Contem com o Braga
António Salvador, desde que assumiu a presidência do SC Braga, em fevereiro de 2003, voa nas asas do sonho de ver o seu clube campeão até ao ano do centenário, em 2021. Essa sublime ambição, ou loucura, como se quiser, à distância de sete meses de poder materializar-se, continua a ser uma empreitada de enorme complexidade, mas possível, essa é a realidade, à luz dos resultados, das exibições e da classificação.
O campeonato é uma prova de longa duração e ninguém, neste dia ou neste mês, possui o dom de adivinhar o nome do futuro campeão nacional, a consagrar em maio do próximo ano. Aquilo que se pode adiantar com o mínimo de certeza, neste exato momento, é que há quatro candidatos à vitória final e um deles é o Sporting Clube de Braga, segundo classificado, em igualdade com o Benfica, somando menos quatro pontos do que o líder Sporting e mais dois do que o FC Porto.
Tudo está em aberto e acompanho com muito interesse o percurso de Carlos Carvalhal, um treinador que admiro pela competência, cultura, saber e educação, mas que encaixa mal no paradigma do futebol da nossa paróquia, onde a boçalidade e o discurso inócuo e trapalhão merecem a preferência da classe dirigente que temos, com honrosas exceções, felizmente, e a quem me lembro de uma vez lhe ter dito para, enquanto a sua vida consentisse, se deixar andar por Inglaterra.
Voltou quando julgou conveniente para promover uma temporada fantástica no Rio Ave, acabando no 5.º lugar e colocando o clube de Vila do Conde, pela segunda vez na sua história, nas competições da UEFA.
Acredito que Carvalhal vai continuar a ter sucesso no SC Braga. Está a tê-lo, como os factos demonstram. Trata-se de um regresso ao clube da sua cidade, ao fim de catorze anos, e de um reencontro com o mesmo presidente que o contratou em 2006, embora para uma passagem de curta duração. Pensar no título talvez seja excessivo, mas atacar a Liga dos Campeões, por via direta ou através de pré-eliminatórias, parece-me perfeitamente razoável. A questão é que estão quatro na corrida e só há lugar para três. Pois sim, e por que motivo terá de ser o SC Braga a ficar de fora? Se o campeonato acabasse agora era o FC Porto quem se tramava.
Nas sete jornadas cumpridas, o emblema minhoto teve uma falsa partida, com derrotas no Dragão e em casa, diante do Santa Clara, em jogo que pareceu embruxado. Depois explodiu em Tondela e a partir daí foi sempre a ganhar, com destaque para o banho de tática e de bola que deu na Luz. Mas, lá está, determinante é como acaba, daqui a 27 jornadas. De toda a maneira, é obrigatório realçar o estatuto que o SC Braga granjeou, sobretudo ao longo da última década, assumindo-se como equipa de topo, com um segundo lugar, dois terceiros, seis quartos e um quinto, além de duas participações na fase de grupos da Liga dos Campeões e da presença na final da Liga Europa, em 2011, que perdeu para o FC Porto, depois de ter eliminado, entre outros, Liverpool e Benfica.
A história começa a pesar e pedir ao SC Braga que limite o seu horizonte ao segundo ou terceiro lugares não faz sentido, por serem etapas cumpridas. O primeiro, sim, esse falta, muito mais difícil, porque a concorrência é feroz, mas, depois do que teve de andar para aqui chegar, desistir é que nunca. Nem a perseverança do seu presidente, nem a seriedade do seu do treinador permitiriam que tal acontecesse. Por isso, contem com ele, não subsiste a menor dúvida. Depois se verá, sendo certo, insisto, que dos quatro apenas há espaço para três na elite europeia…
EM rigor, não sei se António Salvador apontou ao título de campeão nacional até ao ano do centenário do clube por estar convencido de que seria um objetivo concretizável ou se o fez com a intenção de transmitir uma mensagem de exigência permanente para se irem subindo degraus até colocar o clube em patamar suficientemente elevado de forma a competir no mesmo nível dos melhores e dos mais fortes. Se a ideia foi esta, ganhou!
O SC Braga da atualidade já não cabe no mapa regional, cresceu de mais, adquiriu dimensão europeia e apesar de não ser ainda visto como um grande nacional é inquestionável que as diferenças são ténues, em termos de organização, estabilidade, imagem, infraestruturas de qualidade, com a segunda fase da academia em construção, e condições de laboração. No entanto, para se tornar uma frente de influência no futebol luso falta-lhe o envolvimento da cidade, falta-lhe uma massa de adeptos mais numerosa e que as empresas locais tomem consciência de que quando a equipa joga, no país ou no estrangeiro, é o nome da região que está a ser projetada, tal como sucede com o Porto, o Liverpool, o Barcelona, o Leicester ou o Nápoles.
Nos tempos que correm, os presidentes de clubes que investem no trabalho e querem legar obra às gerações vindouras são uma raridade em vias de extinção. António Salvador, pelo qual tenho muito respeito, é um deles: o que era o SC Braga quando chegou à presidência e o que é hoje. Só os ingratos não veem…