Calendário... sem agenda!...
Amigo meu indignado com algumas reacções às minhas intervenções, com cara e assinatura, dizia, em minha defesa, que era só ler os meus artigos, neste último ano, para se constatar que ou critiquei certas coisas construtivamente ou disse o óbvio. Sem indignação - longe disso - fui reler esses artigos, para vos deixar hoje um resumo dos 4 que escrevi entre 15/09/2018 e 7/09/2019. Evidentemente, no que respeita ao Sporting. Por princípios éticos, de que não abdico, embora sabendo que me prejudicam, suspendi a minha colaboração no dia 7 de Julho de 2018, num artigo intitulado Somos todos Sporting que foi o lema da minha campanha, porque não tinha dúvidas que um dos temas seria a união dos sportinguistas, como aliás estava na proclamação dos candidatos. Devia ser um tema e não só um chavão. Um clube fortemente desunido num passado recente tinha-se unido para dizer o que não queria e era tempo de dizer o que queria e quem queria.
Oito dias depois do acto eleitoral - 15/09/2018 - não tive qualquer problema em admitir que O meu tempo acabou: os tempos mudaram e o Sporting mudou. Aceito isto com naturalidade. Só não aceitarei a mudança nos princípios e nos valores em que nos fundamos e nos desenvolvemos. Prefiro perder com dignidade do que ganhar a todo o custo. Mas os princípios e os valores não têm tempo. Para essa luta os sportinguistas podem continuar a contar comigo. A honra e a dignidade dos homens e das instituições não têm prazo de validade!...
Em 13/10/2018 tive um Tempo de atenção por força de intervenção de Ricciardi: criticar não é, nem pode ser, passado um mês deitar abaixo, pura e simplesmente, quem tem carrada de problemas para resolver. E terminava: o meu tempo acabou. O nosso tempo não acabou. O tempo do Sporting pode e deve ser outro, mas não acabou, nem pode acabar. O meu tempo não é de oposição, mas sim de preocupação e atenção!...
Em 20/10/2018, uma nota final sobre um acto que muitos consideraram, e bem, de anti-união: com pompa e circunstância foi apresentada a nova grelha da Sporting TV. Dezenas de convidados e colaboradores da Sporting TV. Não fui convidado, embora durante muito tempo tenha dado a minha colaboração, a uma televisão onde sempre fui considerado como da casa. Respeito a nova política de comunicação do Sporting, cujos responsáveis aliás já vêm da campanha eleitoral, para unir os sportinguistas. Mas compreendo e aceito que não mereça o convite. Sem azedume ou amargura. Agora que foi feio, foi!... No artigo seguinte limitei-me a um Agradecimento: não quero deixar de agradecer as muitas mensagens de solidariedade recebidas por causa da desfeita da Sporting TV. E aproveito para esclarecer que não fiquei magoado. Só o Sporting e os sportinguistas me poderiam magoar e isso não aconteceu. Quem tomou a decisão não tem dimensão moral ou mental para me magoar e só merece uma resposta com os pés. Com os pés que eu não volto a pôr!... Nesse mesmo dia, em Varandas sobre... Cintra, referi-me a entrevista de Cintra sobre Peseiro que, na minha opinião, foi o abrir do caminho do despedimento do treinador, concluindo: quem tem um assobio destes na varanda presidencial, não precisa das assobiadelas da claque!...
A 3/11/2018, Governar com... governantes, disse sobre entrevista de Varandas sobre a ingovernabilidade do Sporting: direi ao meu presidente, com toda a sinceridade e convicção, que não é mudança do treinador que torna um clube ou uma equipa governável. Governar é decidir, escolher caminhos e prioridades. E, sobretudo, governar não é ser governado de fora para dentro. Não estou aqui para condenar uma decisão de risco. Até lhe poderia gabar a coragem. Estou convencido, porém, que o presidente Varandas reduziu a sua margem de tolerância e isso é perigoso para o Sporting. Caro Presidente: no que diz respeito a governabilidade do Sporting, o seu diagnóstico está certo. Há que encontrar a terapia adequada, e esta não será um penso aqui, aspirina acolá. Precisa de uma intervenção cirúrgica a sério, projectada com serenidade, inteligência e bom senso. Medidas avulsas apenas adiarão a morte, certa nos seres humanos, mas dispensável nas instituições!...
