Curiosidades no meio de ‘overdoses’

OPINIÃO30.05.201801:19

Entre as sucessivas overdoses da crise sportinguista que enche o país das televisões de um modo quase omnipresente, tornando aos olhos dos mais incautos tudo o resto insignificante (ao ponto de um antes reconhecido canal de notícias ter dedicado mais de duas horas em directo a uma conversata do presidente leonino, espaço jamais dado a alguém no planeta!) e a sobredose que se vai seguir em redor de todos os detalhes do Mundial da Rússia, escolhi hoje escrever sobre curiosidades, que é o que me resta entre o tudo que não é o todo e o nada que não é o zero.
Resolvi ver com atenção o atlas do nosso futebol, isto é, a sua geografia que, ao longo dos tempos, vem pintando o Portugal futebolístico.


Nos já disputados 84 campeonatos da 1ª divisão, a distribuição de clubes que neles jogaram por distritos e regiões autónomas é a seguinte:
1º Porto - 14 clubes, dos quais 6 da cidade do Porto e arredores (Porto, Boavista, Salgueiros, Leixões, Académico, Leça)
2º Lisboa - 12 clubes, dos quais 6 da capital e arredores (Benfica, Sporting, Belenenses, Atlético, Estrela da Amadora e Casa Pia)
3º Braga - 8 clubes
4º Aveiro - 7 clubes
5º Setúbal - 6 clubes
6º Faro - 4 clubes
7 º Madeira, Coimbra, Leiria e Portalegre - 3 clubes
11º Viseu - 2 clubes
13º Vila Real, Açores, Castelo Branco, Santarém e Évora - 1 clube


Há alguns distritos do nosso país que jamais tiveram um representante. É o caso de Viana do Castelo, Guarda, Bragança e Beja. Aliás, nem sequer alguma vez estiveram representados na 2ª divisão. À tangente e há já muito tempo (1976-77) o distrito de Santarém foi representado 6 vezes pelo União de Tomar, clube por onde Eusébio até passou em 1977. Também Évora só lá esteve com o velhinho Lusitano Ginásio Clube, a última vez em 1966.


Apenas os chamados 3 grandes participaram em todas as provas, seguidos do Belenenses (não esteve em 7), Vitória de Guimarães (em 11) e Vitória de Setúbal (em 14). Seguem-se a Académica (esteve em 64 vezes), Sp. Braga (em 62), Boavista (em 55) e Marítimo (em 37). Dos clubes que não militam actualmente na 1ª divisão é, curiosamente, o Beira-Mar quem mais vezes lá esteve (27), agora que anda pelos campeonatos distritais. Aliás, se exceptuarmos o Estoril que desceu agora (26 presenças) e o Leixões que está no 2º escalão (25 presenças), os que se lhe seguem estão afastados das competições ditas profissionais: Salgueiros (24), Atlético (24), Barreirense (24) e CUF (23).
Para além dos grandes, os dois clubes que há mais tempo estão consolidados na divisão principal - há mais de 40 anos - são o Sp. Braga (desde 1975/76) e o Marítimo (desde 1977/78).


 De todos os clubes houve alguns que desapareceram como os industrialistas Riopele e Unidos FC (CUF de Lisboa), outros extintos por fusão (Carcavelinhos e União de Lisboa que deram origem ao Atlético), e o Estrela da Amadora (substituído pelo Clube Desportivo Estrela), o Académico do Porto, Seixal e Montijo e, mais recentemente, o Campomaiorense e a Naval 1º de Maio que abandonaram ou suspenderam o futebol sénior. Há ainda o caso da Associação Académica de Coimbra que, por tonta inspiração do PREC, se metamorfoseou, durante poucos anos, em Académico de Coimbra e a CUF do Barreiro que agora se chama Fabril do Barreiro, depois de já ter sido Quimigal.
Longe da 1º Divisão numa travessia do ‘deserto’ jogaram esta época em escalões distritais, Beira-Mar, União de Coimbra, Alverca, O Elvas, Leça, Tirsense, Lusitano de Évora, União de Tomar, Amora, Barreirense, Fabril do Barreiro, Ginásio de Alcobaça e o Atlético Clube de Portugal (este desclassificado no distrital lisboeta).


