Com a Espanha afastada, resta-me a Velha Albion

OPINIÃO08.07.202107:00

Com a final do Europeu de futebol no domingo, voltamos às tricas caseiras e à novela desta pré-época:João Mário. Confesso que prefiro o futebol jogado do que o falado

HÁ mais de três anos, por motivos que ainda hoje não compreendo inteiramente, meti-me nos meandros do futebol. Ou seja, deixei de ser alguém que apreciava o jogo e que sofria com o meu clube, o Sporting, para além disso me envolver na vida do clube. Olhando para trás, acho que fiz muito bem; o que estava em causa era demasiado grave; não vou voltar a falar desses tempos, porque não é esse o meu ponto (embora não esquecer Bruno de Carvalho, e como alguém se pode transformar no que ele foi, seja importante para todos os sócios de todos os clubes; aguardemos o que acontece a Luís Filipe Vieira). O meu ponto é outro: quando se entra, mesmo que lateralmente, como eu, numa Comissão de Fiscalização (não na direção ou na SAD), mesmo que transitoriamente (só até haver eleições, o que ocorreu a 8 de setembro de 2018 com a vitória da atual direção), compreende-se como é estranho aquele mundo; como é difícil, quase estoico, ser honesto e probo em tal ambiente.
Não significo, com isto, que não haja muita gente totalmente honesta e irrepreensível, claro que há. Apenas digo que aqueles que o são pagam faturas enormes; em termos de desgaste pessoal, de relações familiares e, muitas vezes, de ingratidão, mesmo por parte dos que consideravam amigos. Mas têm de estar preparados. É imperativo que o estejam, pelo menos mais do que estive quando me insultaram, ameaçaram e inventaram mentiras a meu respeito (a minha preferida é que Marta Soares me deu um número de um sócio morto para eu parecer um sócio mais antigo do que era; ou mesmo que nem sequer era sócio).
Enfim, hoje percebo que há uma correlação entre o dirigismo associativo e o estilo dos seus dirigentes, sobretudo no futebol, porque movimenta enormes interesses e dinheiro (mesmo se em crise, como com esta pandemia). Não é por acaso que, nos três grandes clubes, só o presidente do Sporting nunca teve problemas com a justiça; e também não é por acaso que, pesem todos os defeitos que possa ter (e alguns há de ter), se distingue dos outros líderes, pela positiva. Algo que os adeptos do FC Porto e do Benfica, quando são honestos, sérios e sensatos, reconhecem. Mesmo que lhe atribuam falta de jeito e pouca capacidade de comunicação.
A ideia não é tanto elogiar o presidente do Sporting, a quem se devem os parabéns pelas conquistas desportivas, mas salientar esta espécie de mundo à parte em que se move o futebol e as suas qualidades e defeitos próprios. Uma vez que, se quase só falei de defeitos, há que reconhecer que devem existir, igualmente, qualidades… mas a maioria delas não me ocorrem.

ATRAVESSAR A RUA

UMA das dificuldades que qualquer dirigente desportivo terá é a confusão entre o profissionalismo dos seus atletas e a paixão da massa associativa. Naturalmente, todos aceitam que os jogadores de futebol sejam profissionais; ora, sendo profissionais, o que essencialmente os liga ao clube é o contrato e não a paixão. Esta visão fria conflitua, naturalmente, com os vibrantes sentimentos dos sócios; não há nada a fazer. Estes últimos pagam, como prova de amor ao clube; os primeiros recebem para dar alegrias aos sócios. Não estão em posições que se possam considerar opostas, mas também se encontram muito longe de serem coincidentes.
João Mário, que fez boa parte da sua formação no Sporting, rumou a Itália, onde a vida profissional não lhe correu de feição, andando emprestado ao West Ham e ao Lokomotiv de Moscovo. A seguir, o Inter de Milão (que tinha pago 40 milhões pelo jogador) emprestou-o ao Sporting, logo na época em que o clube se tornou campeão.
É depois do campeonato ganho que o Benfica, treinado pelo mesmo Jorge Jesus que treinava em Alvalade quando o João Mário se foi, mostra interesse no médio. Bate 7,5 milhões e muita gente se pergunta por que razão a direção de Varandas, que deu o dobro por Paulinho, não avança com verba igual e exerce o direito de preferência. A resposta é o salário do jogador. No Benfica ele vai ganhar, ao que se diz, três milhões líquidos, algo que para o Sporting é exagerado. E a cláusula antirrivais que o Sporting poderia invocar? Esqueçam, é bom para a negociação, mas não tem valor jurídico, segundo tem sido o entendimento dos tribunais.
João Mário não será o primeiro, nem o último, a atravessar a Segunda Circular. Nomes como Carrillo (que foi um flop na Luz), Carlos Martins, Carlos Manuel, Bruno César, Paulo Bento, João Vieira Pinto (que foi herói nos dois clubes), Jordão (grande herói em Alvalade), Artur Correia, Fábio Coentrão, enfim há uma grande lista com a particularidade de terem passado mais da Luz para Alvalade do que o contrário. Acresce que o Sporting tem um jovem cheio de talento capaz de fazer o lugar de João Mário, que tendo ainda muitos anos pela frente, não vai para novo (28 anos). Refiro-me a Daniel Bragança, que terá uma titularidade quase assegurada (assim Rúben entenda, que o treinador, mesmo sem curso completo, sabe muito mais do que eu).
Apenas uma palavra para saudar a contratação de Vinagre. Apesar de esperar que Porro se mantenha por cá, a verdade é que o jogador é do Manchester City e está emprestado; além de que Vinagre é um belíssimo profissional.
 

