Da E2 a Salónica
1 Foi um verdadeiro derby. Emoção, discussão, paixão. Um guarda redes - o do Sporting - que defendeu tudo e um jovem jogador talentoso do Benfica - João Félix - que marcou, de cabeça, um golo que valeu um ponto. Foi um derby rijo e em que o Benfica mostrou que pode crescer e em que o Sporting de José Peseiro evidenciou resistência psicológica e que a equipa está para além das disputas eleitorais que apaixonam o tecido associativo leonino. O que importa realçar são os dois reforços encarnados que surgiram da Academia do Seixal: Gedson Fernandes e João Félix. Agora Rui Vitória e toda a equipa vão focar-se na Grécia, em Salónica e no PAOK. Na próxima quarta feira decide-se a Europa do Benfica. Ou a Europa dos milhões ou a Europa da segunda velocidade. Por mim, e depois dos testes difíceis, - como o de ontem - acredito que este Benfica vai entrar na fase de grupos da Liga dos Campeões. Tenho essa sensação. Com a consciência que é fruto da minha paixão. Como, aliás, a minha crença no talento de João Félix.
2 O futebol é paixão e é sensação. Sensação de pertença. Ontem em Vidago um brasileiro que vive em Gaia vestia, desde manhã cedo, uma camisola do Benfica. «O Benfica é o meu time», dizia-me com vaidade. E eu sorri. De orgulho. 0 futebol aproxima-nos de verdade. Há semanas em Sernancelhe um simpático emigrante português da Suíça olhou-me fixamente durante largos minutos e perante o assumido espanto do Paulo, do João e do Hermínio disse-me: «Conhecemo-nos de Neuchatel, certo?» E eu, perturbado, tive que dizer que não, que nem conhecia aquela cidade suíça. Ontem, no Resineiro -um baluarte gastronómico e um gigante de hospitalidade de Vidago - viveu-se o derby com uma paixão vibrante. Com a sensação de, a uma distância imensa, se vibrar com o fervor que a BTV transmite, com o relato arguto do Hélder Conduto e com as diferentes cores que cada Benfica-Sporting expressa e suscita. E é esta paixão que sentimos. No Estádio da Luz e em cada um dos estádios do mundo que nos proporcionam quase cem minutos de ligação e paixão, de sensação e de, por vezes, pouca razão. E ali, quase no inicio da cada vez mais procurada - e com razão! - EN 2, sabemos que fizemos 738 quilómetros entre Faro e Chaves, ultrapassámos quatro Serras, ladeámos onze rios e abraçámos trinta e três Municípios que, em boa hora, criaram a Associação da Rota da EN 2. Que se assemelha à ‘Ruta 40’ na Argentina ou à emblemática - e bem procurada - ‘Route 66’ nos EUA. Esta EN 2 merece, de verdade, uma oportunidade. Tal como a Quinta do Portal e a sua degustação, após uma visita a uma Adega desenhada com o traço singular de Siza Vieira. A EN 2 tem isso. Leva- nos aos caminhos da velha Lusitânia e embala-nos para a paisagem única do Alto Douro Vinhateiro. Chaves e Régua, Viseu e Sertã, Santa Comba Dão e Ponte de Sor, Almodôvar e Loulé são pontos de passagem. Como o é, logo no arranque, o renovado Vidago Palace - sem BTV! - o naco de vitela na Quinta dos Carvalhos ou o simpático e acolhedor serviço no já referido Resineiro, com toda a equipa a mostrar uma contagiante simpatia. Mesmo aquela que é de cor diferente… Azul como a Ana Sofia!!! E, mais em baixo, a mesma EN 2 agarra a Barragem da Aguieira sob o olhar reverente de um Hotel Montebelo, depois das farturas e das enguias na Feira Franca de São Mateus. E, assim, com o Mário e o Paulo, a Irene e a Cristina, a Ana e a Isabel, o Joaquim e os Alexandre(s) se sai de Faro e se chega a Chaves e se sente e pressente o Portugal profundo, o Portugal que acredita que cada um de nós é um ser que se não repete e que, para além dos discursos e dos manifestos, as tradições se repetem, as vinhas crescem e piscam-nos os olhos, a afabilidade é natural e frontal, as meias doses são, sim, doses em Lisboa ou no Porto, os licores de ervas são servidos com fervor e paixão e que, sempre, mas sempre, a simpatia está para além das cores dos clubes que sentimos e com os quais sofremos. Sim sofremos. Na Luz, em Vidago, em Sabrosa, em Viseu ou, na próxima quarta feira, em Salónica. Com a consciência que o futebol é uma imensa estrada. Com história e com estórias. Com sentimentos e pressentimentos. Que nos levam a acreditar que o Benfica vai chegar, com mérito e muito sofrimento, à fase de grupos da Liga dos Campeões. É que se a EN2 começa em Chaves - seu quilómetro 0! - ela acolhe milhares de espanhóis que de Orense dão um salto ao golfe e às águas de Vidago, degustam um arroz de linguiça e regressam ao trabalho num vaivém que nenhuma fronteira consegue perturbar. Era assim que há cinquenta anos, na companhia de meus queridos e saudosos Avós, deixava Viseu e chegava a Salamanca em cada final de Agosto. Num ritual que a memória não apaga. Como não apaga os relatos do Benfica, agora renascidos em alguns canais de televisão. Fazendo-nos acreditar que o mundo é feito de mudanças. De muitas mudanças. Mas o que permanece é a Família, os Amigos de verdade e, assumo-o, o clube do nosso coração. Que nos faz sorrir e sofrer, sonhar a acreditar, vibrar e emocionar. Em qualquer lugar. Como ontem em plena EN 2! Venham vibrar com esta estrada. Que vos leva a um Portugal que vale a pena conhecer. Vale mesmo!
3 O ouro de Fernando Pimenta nos Mundiais de Montemor mostraram que valeu a pena a aposta da Federação e da instâncias do desporto de Portugal na organização de uma prova que trouxe até nós os grandes nomes da canoagem. O que mostra que a liderança não se decreta. Por muito que alguns, poucos, o desejem!