Da burrice ou não
Para mostrar que o melhor futebol (ou um futebol melhor) não nasce nos pés de quem o joga, nasce na cabeça de quem o estiver a jogar, Arrigo Sacchi usou sagaz metáfora:
- Miguel Ângelo pintava com a mente, não pintava com as mãos. Por isso só quero jogadores inteligentes na equipa.
Perante o que foi o Benfica em Atenas (sobretudo na segunda parte que só não foi tragédia grega no resultado porque se soltou momento Éder do Alfa) eu não deixei de pensar nisso (e noutra coisa). E o que me fez pensar na outra coisa foi o vendaval que se espicaçou nos remoques ou ataques a Rui Vitória (mais estranhos por saracotearem-se entre benfiquistas por redes anti-sociais) - levando-me a que eu tirasse do palanfrório a ideia: quando uma equipa tem jogadores que jogam o jogo a esconder a inteligência que até têm na cabeça que lhes nasce nos pés (ou pelo menos já mostraram que têm) não é justo que se ache que o culpado do desconchavo é o treinador (e mais tremendamente injusto é achá-lo o principal e único culpado).
Sim, também sei que o Javier Marías, naquele seu jeito astuto de olhar o jogo em poesia crua, o revelou:
- Não há nada que seja mais angustiante que um futebol angustioso.
É verdade (como verdade é que o futebol é uma montanha russa de sentimentos destravados) - e, por isso, percebo que ver o Benfica fazer a encas- murrada exibição o que fez em Atenas (como já fizera em Chaves) tenha dado na angústia que deu. Já não percebo (repito-o) o achar-se que esse futebol angustiante se deva a burrice do seu treinador. Que com ele o futebol do Benfica esteja condenado a perder-se em trevas e escorralhas. Que ele seja incapaz de tirar a equipa de becos sem saída (já a tirou, arguto) e de a pôr a seguir de estrela em estrela sem o céu a esgotar-se (já o fez, esperto). E por isso me parece que mais do que melhor Rui Vitória - do que o Benfica precisa é de jogadores com a cabeça melhor que o treinador não lhes pode ir pôr nos pés (ou braços...)