Na 3ª divisão, pomposamente chamada Campeonato de Portugal, jogaram Trofense, R. Águeda, Torreense, Casa Pia, Oriental, Felgueiras, União de Leiria, Vizela, Fafe, Sp. Espinho, Sanjoanense, Salgueiros, Olhanense, Lusitano VRSA, e o semifinalista da Taça de Portugal deste ano, Caldas.  Junta-se-lhes o Farense que, porém, acaba de regressar à 2ª divisão.  


Fazendo as contas totais entre 1934/35 e 2017/2018, nas 1265 presenças, verificamos que Lisboa comanda com 27%, seguida do Porto com 23% e Braga com 14%. Se lhes juntarmos Setúbal (10%), constatamos que 74% das equipas que jogaram no escalão principal se concentram nestes quatro distritos do litoral. Considerando ainda Coimbra (6%), Faro (5%), Madeira (5%) e Aveiro (4%), temos quase completo o mapa da 1º divisão, ou seja, de 94% do total. No actual campeonato, resistem Chaves e Tondela fora deste perímetro, a que agora se vai juntar o regressado Santa Clara da ilha de São Miguel!


O futebol está cada vez mais associado à economia de cada parte de Portugal. Nada que seja de espantar. Exemplos remotos de equipas alentejanas e beirãs, entre outras, são cada vez mais difíceis de reproduzir no actual enquadramento económico-social. A chamada desertificação do interior é também avassaladora no futebol profissional.


Verifica-se aqui o que é manifestamente visível a nível europeu. Um futebol feito de diferentes anéis quase estanques. O dinheiro faz a diferença e os seus reguladores acentuam-na por vezes despudoradamente, como é o caso da UEFA. Por cá, a excessiva concentração dos direitos televisivos tende a agravar o fosso entre os clubes.


Um último apontamento estatístico relativo às classificações dos principais clubes. O campeão dos campeões é o Benfica (36 títulos) e, curiosamente, também o mais vezes vice-campeão (28). O 3º classificado mais assíduo é o Sporting com 28 posições, sendo que o 4º lugar é mais frequentado pelo Sp. Braga (13), Sporting (12), Boavista e Vitória de Guimarães (10), Belenenses (9). Já o 5º lugar é encabeçado pelos dois Vitórias.


‘MURPHY’ NA LEI DA CHAMPIONS


O Real Madrid venceu a sua 13ª Taça dos Campeões Europeus, terceira consecutiva e quarta no último quinquénio. Notável! Aliás, em 16 finais só perdeu 3 (uma delas contra o Benfica). Treinada por um homem tranquilo, não espalhafatoso, sem essa parvoíce dos mind games e que, depois de ter sido um grande jogador, demonstra saber juntar com êxito uma série de vedetas, qual delas mais vedeta que as outras. O que não é nada fácil e tem sido até o coveiro de outros reputados treinadores que por lá passaram. Curiosa é a circunstância de enquanto passeiam na Champions só a custo conseguem ser campeões na Liga espanhola, ou seja apenas uma vez nos mesmos 5 anos. É equipa talhada para os grandes palcos do futebol planetário.


A final foi vibrante e fica marcada pela lei de Murphy aplicada em cheio ao valoroso Liverpool treinado por outro grande técnico. A lesão de Salah, a habitual condescendência para com o talhante Sergio Ramos, a incrível oferta do seu guarda-redes numa situação que eu nunca havia visto, o frango do mesmo que matou o jogo, uma bola ao poste que daria o 2-2 foram momentos dramáticos para os red. Verdade seja dita que se há clube que mais é bafejado pela sorte e também beneficiado com arbitragens é o R. Madrid. Este ano, com prejuízo para a Juventus e com a injustiça de o Bayern não o ter eliminado nas meias-finais.