Das coisas impossíveis
É impossível ficar indiferente ao ver o Liverpool erguer a sexta Champions da sua história em Madrid. Porque embora não tão ferrenhos como o André Pipa (como deves ter ficado feliz...), todos somos um bocadinho reds. Talvez pela sua história, feita de muitos sucessos mas também de grandes tragédias; talvez pelo espírito diferente dos seus adeptos; talvez pelo You’ll never walk alone; talvez por ser também impossível olhar para a forma de Jurgen Klopp viver o jogo e não torcer, um pouquinho que seja, por ele; talvez por todas estas razões juntas. Seja pelo que for, tenho a certeza de que quem já teve o prazer de estar em Anfield, especialmente em dia de jogo, era no sábado mais um adepto do Liverpool. Não teve necessariamente de festejar como eles, mas terá, pelo menos, esboçado um sorriso. Porque é ali, num espaço mítico e entre os seus adeptos, que se sente a verdadeira essência do futebol. Na sua face mais bela. E quem consegue manter esse espírito vivo numa era em que o futebol é muito mais negócio do que emoção merece, sempre, ser feliz.
É impossível olhar para a aventura que aguarda Jorge Jesus no Rio de Janeiro e não esboçar um sorriso. Em primeiro lugar um de simpatia, por perceber o prestígio de que goza, mesmo no Brasil, aquele que é, sem dúvida, um dos melhores técnicos portugueses da atualidade. E outro de expectativa, por perceber como pode ser interessante esta ligação de Jesus ao Flamengo. Porque olhando para as declarações do treinador português e para o que dele dizem alguns (ou pelo menos um, para não irritar o Rogério...) no outro lado do Atlântico, e mesmo não sendo perito em futebol brasileiro poder falar, aparentemente, com mais conhecimento de causa do que quem acha que um treinador três vezes campeão em Portugal não tem capacidade para pegar num Flamengo que não conquista o Brasileirão há dez anos, não estou seguro de que os dirigentes do Mengão conheçam exatamente o feitio do treinador que contrataram nem que Jorge Jesus conheça exatamente a realidade do clube que o contratou. Vai ser, também por isso, uma história digna de seguir com atenção.
É impossível ler aquilo que se escreve nas redes sociais acerca do mediatismo de João Félix e não esboçar um sorriso. Mais de pena do que de alegria. Porque aparentemente, pelo menos para alguns, tudo o que se diz ou escreve sobre uma das grandes figuras da Liga 2018/2019 é, claramente (para eles, claro...), fruto de uma campanha para promover um jogador do Benfica. É, em primeiro lugar, bastante deprimente perceber que há gente incomodada por haver no futebol português espaço para mais do que um craque - sim, porque Bruno Fernandes tem também merecido, e bem, espaço condizente com aquele que é o seu superlativo valor. É, em segundo lugar, sinal de que há gente que, mesmo devendo fazê-lo, não consegue olhar para lá das fronteiras portuguesas e perceber que não é só a imprensa lusa (mesmo que com algum exagero, admite-se, como é quase sempre exagerada, e natural até, a projeção que se dá aos craques) a alimentar o fenómeno João Félix. E é, em terceiro lugar, triste perceber que a simples notícia de que Fernando Santos está a pensar colocar Félix como companheiro de Ronaldo no ataque da Seleção Nacional da Liga das Nações - é, de facto, assim tão estapafúrdia, a ideia? - seja olhada como mais uma parangona da campanha de valorização do jogador. É que nem se dignam a esperar uns dias (é já na quarta-feira...) para perceber se estamos certos ou não. Talvez não entendam a diferença: para se escrever num jornal é preciso saber, pelo menos um pouco, sobre o que se está a escrever. Para escrever numa rede social é, apenas, preciso ser mestre da má língua. E ser, também, intelectualmente pequenino.