Contando a areia
Iniciara a semana a refletir sobre o alarme da notícia: 180 mil pessoas passaram pelas praias da Costa. Seriam de mais? Fiz contas: considerei 15 km de praia (diz a CM Almada), e uma faixa paralela média de 40 metros para toalhas, daí resultando 600 000 m2. A DGS obriga a 3 m entre chapéus, pelo que imaginei quadrados por toda a extensão com um chapéu em cada vértice, sob o qual 3 indivíduos. Logo, 12 pessoas por 9 m2 - sensivelmente, pois não são pontos, são toalhas e sacos à larga. Muita gente, pareceu-me, e multipliquei o espaço por seis: 54 m2. Isto é, as mesmas 3 pessoas por vértice de quadrado com 7,3 m de aresta. Já seria mais normal numa praia da Grande Lisboa.
A Agência do Ambiente divulgou lotações melhores que as minhas. Felizmente. Agradeço-as e vou respeitá-las, mas tentei problematizá-las, pois mesmo arriscando errar gosto de pensar nestas coisas. Segundo a APA a lotação da Cova do Vapor à Fonte da Telha é de 78 100, considerando «1 pessoa por 8,5 m2», portanto numa área total de 663 850 m2 - falhei por 63 850; não é fácil contar areia… Como a raiz quadrada de 8,5 é 2,9 significa que num quadrado com quase 3 metros de lado estaria uma pessoa! Não será exagerado? Imagine-se uma família de 2, 3 ou até 4, tal como acontece com a maioria, que estará junta nesse espaço de um. Com os tais 12 em 54 m2, a relação desceria para 1 em 4,5 m2 - mais apertado, mas plausível - e caberiam, ao mesmo tempo, sem contar com mar, dunas e bares, 147 444 banhistas. A questão já seria mais de conforto do que sanitária e as tais 180 mil pessoas que passaram por lá já não pareceriam anormais. Se um terço, 60 mil, aventuro, passou o dia e as restantes só a manhã ou a tarde nunca terão estado mais de 120 mil em simultâneo onde cabem, na minha amadora e espero que desculpável intromissão, 147 444.
Em todo o caso, varie e leia o Em Busca da Praia Perfeita, de Luís Pedro Nunes e Tiago Froufe, um guia de Moledo a VRSA. Não passe o verão a contar areia.