Consciencialização

OPINIÃO26.02.201903:00

AOS poucos, aos pouquinhos, parece que a sociedade portuguesa começa finalmente a perceber que o fenómeno da violência no desporto é algo que deve ser fortemente evitado e profundamente condenado. «Prevenção capaz, punição exemplar». Se tivesse que escolher um lema, seria este. É a dicotomia que faz sentido. A única que conseguirá diminuir, drasticamente, este flagelo crescente.


Felizmente, clubes e autarquias, forças de segurança e até adeptos - adeptos comuns - parecem agora entender que quem bate, quem cria confusão e quem perturba a ordem pública não pode entrar num estádio ou num pavilhão. Não tem lugar ali, não pertence lá nem a lado nenhum. A força das imagens que vieram (e têm vindo) a público - algumas mereciam bolinha vermelha no canto superior direito - serviram para despertar consciências. Serviram para despertar o lado bom, o lado positivo, o lado mais humano de quem, afinal, consegue ver para além da vitória e da derrota, do acerto e do erro, do benefício e do prejuízo.


Nos últimos tempos, várias têm sido as iniciativas que revelam o melhor que os agentes desportivos têm para dar. O melhor que podem, sabem e devem fazer. E são essas que devem ser valorizadas, repetidas e copiadas. Copiadas de tão boas que são, até à exaustão. Em todos os jogos, de todos os escalões, de todos os distritos. O SCU Torreense, por exemplo, criou o projeto Pais Parceiros. Trata-se de uma espécie de escola educativa dirigida aos pais. Aos cerca de 700 pais e mães dos mais de 300 meninos que, afinal de contas, apenas procuram a oportunidade de fazer o que mais gostam, o que mais os diverte e alegra.


Já a UDR Santa Maria terá, no seu torneio de Carnaval, um Prémio Fair-Play para a melhor... claque. Para a claque de papás e mamãs que mais se destacarem pela forma positiva, alegre e animada como irão torcer pelas suas crias. Há poucos dias, o Comando Territorial de Lisboa da GNR - com o apoio do PNED e do Estoril Praia - lançou uma campanha contra a violência, levando cerca de 600 crianças de várias escolas a ouvirem mensagens com os melhores dos valores. No final, todas juntas, formaram a palavra RESPEITO, num exemplo raro e valioso, do tamanho de um estádio. Literalmente.


Há muitos clubes pelo país fora - como, por exemplo, o Paio Pires ou o Torres Novas - que, à entrada dos seus recintos, têm cartazes a dar dicas sobre qual deve ser o comportamento dos pais. Cada cartaz, simpático, leve e apelativo, não custa mais do que 15€ (m2) e devia ser de presença obrigatória em todos os campos e pavilhão do país. O TOCOF, clube da zona de Odivelas, é dos que melhor trabalha a formação pela positiva. A metodologia de treino é de excelência e envolve também os progenitores. O comportamento dos adeptos é, em cada jogo, uma festa. Há música, cor, muita alegria e boa disposição. Um verdadeiro hino ao desportivismo e ao melhor que se pode viver e respirar no futebol. Um dos melhores exemplos da atualidade, que vale a pena seguir com atenção e profunda admiração. Há ainda muitas outras coletividades que, à sua maneira e dentro das suas (reduzidas) possibilidades, têm feito o possível e impossível para caminhar no sentido certo: organizam palestras, sessões de esclarecimento e formações; convidam os pais a apitar jogos-treino; impõem sanções a quem se porta mal e, na verdade, fazem de tudo para que meninas e meninos desfrutem do jogo com prazer e sem pressões. Porque é assim que as coisas devem ser. É assim que têm que ser sempre.


Esta maré positiva deve ser agora potenciada por quem tem verdadeira responsabilidade na matéria. O poder político e as estruturas dirigentes têm aqui uma janela de oportunidade para se associar a este movimento. Podem e devem agora fazer mais. Muito mais do que apenas denunciar ou apelar ao fim de algo que, com palavras, jamais acabará.
É importante que mostrem a toda a gente que este é também o seu problema. Um problema sério, que lhes cabe ajudar a resolver, com atitudes, iniciativas, gestos e medidas. Juntos e concertados seremos muito mais fortes. O fair-play não é uma treta e, se todos quisermos, a violência do desporto, tal como agora a conhecemos, tem os dias contados.