Centralização meramente virtual
Reinaldo Teixeira deseja a centralização. Mas chegou à Liga e não encontrou nem propostas de compra dos direitos/TV, nem chave de repartição entre os clubes...
Houve um estudo, encomendado pela Liga Portugal a uma empresa da especialidade, que concluiu que os direitos televisivos dos clubes da I Liga não valiam os 170 milhões de euros atualmente pagos, mas, caso viessem a ser vendidos de forma centralizada, 300 milhões. Entretanto, o Governo de António Costa ‘atravessou-se’ no processo e decretou que até ao final de 2025/26 a Liga tinha por incumbência apresentar um modelo de funcionamento da centralização que, na pior das hipóteses, deveria estar a ‘bombar’ em 2028.
Perante este cenário, de imediato torci o nariz, e tive oportunidade de deixar as minhas dúvidas, que eram muitas, aliás, preto no branco, nas páginas deste jornal. Então, com o mercado televisivo em contração, sabedores das dores de cabeça por que iam passando os Big Five, que viam receitas da TV reduzidas, continuávamos a dizer que a Liga portuguesa, por quem o desinteresse internacional tem sido crescente, ia, pura e simplesmente através da centralização, aumentar proventos em 57 por cento? Mas como? Quem pagava? E porquê? Mais a mais, sabendo-se da assimetria do nosso futebol, onde três clubes congregam 93 por cento do mercado, como seriam compagináveis os interesses dos ‘grandes’ com os do resto do pelotão? Seria normal que Benfica, Sporting ou FC Porto aceitassem um modelo em que passassem a receber menos, num contexto em que era dito que as receitas globais iam crescer 57 por cento?
Estas dúvidas foram sempre contraditadas pela Liga, que criou uma entidade própria para tratar esta magna questão, o que me fez pensar que, se calhar, o preconceito era apenas meu, e tudo rolava sobre esferas. A água foi passando por de baixo das pontes sem que pudesse falar-se de avanços práticos, quer em relação à anuência dos principais clubes, que mais recebem, quer relativamente aos operadores, que são quem paga; a nossa Liga foi caindo no ranking da UEFA, o seu valor, perante tanta oferta internacional, passou a ser marginal fora de portas, e a procissão foi seguindo alegremente, carregando o andor, como se a partir de 2028 (e mesmo quanto a esta data estamos a falar de quase 30 anos de atraso em relação aos ingleses e de pelo menos 15 quanto aos outros) todos os problemas de salvação da classe média, através de uma repartição mais equitativa dos dinheiros televisivos, passassem a estar resolvidos.