CR7 na área a falar com Dadá
O mais provável é que nenhum dos leitores saiba quem é Dário José dos Santos. Menos provável é que todos desconheçam quem é Dadá Maravilha. Aqui, claro, alguns de vós começarão a coçar o cocuruto: «Hmmm, deve ser brasileiro e, muito provavelmente, futebolista». Os mais atentos ao fenómeno nem acabaram de ler e exclamaram: «Claro que é brasileiro! Claro que é futebolista! É o grande Dadá Maravilha!». É verdade. Dadá Maravilha é ainda, depois de Pelé, Romário e Friedenreich, o quarto melhor marcador de sempre do futebol brasileiro. Jogou entre 1966 e 1986 e representou nada menos de 16 clubes: Campo Grande, Atlético Mineiro, Flamengo, Sport, Internacional, Ponte Preta, Paysandu, Náutico, Santa Cruz, Bahia, Goiás, Coritiba, Nacional, XV de Piracicaba, Douradense e, uf!, Comercial de Registro.
DADÁ cruzou-se com a fama e a eternidade a 18 de dezembro de 1971 (atenção: fixem-se, por favor, dia e mês). Nesse dia, num Botafogo-Atlético Mineiro realizado no Maracanã, marcou, de cabeça, o golo do triunfo da equipa de Minas Gerais (1-0) e, com ele, sagrou-se campeão brasileiro. O relógio marcava 63 minutos quando Humberto Ramos fugiu pela esquerda, passou por Mura, Carlos Roberto e Marco Aurélio, e cruzou. A bola saiu larga e tensa e, lá no alto dos altos, Dadá Maravilha fez golo. Foi nesse dia que Dadá se tornou numa lenda. Perguntou ele aos jornalistas, a propósito do voo goleador: «Me digam três coisas que param no ar». Depois, perante a incredulidade dos repórteres, respondeu: «Beija-flor, helicóptero e Dadá Maravilha!»
NÃO há, porém, imagens que provem que Dadá parou no ar no momento do golo. Há apenas 44 segundos de um filme com 48 anos em que se vê Dadá no ar a cabecear para o golo. Não se percebe se, à semelhança dos beija-flor e dos helicópteros, parou no ar. Mas a lenda ficou. Anos mais tarde, já retirado, exclamou: «Quando eu saltava o zagueiro conseguia ver até o número da minha chuteira». Ou seja, os olhos dos defesas estavam abaixo das botas de Dadá. Impossível, claro. Tal como aparentemente impossível foi o que aconteceu a 18 de dezembro de 2019 (relembrem-se, por favor, do dia e do mês do golo de Dadá no Maracaña).
QUE aconteceu, então, a 18 de dezembro de 2019, 48 anos após o golo de Dadá? Foi o dia em que, no Estádio Luigi Ferraris, se juntaram, por absurdo que possa parecer, milhares e milhares de beija-flores e milhares e milhares de helicópteros. Estávamos no minuto 45 quando Alex Sandro cruzou da esquerda do ataque da Juventus. A bola voou 40 metros e do outro lado, no alto dos altos dos altos, impulsionado por milhares e milhares de beija-flores e milhares e milhares de helicópteros, apareceu a cabeça de Cristiano Ronaldo. Primeiro, o cocuruto. Depois, o pescoço. Mais tarde, o tronco. Finalmente, a bacia, os joelhos, os gémeos, o calcanhar de Aquiles e ainda calcâneo, astrágalo e todas as falanges. Nicola Murru, o defesa que o marcava, olhou para cima e observou: Nike, 41,5. E contou os pitons das duas chuteiras. A seguir a bola entrou na baliza da Sampdoria. E o golo entrou na história e Cristiano Ronaldo tornou-se ainda mais lenda.
DADÁ MARAVILHA, atualmente comentador da TV Alterosa de Minas Gerais, teve de reformular a frase histórica de há 48 anos: beija-flor, helicóptero, Dadá Maravilha e Cristiano Ronaldo. Dizem que CR7 foi visto ontem, em Riade, a jogar a Supertaça italiana. Há quem diga, porém, que está ainda em Génova, três metros acima da grande área da Sampdoria, a conversar com Dadá Maravilha. Ambos acompanhados por milhares de beija-flores e milhares de helicópteros.