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OPINIÃO05.11.202205:30

Se a equipa de futebol ganhar, pouco importa quem é o principal accionista do clube ou quem possui a maior parte do capital

É sabido que o objecto das sociedades anónimas desportivas é a participação dos clubes desportivos em competições profissionais. Este é o objectivo para a maior parte dos clubes desportivos, designadamente, de futebol, em Portugal: disputar a Liga de Portugal. Três ou quatro desses clubes não se limitam a querer competir, mas sobretudo a ganhar as competições que disputam, independentemente dos resultados financeiros. Aos accionistas interessam os resultados desportivos, independentemente dos resultados financeiros. Por isso nunca vimos os accionistas, normalmente sócios do clube, a fazerem manifestações de protesto contra a não distribuição de lucros.
Pelo contrário, nas sociedades comerciais o objectivo é a obtenção dos lucros e a sua distribuição pelos sócios, sabendo que também participam nas perdas. Nas sociedades desportivas também se protesta pelas perdas, mas as dos três pontos no final de um jogo em que se sofreu derrota. Nas sociedades desportivas também se discutem empates, enquanto nas sociedades comercias apenas se debatem os empatas que impedem o desenvolvimento dos negócios.
À semelhança de muitas outras, a SAD do Sporting também tem por objecto a participação em competições profissionais de futebol, a promoção e organização de espectáculos desportivos e o fomento ou desenvolvimento de actividades relacionadas com a prática desportiva profissionalizada da modalidade de futebol. Esta é mesmo a definição estatutária do objecto social da SAD leonina, mas se perguntarem a um sócio ou adepto fervoroso do Sporting Clube de Portugal qual é o objectivo da SAD ele responderá, sem qualquer hesitação, que o objectivo é que o Sporting ganhe. Não vou aqui referir o que ele lhe responderá se lhe perguntar se não quer distribuição de lucros.
Se a equipa de futebol ganhar (e para o Benfica e o Porto é o mesmo), pouco importa quem é o principal accionista ou o que possui a maior parte do capital e, portanto, na minha modesta opinião, essa questão não é racional, mas antes meramente emotiva, porque resultante de uma ilusão de que se for o clube a mandar ele também manda qualquer coisa. É verdade que às vezes o ruído manda mais que a razão, mas os resultados não são benéficos porque a força que se afirma pelo berro e pelo grito é sempre efémera e, muitas vezes, com consequências danosas.
Há mais de dez anos que venho defendendo que temos necessidade de aportar capital ou parceiros para a SAD, se queremos ser um grande na Europa e no Mundo do futebol, cumprindo o desígnio do Visconde. Contra uma maioria que não oferece outra alternativa - que não é alternativa - que não seja a venda de jogadores!
E é nessa via obsessiva de não perder a maioria que se passa, de um dia para o outro, e a meu ver antes de tempo, a uma maioria esmagadora, cujo objectivo se desconhece ou, pelo menos, se não entende, porque carece de explicação, que se chega ao ponto de ter de vender jogadores para fazer face a despesas correntes.
 

Tudo levava a crer que 2022/2023 seria de afirmação mas a venda de Matheus Nunes, evitável e não preparada, condicionou a época


... E VENDEMOS JOGADORES NA VÉSPERA DA COMPETIÇÃO!...

D URANTE aqueles mais de dez anos sempre entendi que havia só uma maneira de quebrar o círculo vicioso que consistia (e parece continuar a consistir) nisto: não há dinheiro não há equipa, não há equipa não há títulos, não há títulos não há dinheiro. E francamente sempre manifestei a minha opinião no sentido de que isto apenas se alterava através da entrada de accionistas ou parceiros fortes na SAD.
Qual não é o meu espanto quando uma aparente aposta de risco, ou mesmo louca, resulta num investimento produtivo do ponto de vista desportivo, isto é, redução no fosso competitivo existente praticamente a zero, logo na primeira época. E com a conquista de um título que há tantos anos - demasiados anos! - nos fugia.
Entrada directa na Liga dos Campeões, passagem aos oitavos de final, e, mesmo sem grande investimento, não houve desinvestimento, antes uma gestão inteligente e de oportunidade, fundada no conhecimento e na influência no meio do futebol. E os resultados desportivos? A mesma pontuação da época anterior, vitória na Taça da Liga e na Supertaça e nova entrada directa na Liga dos Campeões, assegurando condições para haver investimento na equipa que se sabia ir ser desfalcada de três internacionais: Sarabia, internacional espanhol e inevitável; e dois internacionais portugueses, Palhinha, mais ou menos inevitável (mas preparada) e Matheus Nunes, evitável e não preparada, e depois de tudo o que se disse dele em comparação com a saída de João Mário. A juntar: a lesão grave de Daniel Bragança, um jogador em ascensão, tudo levando a crer que a época de 2022/2023 seria de afirmação.
Tudo isto, noutro tempo e noutro contexto talvez fosse suportável. Mas na véspera de um jogo importante como o do Porto vender um jogador influente como Matheus Nunes e nem sequer conseguir que ele jogue esse jogo, não só não lembra o diabo como denota a pouca influência no meio, contrariamente ao que havia acontecido com Ricardo Horta que apenas se despediu no fim do jogo com o Sporting. Pior que a história em si, é o sinal que se dá de que nas influências qualquer coisa mudou. Choca-me que, quando tínhamos força para nos afirmarmos, nos deixamos ir abaixo por razões pouco convincentes e para gáudio dos adversários. Alguns amigos meus, maioritariamente benfiquistas, diziam-me, que a saída de Matheus Nunes era uma das melhores notícias do início do campeonato... para eles! Matheus Nunes também não deve estar feliz!...
Não me importa que o Presidente Frederico Varandas diga que é uma patetice dizer que houve desinvestimento no futebol. Sei que no futebol, em geral, não houve desinvestimento, mas na equipa profissional que necessita de investimento no presente, para consolidação, houve mesmo desinvestimento, chamem-me pateta, burro ou o que entenderem que a mim não me incomoda nada. Aliás, se não me incomoda quando a maioria pensa de maneira diferente, muito menos me incomoda quando a maior parte das pessoas pensa como eu. E digo-o com pena e preocupação, porque estávamos num bom caminho e parece que nos estamos a desviar...
Mas por que é que há-de ser sempre assim? Quando estamos bem, há sempre alguém para quem não é suficiente o sucesso do Sporting, quando não está ligado a esse sucesso. A inveja e o ciúme são marcas portuguesas, mas no Sporting podia-se fazer umas pausas mais prolongadas, para que o sucesso durasse mais tempo. E é tão simples: basta colocar o clube acima de tudo e não olhar para o nosso umbigo, que nem sequer é uma parte interessante do nosso corpo.
Começo a ver algumas pedras muito perigosas no caminho em que por onde um ia, iam todos. Foi por isso que, na noite de terça-feira, quando deixava Alvalade, após a partida com o Eintracht, mais do que revoltado com o árbitro, vim, sobretudo, muito desanimado. É o pior que me pode acontecer!...