Conceição e o jogo
Estará o público português preparado para ouvir e discutir o futebolês?
Ameio da conferência de imprensa de Sérgio Conceição, logo após a vitória sobre o Gil Vicente, o técnico do FC Porto não escondeu alguma indignação pela enésima pergunta a sobrevoar o jogo para tentar aterrar em algo polémico. Conceição perguntou à plateia por que não era questionado sobre a estratégia que tinha aberto as portas do triunfo e lembrou que, uma semana antes, também não lhe tinha sido pedido que dissecasse como condicionou o Sporting no clássico.
É preciso sublinhar que nem o próprio Conceição está sempre com a disposição certa para responder a esse tipo de questões, contudo o argumento é válido. Para um técnico é importante que os feitos sejam elogiados, ou pelo menos que se reconheça conteúdo num triunfo. No entanto, se ninguém pergunta por que fez o que fez, Conceição sente que as suas ideias nem faladas serão. O treinador conclui o que muitos de nós já concluíram: o atual discurso e nível de comentário não valoriza o futebol português e os protagonistas. E aí a culpa, lamento, está longe de ser exclusiva dos jornalistas.
Estará, no entanto, o público português preparado para ouvir e discutir o futebolês? Estará realmente interessado no ‘como’ ou só lhe importará o resultado, como até aqui? É o que nos diz a cultura desportiva: não gostamos de futebol, apenas queremos que ganhe a nossa ‘tribo’ para nos vangloriarmos nas redes sociais, já que os cafés estão fechados, as cadeiras viradas sobre as mesas, a imperial perde gás e os tremoços apodrecem nos barris.
Depois, estarão jornalistas e comentadores – a quem Conceição acusou de serem os autores das questões desviantes – preparados para realmente falar do jogo, quando as análises terminam em lugares-comuns como o sistema, as dinâmicas, o compromisso, a atitude e a entrega? Ou a sorte?