto é perdido, mas, que diabo, o clube da Luz está envolvido no maior escândalo de sempre do futebol português. Não é o Benfica um clube importante ? Que raio de cronista seria eu se não estivesse atento ao tema? É que esta temática além de pôr em causa a credibilidade de toda a indústria futebolística extravasa para a forma como uma organização consegue chegar a um limite de pensar que está acima da lei. Verifico, aliás, que tenho dedicado pouco espaço ao assunto dada a dimensão e a gravidade do problema e as notícias que vamos tendo quase todos os dias. Sendo eu um interessado na saúde do futebol português, no bom funcionamento dos órgãos de soberania, num desporto limpo e justo, um péssimo serviço prestaria eu aos leitores e a este jornal se não abordasse o tema amiúde.
Estranho é assistir a benfiquistas que respeito, alguns de que sou mesmo amigo e que sempre vi muito preocupados com corrupções, atentados a instituições e poucas vergonhas semelhantes a assobiar para o lado enquanto todos assistimos ao que se anda a passar.