Como te entendo, Ronaldo!...
Obrigado Ronaldo! Há quem pense que, perante o roubo, devias ter chamado a polícia para tomar conta da ocorrência
M EU caro Ronaldo: és, para mim, o melhor jogador de todos os tempos, e creio que já não conhecerei melhor nos anos que me restam, ainda que não saiba quantos. Não fiquei ofendido de teres atirado a braçadeira de capitão para o chão, tanto mais que ela não continha sequer qualquer símbolo nacional. A sua cor, inclusive, era a da bandeira monárquica, e, que eu saiba, verde e encarnado são as cores da bandeira da República Portuguesa.
Devo dizer que, perante o escândalo, que eu não reduzo a um simples erro, e o teu acto de protesto - o único que percorreu o mundo inteiro - me levantei da cadeira onde estava sentado e te aplaudi, consciente que muitas seriam as virgens ofendidas que se iriam levantar para te criticar e dizer que és um exemplo para a juventude e não podes ter um comportamento desses. Ainda há pouco tempo, e por ocasião da sua morte, louvavam o seu ídolo Diego Maradona, um exemplar consumidor de droga. É assim: para uns o talento encobre tudo, por pior que seja o carácter; para outros o talento exige fazer tudo segundo o politicamente correcto, quando o talento não tem nada a ver com isso. Ficarás na história como um jogador que bateu os recordes que havia para bater, enquanto o outro ficou na história por um gesto batoteiro!
Há momentos na vida em que, perante a injustiça, não temos tempo para pensar qual a forma como devemos reagir!
Como te entendo meu caro Cristiano - e não te podia entender de outra maneira - pois também eu há uns anos reagi a quente perante o comportamento parcial e injusto de um moderador, virando-lhe as costas, em directo e a cores, num programa de televisão. Atirei a minha braçadeira para o chão! Reagi a quente, mas, quando a frio já me encontrava, não me arrependi nem um segundo daquilo que fiz. E não pedi desculpa, porque se a justiça se não agradece, também não tenho que pedir desculpa perante a injustiça e a dualidade de critérios, seja ela negligente ou dolosa.
Como te entendo, Cristiano, como entendi meu Pai, com uma atitude que teve num tribunal de Sintra, quando ainda era um jovem advogado. E foi pela sua voz, e de muitos que assistiram, que ouvi a história verdadeira. Defendia uma professora acusada de ofensa corporal a um aluno, e cuja condenação estava preparada antecipadamente. A forma parcial como o magistrado que presidia ao julgamento revelou-se, desde cedo, sobretudo no modo como tratava as testemunhas de acusação e depois as da defesa, ao ponto de uma testemunha oferecida por esta ter recebido ordem de prisão. Perante tal escândalo - o juiz ultrapassara totalmente a linha da decência e da honestidade - o meu Pai levantou-se, despiu a toga, que durante mais de cinquenta anos viria a honrar, atirou-a para cima da secretária e, virando-se para a sala cheia de público, comentou referindo-se ao juiz: «filho da p...»! A audiência foi suspensa e foram movidas várias influências, a todos os níveis, para que meu Pai fizesse um pedido de desculpas ao juiz. Não o fez, obviamente! O juiz não teve outra hipótese que não fosse designar uma data para continuar a audiência. E ela continuou e terminou com a absolvição da professora e a condenação de duas testemunhas de acusação condenadas por perjúrio. Não fora o acto de coragem de meu Pai, sem recuo, e a professora teria sido condenada sem apelo nem agravo.
Ronaldo viu o seu golo anulado sem apelo nem agravo ou VAR. Mas não fosse o seu protesto e hoje ninguém falaria nele, atento o silêncio ensurdecedor e cúmplice dos dirigentes portugueses, talvez emudecidos por falta de autoridade moral na defesa da verdade desportiva. Na verdade, uma federação que tem no seu seio associações de interesses meramente corporativos, e que tem, na presidência do Conselho de Disciplina, uma deputada que não quer a verdade desportiva, mas antes a mentira grosseira ou dolosa, não pode ter outra atitude que não seja comer e calar. Valeu o carácter do comandante Fernando Santos.
Os capitães de Abril também mandaram às malvas a hierarquia e os cânones militares. E não fosse a sua revolta ainda hoje teríamos a brigada do reumático a governar tudo isto!
