Da Bola de Ouro
EU sei que, não há muito, Jorge Valdano escreveu em A BOLA: «No futebol chamamos génio àquele que não se ajusta a um padrão e transforma em normais coisas que parecem mágicas. Ou seja, Messi» - e a crónica fechou-a assim: «Quanto ao seu estatuto global, entrará com todo o direito entre os melhores jogadores da história do futebol. Jamais me ocorrerá dizer que Messi é mais do que Di Stéfano, Pelé, Cruyff ou Maradona. Tão pouco que é menos.»
Repararam? No friso dos seus deuses maiores, Valdano não pôs Ronaldo - e não o pôs por achar que, por exemplo, ao contrário de Messi, Ronaldo não dá ao futebol a dimensão para-humana que ele acha que o Messi lhe dá, os outros lhe deram. Para mim, porém, dá-lhe demais coisas (e o que já lhe deu, dá-me também a ideia de que, apesar do Cruyff no Valdano, o Melhor Jogador Europeu de Todos os Tempos é Ronaldo).
E é-o por se ter transformado no jogador em que que se transformou - despojando o seu jogo de frivolidades e extravagâncias, para com engodo e astúcia se tornar no que acho que igualmente é: O Maior Goleador de Toda a História do Futebol (e não estou a referir-me à contabilidade do golo). E é-o ainda por no seu futebol haver (entre mais, claro) o que raramente eu vi noutros assim: o ataque ao destino e à história (de dentes afiados nos pés e na cabeça) - a contrariar mantra que diz que numa equipa um sozinho nunca é suficiente (e ele é...)
OK, Messi tornou a ter muito Messi dentro de si - tornou a ser o Messi para quem a bola é poema (e encanto), o drible não é temeridade (é inspiração), o passe não é tentação (é solução). Sim, também teve golo (muito golo) a soltar-se das melhores virtudes do artista: a criatividade, a fantasia e o coração - mas se Portugal ganhar Liga das Nações com o Ronaldo a fazer à Holanda o que fez à Suíça - a Bola de Ouro pode (muito bem) voltar-lhe aos pés. Apesar do Messi (ou do Van Dijk). Aliás: pode não, deve (a menos que o Messi seja o Maradona na Copa América - e a ganhe...)