Da Luz a Vilnius
1 - O Benfica ganhou , sem brio, ao Gil Vicente. O pós tempo de seleções gera aquilo que já se conhece como o vírus FIFA. Ontem o City e o Atlético de Madrid perderam e a Juventus empatou. E o Bayern , com uma grande primeira parte, empatou com o próximo adversário do Benfica. Mas ontem o Benfica, com Taarabt em grande , conquistou , com toda a justiça, importantes três pontos. Não foi um jogo conseguido. E o Gil, liderado por um dos brilhantes senadores do futebol português - Vítor Oliveira -, mostrou qualidade de e no jogo e permitiu ver jogadores que importa acompanhar, como o búlgaro Kraev. Hoje teremos o Porto em Portimão e o novo Sporting de Leonel Pontes no Bessa. E desta quinta jornada ficam ainda a derrota do Braga em Setúbal e a confirmação do Famalicão como a equipa revelação neste arranque da nossa Liga. E ficam ainda os números impressionantes de adeptos que, de forma sistemática, marcam presença no Estádio da Luz. Mais de 54 mil é paixão e adesão, coração e motivação. Com Pizzi a marcar e Bruno Lage a liderar. E agora é olhar para a primeira jornada da Liga dos Campeões. Com grandes jogos e com uma crescente visibilidade global.
2 - Arrancam na próxima semana as duas principais competições europeias de clubes. Com jogos fantásticos em Madrid e em Paris, por exemplo, o Benfica recebe o RB Leipzig e quererão Bruno Lage e a sua equipa um arranque vitorioso numa competição que dá dinheiro, gera prestígio e que é uma montra para todo e qualquer jogador. E acreditando nós que o Benfica, este Benfica, se afirmará e projetará, esta época, nesta Liga dos Campeões. A Liga dos Campeões, e em crescendo igualmente a Liga Europa, é um espaço de afirmação de uma marca (clube), um momento de promoção de jogadores (como João Félix bem percebeu!) e múltiplos instantes de visibilidade de estádios e das cidades onde eles se situam. Lisboa, Porto, Braga e Guimarães serão notícia ao longo desta semana em diferentes e diversificados meios de informação e de comunicação. Incluindo, obviamente, nas redes sociais. E num momento em que o Estádio da Luz, para legítimo orgulho benfiquista, foi considerado um dos melhores estádios do mundo para eventos desportivos! O que implica que é um estádio atrativo e sugestivo, particularmente, e por exemplo, no que concerne a facilidade de acesso a pessoas portadoras de deficiência! Mas importa reconhecer nesta aldeia global que o futebol e o seu especifico turismo têm relevância económica e que esta suscita um efetivo crescimento em razão da mobilidade europeia. E esta proximidade que os novos céus de uma Europa sem fronteiras proporcionam e, com ela, a circulação sem condicionalismos ou constrangimentos - diríamos que antes de um complexo e duro Brexit! - são motivo para viagens curtas e para o conhecimento de outras gentes e outras línguas, outra gastronomia e outra cultura, outra história e outras formas de ser e de estar. Mas com a consciência que o futebol é um palco de encontros, de partilhas e de conhecimentos. E desde Edmund Burke sabemos que «não há conhecimento que não tenha valor»! Não há mesmo!
3 - Também como José Sottomayor sentimos que «a amizade não é o mais importante mas é o que importa». E mais: «não é uma palmadinha nas costas mas também é»! Com o líder Bruno e o mestre Pedro, o bom Paulo e a sorridente Gintare, mais o nosso amigo búlgaro do coração Rodi, fomos até Vilnius ver o jogo de Portugal contra a Lituânia. Num estádio pequeno, mas esgotado, assistimos a uma saborosa vitória de Portugal e com quatro golos de Cristiano Ronaldo. E estremeci, logo no arranque, com o hino português a ser cantado, a plenos pulmões, por uma companhia de fuzileiros. Que nos contagiou e emocionou. Eu que sou sobrinho-neto do Almirante Roboredo e Silva, o marinheiro que os fundou. E aquele hino, sentido e assumido, quase que estremeceu o estádio. Sentimos, clara e indiscutivelmente, o reconhecimento de todas e todos da excelência da nossa Seleção e o aplauso intenso de todo - todo mesmo - o estádio ao capitão da Seleção portuguesa. E com o calor humano do Arunas e do Justas - aquele abraço! - também sentimos o que é o bem receber, o que é partilhar sentimentos e vivências, o que é ter o prazer de fazer descobrir um País que tem uma história rica, monumentalidade e paisagens deslumbrantes. Vilnius, a capital, é património da humanidade e a cidade velha permitiu-nos conhecer o orgulho lituano. Que na sua rica e intensa história - foram uma grande potência do centro da Europa entre os séculos 13 e 15 - souberam o que é dominar e ser dominado, persistir e resistir, ser peão no meio de grandes poderes, como o russo (depois soviético) e o polaco. E o futebol permite, para além dos protocolos que por vezes perturbam ou angustiam (sem sentido), conhecer sítios e pessoas, ambientes e vivências, gastronomia e línguas. É que a língua é um instrumento de comunicação e, logo, possui um estruturante caráter social. Aprendi com a simplicidade e a frontalidade do querido Arunas que o lituano é uma das línguas indo-europeias mais antigas e que, no seu alfabeto latino, resistiu a tudo e a todos. Mesmo nos tempos mais complexos era a língua das aldeias quando o polaco, dominante, era a língua das cidades. E o seu documento mais antigo data de 1503 e é, sugestivamente, a Oração ao Pai Nosso. Tudo isto aprendemos nestes dias em que regressei, após 32 anos, a Vilnius. E, graças à contínua simpatia do Arunas, todos assistimos ao jogo na passada terça feira na tribuna presidencial do estádio. Ao meu lado sentou-se um simpático e comunicativo lituano. Fomos comentando, em inglês, o jogo e as suas incidências. Senti a sua imensa alegria, bem partilhada , quando a Lituânia marcou um golo «ao campeão da Europa». Mas quando Cristiano Ronaldo marcou o seu quarto golo tocou-me no braço e exclamou : «Karalius Ronaldo». E repetiu uma e outra vez. Intrigado perguntei-lhe o que tinha dito. E ele, de sorriso aberto diz-me em inglês: «Rei Ronaldo»! Ele é Rei! E, assim, o significado das palavras tocaram-me profundamente. O nosso capitão, o «nosso senhor dos golos», a ser reconhecido na tribuna presidencial do estádio nacional da Lituânia. E, pouco tempo depois, um jovem lituano, Audrius Gadelkis, invadiu o terreno de jogo e ajoelhou-se perante Ronaldo para lhe pedir uma selfie. O que não conseguiu, diga-se, e sendo obrigado a pagar, de imediato, uma multa de 30 euros. E, assim, se constroem e se sedimentam amizades. Sendo que esta «duplica as alegrias e divide as tristezas»!