Darwin a evoluir muito

OPINIÃO15.06.202206:30

Facto: no espaço de seis meses, o Liverpool veio buscar os melhores jogadores do FC Porto e do Benfica pagando muito abaixo da cláusula de rescisão

UMA pena a eterna fragilidade negocial dos grandes portugueses. Este ano foi o Liverpool a aproveitar essas debilidades para enriquecer o plantel com duas aquisições prometedoras. Uma (Luis Díaz), já se percebeu, foi um tiro em cheio. A outra (Darwin Núñez), veremos, mas tem muito para dar certo. Depois de ter rapinado ao FC Porto o seu melhor jogador em janeiro, pagando cerca de metade (€45 milhões) da cláusula de rescisão (€80 milhões), mas aceitando, mediante determinado número de variáveis, chegar aos €60 milhões... o Liverpool repete a história com o Benfica.

Avança com metade (€75 milhões) da cláusula (€150 milhões) de Darwin e dispõe-se a chegar aos 100 milhões, caso o avançado uruguaio cumpra umas quantas variáveis aparentemente de fácil concretização. O negócio com Díaz fez-se naqueles moldes e com aquela urgência porque o FC Porto precisava desesperadamente desse dinheiro para saldar dívidas e honrar compromissos. O Benfica, segundo o administrador Domingos Soares de Oliveira, não estaria assim tão com a corda na garganta, mas percebe-se facilmente que, mesmo que tentasse, não conseguiria convencer Darwin a rejeitar a proposta do Liverpool. O mesmo se diga do FCP em relação a Díaz. Como se explica a um jogador de qualidade minimamente ambicioso que não pode ir jogar para a melhor liga do mundo, numa das melhores equipas do mundo, ainda por cima treinada por um dos melhores treinadores do mundo (Jurgen Klopp)? É claro que os contratos são para cumprir, mas todos os clubes de menor arcaboiço financeiro sabem que há comboios que só passam uma vez na vida e que, em determinadas circunstâncias, não vale a pena fincar o pé e fingir uma força que não se tem.
 

Darwin Núñez, 22 anos, impressionou no Benfica e agora rumou ao Liverpool


Tanto o FCP como o SLB fizeram negócios irrecusáveis, tendo em conta o que pagaram pelos jogadores e aquilo que receberam/vão receber (mesmo que uma fatia substancial das mais-valias esteja à partida afetada ao pagamento de comissões, enfim, diversas). Lembre-se que o FCP pagou cerca de €7 milhões ao Junior Barranquilla por 80% do passe de Luis Díaz, e que o Benfica pagou cerca de €24 milhões ao Almería por Darwin Núñez, cedendo ao clube espanhol 20% de uma mais-valia futura. Na prática, o Liverpool enriqueceu o plantel (já de si fortíssimo) e deixou a liga portuguesa mais pobre. Foi o Liverpool como podia ter sido o United, o Chelsea ou o City.

Como Bruno Fernandes, quando foi jogar para o Manchester United, Luis Díaz precisou apenas de um par de jogos para dizer ao que ia. Impôs-se de maneira fulgurante a ponto de, seis meses decorridos, já ser considerado um dos Fab Four de Anfield. Darwin chega a Anfield com o estatuto de sensação depois de ter impressionado favoravelmente o treinador alemão nos jogos que fez contra o Liverpool nos quartos de final da Champions - o mesmo se passara com o portista Luis Díaz nos jogos da fase de grupos. Podemos dizer que Darwin tem evoluído muito. Há pouco mais de dois anos jogava num clube modesto da segunda liga espanhola e agora junta-se a Salah, Mané, Diogo Jota, Luis Díaz e Roberto Firmino num dos poucos clubes verdadeiramente icónicos do planeta futebol. Darwin progrediu futebolisticamente no tempo que passou no Benfica e é um facto incontestável que sai mais preparado para as exigências brutais do futebol inglês. Mas creio que a grande evolução, o grande salto de Darwin, vai acontecer a partir de agora. O Liverpool é um clube de outra dimensão, com objetivos diferentes dos do Benfica, e Jurgen Klopp saberá como enquadrar Darwin no plantel e projetar para outro patamar o potencial que o atacante uruguaio mostrou possuir na liga portuguesa. Que o guerreiro uruguaio saiba, como Diogo Jota e Luis Díaz, ganhar rapidamente espaço numa equipa construída para lutar por todos os títulos importantes. Sabendo que vai ter de arcar com a comparação com o inesquecível compatriota Luis Suárez, que foi artilheiro (82 golos em 133 jogos) e herói de Anfield entre 2010 e 2014.
 

RONALDO: 15 EM 16

ÉPOCA terminada, tempo de fazer as contas finais. Falemos de golos, sempre o mais importante no futebol. Pela 15.ª vez nos últimos 16 anos (!), Cristiano Ronaldo, 37 anos, foi o melhor marcador português da época com um total de 32 golos (24 com o Man. United, 8 com a  Seleção), claramente distanciado da concorrência. Além de CR7, só mais três portugueses suplantaram a barreira dos 20 golos: Ricardo Horta, do SC Braga, com 24 (23+1); Diogo Jota, do Liverpool, com 23 (21+2); e André Silva, do RB Leipzig, com 20 (17+3). Pedro Gonçalves (Sporting) apontou 15 golos (na época passada tinha feito 25), mais um que os 14 conseguidos por quatro jogadores: Rafael Leão (Milan), Bruno Fernandes (United), Bernardo Silva (City) e Paulinho (Sporting).

Bruno Fernandes merece uma referência especial pois foi o único capaz de se superiorizar a Ronaldo desde que este sucedeu ao bomber açoriano Pedro Pauleta, seu colega de Seleção, como máximo goleador nacional (em 2007). Bruno fez 33 golos contra 31 da lenda em 2018/2019, estabelecendo o novo máximo europeu para um médio. Bruno era o boss do Sporting e Cristiano cumpria a época de estreia na Juventus de Allegri. Resta tentar adivinhar quantas vezes mais Ronaldo terminará no topo dos goleadores. A resposta parece simples: enquanto jogar.  

PS1 - Ronaldo dispensado do jogo com a Suíça por «opção técnica» é uma justificação quase tão bizarra quanto os quatro jogos e 360 minutos consecutivos do jogador mais velho da Seleção, o central Pepe (39 anos), frente a Espanha, Suíça, Rep. Checa e novamente Suíça.

PS 2 - Se considerarmos os golos conseguidos na Seleção Nacional de sub-21, Gonçalo Ramos também chegou à vintena na época (marcou 8 com o Benfica e 12 com os sub-21).