Obrigado Ronaldo! Há quem pense que, perante o roubo, devias ter chamado a polícia para tomar conta da ocorrência. Se deixasses a braçadeira no braço ninguém ligava aos protestos do capitão. Assim todos falam e comentam. Já estava à espera. O futebol português não tem apenas um furriel!...
Cristiano Ronaldo protestou pelo golo não validado na Sérvia
Importante é Rúben
N A semana passada defendi aqui a importância do treinador na política ou projecto desportivo, concluindo pela importância determinante e decisiva do Rúben Amorim no rumo desportivo do Sporting.
Na verdade, já aqui defendi que o investimento feito em 2020 com a contratação de Amorim já estaria totalmente recuperado independentemente do resultado final desta época 2020/2021, e mesmo sem considerar que o adiamento da sua contratação podia ser uma oportunidade perdida com consequências que não se advinham, mas que não seriam boas certamente. Acresce que quanto mais anos Rúben permanecer no clube, mais se diluirá a quantia investida. Nesta conformidade, aplaudi e aplaudo o prolongamento do seu contrato, acreditando que não houve qualquer outra intenção que não seja o interesse do clube e da sua SAD.
Claro que quando digo que o importante é Rúben Amorim, não estou a pensar em loucuras incompatíveis com a estabilidade económica e financeira da SAD, mas sim a colocar o foco no treinador como principal sustentáculo de uma caminhada que se iniciou no primeiro trimestre do ano de 2020. Rúben pode ter sido o mais caro, mas pode tornar-se também o melhor investimento no futebol de há anos a esta parte, tornando-se assim barato atenta a rentabilidade.
Temos gasto muitos milhões com jogadores de fraca qualidade e desperdiçado o talento que tem brotado da formação. Rúben aceitou o desafio e não é fácil que um qualquer treinador, independentemente do nível teórico, aceite um desafio destes, num clube como o Sporting! Se tiver o sucesso desejado ficará na história como o novo fabricante de violinos ou mesmo da orquestra completa. Proporcionemos as condições e veremos que não restarão dúvidas.
Tenho muitos defeitos mas acho que todos me reconhecerão que sou frontal e directo, e não escondo a verdade só para ser politicamente correcto. Por isso, devo confessar que, quando foi anunciada a entrada do Dário Essugo, sem estar assegurada a vitória do Sporting no jogo com o Guimarães, achei que o Rúben estava a gozar com o meu coração e não só! E sofri a bom sofrer porque podia dar mau resultado...
Mas valeu a pena o sofrimento, porque a imagem dele, no final, chorando de emoção com os companheiros a felicitá-lo, também me mereceram lágrimas, porque sempre foram momentos destes a razão de eu ser inabalavelmente sportinguista. Como me dizia o meu barbeiro, que me propôs para sócio do Sporting: «Se não fosse do Sporting, gostaria de ser do Sporting!»
E Rúben Amorim, na conferência de imprensa, com a sua simplicidade brilhante, deixou uma mensagem, que é tão importante para a formação do Sporting, como foi para esta ter formado duas bolas de ouro e uma de prata: «Os miúdos que tiverem dúvida entre clubes sabem que aqui têm a porta aberta!»
Por isso mesmo, e em tempo em já se fala de cobiça pelos jogadores do Sporting, eu digo que o importante é Rúben Amorim!
A APAF e os direitos televisivos
N EM queria acreditar que, reunida na Batalha, a APAF pretende ter uma palavra, ou melhor, um quinhão nos direitos televisivos. Num segundo momento, porém, compreendi a ideia, e espero que não estejam a falar daqueles que cabem aos clubes que proporcionam o espectáculo, mas dos direitos resultantes dos programas onde, horas e dias a fio, se analisam os erros grosseiros e dolosos dos árbitros que agora também fazem biscates de VAR! Aí sim, porque são eles indiscutivelmente, os protagonistas pela negativa. Se tiverem acesso aos direitos televisivos de que agora se fala, o que vale é que é só daqui a alguns anos e, pode ser que, até lá, esta geração medíocre e incompetente seja substituída por outra mais bem formada a todos os níveis.
Por ora, não sei se merecem sequer o muito que já ganham sem mostrar a correspondente competência. Decidem jogos e campeonatos; punem jogadores e treinadores, quando não os despedem, sempre agarrados à desculpa do erro humano para ficarem impunes. E ainda reclamam pela partilha de direitos com os clubes que prejudicam. Só falta mesmo reivindicarem um subsídio do ministério da Agricultura para inclinarem mais e melhor certos campos!!!