Cada vez mais estúpidos
O neurocientista francês Michel Desmurget publicou A fábrica de cretinos digitais e concluiu que pela primeira vez o quociente de inteligência da espécie está a regredir. Isto é, os filhos vão ser menos inteligentes do que os pais, por força dos estímulos concentrados nos ecrãs.
Como se tal não bastasse, outros estudos dão conta de que a falta de contacto provocado pela pandemia está a fazer regredir capacidades nas crianças. Há, em França, casos estudados de miúdos que estão a falar pior do que faziam, a esquecer-se de como se calculava ou lia; e a usar fraldas quanto há meses as tinhas largado.
Temos sempre o desporto para nos levar disto, assim andava eu a pensar até ter cruzado duas outras notícias. Uma, sobre a regata Vendée Globe, que se realiza de quatro em quatro anos e está em curso, tendo então calhado em tempo de pandemia. É uma corrida de circum-navegação, à vela, em solitário e sem escalas. É o isolamento perfeito para fugir, pensei, da cretinice digital e dos miúdos que voltam às fraldas e se esquecem de como se lê. Enganei-me. O isolamento àquele nível também faz de nós mais estúpidos, concluíram investigadores ingleses que analisaram o cérebro de quem está durante semanas em alto mar ou em regiões inóspitas, pois a falta de estímulos visuais, a repetição da paisagem, encolhe-nos o cérebro.
Pior, e voltando a França: uma cooperativa agrícola, escreveu a Reuters, investiu num sistema robótico que não apenas distribuiu a ração pelos porcos como o faz ao som de música clássica, parecendo estar também compreendido que os animais se acalmam, o que por sua vez melhora a qualidade da carne. Só falta que comecem os porcos a cantar e nós a grunhir.
Nem Orwell pensou nisto assim.