Em Obrigações e Obrigações II (24/11 e 1/12 de 2018) face a acusações de traição e boicote, por parte de Varandas, por ocasião do empréstimo obrigacionista e de que os verdadeiros sportinguistas haviam adquirido obrigações, comentei: não quero discutir publicamente o caminho para a união, mas não posso ler, ouvir e calar tudo. Não andei quase 40 anos a tentar servir o Sporting e depois ver-me conotado com traições ou boicotes. Dispenso ilustres e notáveis; exijo só o mínimo de respeito. É preciso coragem para enfrentar os graves problemas do Sporting. Muita coragem, e, sobretudo, coragem moral. Mas essa coragem não pode ficar pela metade. A verdadeira coragem está na decisão com que se rompem com interesses e mexericos, para erguer a voz da consciência acima de tudo e todos. Ficar pela acusação de traição e boicote é ficar pela metade. Ficar a acusação sem a denúncia não é nada, antes injustiça para uns e cobertura para outros. Não sou sportingado, já não sou croquete e não me acho notável! E incluo a confissão pública de que não adquiri obrigações!
O meu tempo está a acabar foi escrito em 16/02/2019, a propósito de remar para o mesmo lado, desculpa já um pouco gasta para encobrir erros: passaram-se menos de seis meses. Mas a um ruído demolidor seguiu-se silêncio ensurdecedor, só interrompido por uma palavra em tempo fácil, mas inoportuno, e sem significado futuro. Queremos esquecer o passado e olhar em frente. Mas é o passado que ocupa o espaço mediático, o presente não é preenchido com expectativas de futuro, que nos una e galvanize para um tempo que já vivemos. Não exigimos resultados, porque temos tido senso para compreender que isso não é para o imediato. Mas gostaríamos de ver um plano de conjunto definido, ideia e discurso novo, orientação prática e finalidade positiva. O que queremos e para onde vamos? «Não sei por onde vou, não sei para onde vou», como diria o poeta. Tão pouco posso dizer «que sei que não vou por aí», porque desconheço o aí!.. Mas sei, e digo-o com redobrada preocupação, que um navio de grande porte não pode ser conduzido a remos. Pode afundar, mesmo em mar calmo!... Disse que o meu tempo acabou com preocupação; hoje digo que não só um tempo que é o meu pode estar a acabar!
Em 9/03/2019, inspirado pela crónica de Henrique Monteiro, questionei: E alguém quer comprar? Falei pela primeira vez no fosso - palavra que coloquei no vocabulário verde e branco - e comentei: não estou preocupado porque o clube não está à venda. Mais que uma instituição, é uma paixão. Mas uma paixão que tem que ser também racional, quando respeita ao futebol. E, com os pés bem assentes no chão também temos de pensar que, mesmo que as modalidades sobrevivam só com a quotização, sem necessitar de SAD consistente e vitoriosa, também elas não resistirão à falta de competitividade do futebol, que baixará as receitas da quotização drasticamente. É preciso ser realista e perceber que, por uma qualquer via romântica, maior vai sendo a largura do fosso, porque, por cada Champions que passa ao lado, será sempre mais difícil a recuperação do tempo perdido. E é isto que a mais generosa massa associativa tem de perceber: não há mais tempo a perder para além do tempo perdido. E é tempo dos sportinguistas enfrentarem este problema, e serem elas a decidir isso, em mais uma atitude pioneira, como têm tido tantas. Teremos de ser nós a decidir e a controlar tudo isso, e não deixarmos que outros o façam por nós. É que há muitos que não querem que o Sporting venda a maioria; mas há minoria perigosa que terá interesse em comprar a SAD do Sporting. O Sporting vive neste cantinho à beira mar plantado, como diria Camões, cheio de espertos e invejosos, e nós agora estamos a jeito! A minha preocupação não é se alguém quer vender o clube, mas se, por este andar, há alguém que quer comprar a SAD, a preço de saldo? O tempo o dirá e só espero que não seja tarde demais!... Em 6/04/2019, sob o título O perfume de Bruno Fernandes, e após manifestar alegria pela eliminação do Benfica na Taça de Portugal, concluí com um voto: que o perfume do futebol de Bruno Fernandes seja inspirador de nova mentalidade de gestão, sem complexos nem tibiezas, para que não se esfume, no futebol, o sonho do Visconde de Alvalade. É isto que se deve discutir, com tranquilidade e seriedade.
A minha resenha hoje termina aqui, porque não tenho mais espaço. No calendário, com este artigo, de 6 de Abril passado. Mas continuará a visita ao calendário, sem uma agenda, mas com um propósito: discutir construtivamente o futuro do Sporting! De imediato, e com estes excertos, fica claro que a questão não são esqueletos no armário, mas fantasmas na varanda!...