Construir uma equipa

OPINIÃO28.04.202206:55

Para que o nosso futebol atinja patamares dos mais elevados, a questão essencial está nas instituições que o tutelam

N ÃO basta juntar duas dezenas de jogadores para se criar uma equipa. Tem de existir um compromisso coletivo, uma identidade de processos, uma confiança na liderança e uma entrega total. O todo passa a ser o mais importante porque indestrutível com objetivos comuns, decisivos e partilhados. Se a esses atributos se juntar o espírito de união, a vontade em vencer e em encarar cada jogo como uma final, seja onde e com quem for, temos os ingredientes que nos aproximam do sucesso. Mesmo nos momentos em que as dificuldades possam acontecer, a organização aperfeiçoa-se cada vez mais. Claro que deve ser sempre exigente a escolha dos protagonistas. A coesão está no sangue e ganha dimensão importante. Para que o nosso futebol consiga atingir patamares internacionais dos mais elevados, a questão essencial está nas instituições que o tutelam. Da consistência à estruturação, da justiça à imparcialidade, a dedicação exclusiva ao futebol não se padece com acumulações de funções, mas antes com uma visão coerente e transparente. Quando a justiça tem cores ou inclinações, o rumo dificilmente se consegue endireitar. Castigar é uma necessidade para manter a evolução, mas unicamente com decisões certas, adequadas e universais… caso contrário fica a impressão de arbitrariedade, de questiúnculas pessoais e até de vaidades com algum fanatismo à mistura. Não há coincidências no futebol! As conquistas das vitórias têm de ser autênticas, sem suspeições nem erros, mesmo com a imprevisibilidade que o futebol felizmente mantém. Os adeptos, se acreditarem na justiça, certamente se dedicarão a apoiar os seus clubes, sem ferir a dignidade dos jogos e das instituições. Mas o respeito ganha-se com a normalidade dos que sabem ser justos e sérios. Por vezes, a lentidão da justiça é tal que, só por si, alimenta suspeições, quer nos castigos, quer no tempo em que são determinadas. O futebol, nas diversas instituições, não pode ser um part-time de acumulação de funções onde diversos protagonistas, mais do que se colocarem em bicos de pés, revelam frustrações, deixam ideia de perseguições e falta de entendimento do jogo, que nunca permite ser brilhante. Desde as entrevistas rápidas nos finais dos jogos às conferências antes e depois, o mais importante é a apresentação com equilíbrio emocional, promovendo cada um como momento inesquecível. É altura de impedir a existência de casos que diferenciam clubes com decisões inesquecíveis e de lesa-futebol. Outro aspeto que tem prejudicado o jogo são os momentos de ironia grosseira, hipócrita, em vez de apresentar com rigor, e mesmo humor, alternativas a explorar. O futebol tem linguagem própria, que vai evoluindo, mas sem a velocidade da criação terminológica, muitas vezes sem significar praticamente nada, pois quanto mais simples se conseguir falar de futebol mais perto se fica da realidade e do conhecimento. Há uma pseudo-elite que procura manter-se na crista da onda para surfar (teoricamente), várias vezes para influenciar o que todos viram da mesma maneira, mas com algumas ajudas para acrescentar intenções que não estavam nem dentro do relvado nem na bola. Podemos discordar, apresentar argumentos específicos, mas nunca ao serviço de intenções facilmente desmontáveis. A simplicidade do jogo e a sua análise revelam a dimensão dos protagonistas mas também a inclinação exagerada clubística, com argumentos que chegam a roçar uma psicologia instantânea. Como exemplo, podemos constatar o idealismo de uns, que afirmam que os árbitros do principal escalão deveriam ser todos profissionais; outros, num jogo importante, identificaram um varrimento faltoso provocado pelo guarda-redes, em lance dentro da área, mas sem a coragem de afirmar que se tratou de grande penalidade; até a um grupo de especialistas que identificaram, no mínimo, dois lances merecedores de grande penalidade: onde está o critério das regras que tem de ser preciso e não ter apetites ou clubismos? Há clubes que já perderam títulos e outros que desceram de divisão por lapsos inaceitáveis da arbitragem, que deveria ser impedida de continuar essa saga destruidora e fonte de violência. Os órgãos da FPF e da Liga Portugal têm de funcionar no mesmo sentido, com decisões que sirvam a evolução do futebol e não interesses parciais, com pormenores que podem revelar eventuais dependências ou receios. Só se poderá valorizar o jogo, sem pisões, entradas de risco e sem a presença dos simuladores de faltas inexistentes. O clubismo sadio dos adeptos tem de enviar sinais para dentro das quatro linhas, protestando contra exageros teatrais que não se podem tolerar, enquanto pisadelas cirúrgicas podem afastar atletas da competição. Os árbitros têm de acompanhar o ritmo do jogo, mantendo uma qualidade física sustentável e sempre perto do centro onde a bola se encontra, evitando paragens e quebras do ritmo, que o futebol não merece. A bola é protagonista essencial para quem tem um modelo definido, uma estratégia delineada e uma capacidade de decisão qualificada. Cabe ao adversário colocar novos e inesperados contextos para melhor controlar. Na história do nosso futebol coexistiram equipas fantásticas, presidentes e treinadores de enorme valia, jogadores cuja memória coletiva os adeptos nunca deixarão esquecer, pois foram eles que impulsionaram o jogo, que conseguem manter a marca significativa no futebol. Tomemos como exemplo, neste momento em que o presidente do FC Porto atinge 40 anos à frente do clube, como o mais titulado do mundo, as referências públicas de muitos protagonistas, como Gianni Infantino, Aleksander Ceferin, Florentino Pérez, Joan Laporta, Enrique Cerezo, e muitas outras personalidades nacionais e internacionais, com todos a reconhecerem publicamente a ação do Presidente Pinto da Costa, com património inédito, como por exemplo, o ex-Presidente da República, Ramalho Eanes, que sobre ele afirmou: «É na inteligência, capacidade de decisão e ação que Pinto da Costa operacionaliza a impressionante capacidade de dirigente…» O futebol nacional, felizmente, tem história valiosa, embora algumas vezes nos esqueçamos de trazer à memória tantos momentos e tantos protagonistas que nos orgulham e que fazem e fizeram do movimento associativo um exemplo de serviço público inesquecível. É sempre um regresso imaginário à nossa meninice que aproxima gerações que nunca podem ser esquecidas, assim como o tempo em que as equipas que iam em digressão, para fora de Portugal Continental, integravam, por cedência e bom entendimento dos clubes, um ou dois dos melhores jogadores das equipas adversárias para se fortalecerem e prestigiarem o futebol português: que excelentes exemplos! Como foi possível perder essa grandiosidade?