João Mário pode ser mais um jogador a mudar de lado na Segunda Circular


E  FALEMOS DE FUTEBOL 

DESTACO o jogo entre Itália e Espanha como um dos melhores jogos do Euro. Confesso que depois da minha deriva a torcer pela Suíça, contra o resto da família, acabei, terça-feira, a torcer por Espanha. Seja por isso, seja por ser verdade, o facto é que me parece que a Espanha jogou mais, com mais garra e mereceu ganhar. O golo da Itália, no tempo regulamentar, foi contra a corrente e, apesar de ser um belo golo, deixou um sabor amargo a quem torcia aqui pelos vizinhos.
Depois do prolongamento, quando se chegou às grandes penalidades, os espanhóis foram a maior desilusão do mundo. Como sempre, a vedeta (Morata) falhou. Está escrito.
No Inglaterra-Dinamarca, na noite de ontem, dividi-me. Porém, acabei a torcer loucamente pelos dinamarqueses sem saber porquê… isto, no futebol, é interessante; nunca sabemos explicar por que motivo apoiamos este ou aquele. Reconheço, apesar de tudo, que a Inglaterra mereceu ganhar, embora me parecesse que o fez à custa de um penálti manhoso, quando os adversários já quase andavam de gatas. Mas, tal como na outra meia-final, o jogo teve momentos brilhantes e chegou aos 90 minutos a precisar de mais tempo para decidir um vencedor; talvez tenha sido aquela grande penalidade manhosa, aos 104  minutos, em que Kane só bateu o jovem Schmeichel à segunda tentativa, que impediu o jogo de ter o desfecho do Itália-Espanha: penáltis. Se assim fosse estou convencido de que a Dinamarca ganhava graças a São Kasper Schmeichel na baliza, um homem que aos 13 anos andava por Lisboa, nos dois anos em que o seu pai, Peter, uma lenda como guarda-redes, defendeu as balizas do Sporting… terá sido isso que, subliminarmente, me levou a optar pelos vikings? Talvez.
Agora, na final de domingo, entre a Itália e a Inglaterra, o meu espírito indomável leva-me a torcer pela Velha Albion, o nosso mais antigo aliado (depois de Portugal, Bélgica, Suíça, Espanha e Dinamarca); é a sexta seleção que apoio. Acho que isso vai ser bom para os italianos… não ando com sorte, o que espero que se inverta assim que o meu Sporting comece a jogar.
 

QUINTA 

Soube pelo jornal do Sporting., o mais antigo jornal clubístico do mundo, que o Sporting Clube de Portugal nasceu (há 115 anos feitos há uma semana) na Quinta das Mouras, que era propriedade do Visconde de Alvalade, avô de José Alvalade. Curiosamente, a Quinta das Mouras é hoje um bairro de prédios de classe média, onde vivi em criança e onde ainda vive uma grande sportinguista (mas não sócia)… a minha mãe.
 

ESTÁDIO 

Alvalade vai ter relva nova e as cadeiras vão ser progressivamente substituídas, de modo a serem todas verdes. Além de gostar que aqueles azulejos que se veem de fora, enfim, fossem diferentes, desejo, sobretudo, que possamos ver isso ao vivo, já esta época. Ou farão com que nem os vacinados, testados ou que apanharam a doença no último meio ano, com direito a certificado digital para ir à Cochinchina, não possam entrar num estádio?
 

TREINADORA

Mariana Cabral era treinadora da equipa B de futebol feminino, tendo ganho a 2.ª Divisão da categoria só com vitórias. Esta época vai treinar a equipa principal. Daqui lhe desejo as maiores felicidades (se não tiver o curso todo que seja como o Rúben) e revelo uma coisa: a Mariana foi minha colega como jornalista no Expresso. Agora não digam que os jornalistas não percebem nada disto... pelo menos, uma provou que sabe.