Por isso, desejamos que as atitudes de alguns dirigentes, sem memória, não desvirtuem o exemplo e o património do nosso futebol. Que os avós e pais enriqueçam as histórias mais fantásticas e positivas do futebol nos mais jovens: será sempre o golo mais bonito e marcante.
 

Pinto da Costa foi elogiado por muitas figuras públicas pelos 40 anos de presidência


CAMPEONATOE TAÇA DE PORTUGAL 

À medida que o tempo avança a Taça de Portugal vai ter final inédita: FC Porto e Tondela, no Jamor, na que é designada como a maior festa do futebol nacional. Que seja mais um momento prestigiante. Os dois finalistas mereceram essa presença, pelas vitórias alcançadas, que ficarão para sempre na história de cada um.

No Campeonato (após o jogo da Taça, em que os azuis e brancos superaram o Sporting, com todo o mérito), o FC Porto deslocou-se a Braga onde perdeu por 0-1, num jogo arbitrado por Hugo Miguel, com as já habituais decisões que continuam deixando um rasto de momentos infelizes, sem penalização. Surpreendente mas merecido o empate do Famalicão na Luz, com inteiro mérito. No Estádio do Bessa, o Boavista perdeu com o Sporting, aumentando a emoção dos jogos finais. 
 

REMATE FINAL  

Sérgio Conceição e o FC do Porto igualaram o recorde europeu de 58 jogos sem perder no campeonato, que estava na posse do Milan, com o treinador Fabio Cappelo (entre 1991 e 1993), com os dragões a revelarem uma organização e qualidade de jogo fantásticas. Com cinco anos consecutivos à frente da equipa do FC Porto, Sérgio, nas últimas épocas, conseguiu recordes em diversas áreas, que revitalizaram o clube com uma dinâmica muito forte, com muitos golos marcados e conseguindo fazer, de um plantel diversificado, uma equipa muito coesa, que acaba por valorizar também cada jogador.

Faleceu Sérgio Abrantes Mendes, antigo presidente da Mesa da Assembleia Geral do Sporting e candidato à presidência do clube em 2006 e 2011. Antigo juiz desembargador, sportinguista exemplar, construtor de amizades e diálogos, manteve sempre a tolerância como argumento imprescindível. O clube ficou mais pobre.