Bruno Lage, uau!
PERSONALIDADE da época no futebol português: Bruno Lage. Indiscutível. Tal como Sérgio Conceição o foi há um ano. Não por, simplesmente, terem conduzido campeão nacional. Sim porque, para ambos, a maratona até ao título foi drástica oposição de simples. Arrancaram em circunstâncias dificílimas, puros berbicachos, conseguindo arrumar a casa e erguê-la, em duríssima escalada, até ao êxito dito impossível!
Sérgio entrou num FC Porto vindo do 3.º lugar - no soma e segue de nada vencer ao longo de 4 anos (!) - e financeiramente encostado à parede por (saudável) imposição da UEFA, tendo de se despedir de pedras preciosas (Rúben Neves, André Silva - mesmo Diogo Dalot e Layún) e limitar-se a uma aquisição: Vaná, saído do Feirense para guarda-redes suplente. Sérgio recuperou, muitíssimo valorizando!, quem estava emprestado (Ricardo Pereira - veio a render bom dinheiro, transferido para o Leicester -, Sérgio Oliveira, Aboubakar, Marega…), deu superior dimensão a outros, vide Brahimi, e, injetando raça num futebol práfrentex, devolveu o FC Porto ao topo, de forma incontestável!
Proeza ainda maior, ainda mais impensável, a de Bruno Lage! Porque chegou no penúltimo dia da 1.ª volta, quando o Benfica estava KO: no 4.º lugar… (a 7 pontos do campeão) e sendo ele, Bruno, requisitado à equipa B em emergência de mero interino… Então frisei que o Benfica desperdiçara meio campeonato com calendário muito favorável…; a sua 2.ª volta seria terrível!: ir a Guimarães, a Alvalade, a Braga, ao Dragão! - mais Moreira de Cónegos e Vila do Conde, o que significa deslocar-se ao território de todas as 6 equipas que se classificaram do 2.º ao 7º lugares! Martírio à vista! Desde logo, para treinador jovem, chamado à pressa e ilustre desconhecido.
Bruno Lage teve aquilo que Luís Filipe Vieira acaba de dizer ele próprio ter tido (traduzo para coragem). Sim, gigantesca coragem! Ok, pouco a perder… Mas, caramba!, treinador miúdo (peço-lhe desculpa), num ápice virou quase tudo de pantanas! Drástica mudança de esquema tático, criança João Félix como 2.º ponta de lança, Pizzi crescendo noutro modelo de jogo, confiança transmitida a Gabriel (atenção: injustíssimo o que tenho ouvido e lido sobre Rui Vitória ter desligado de Gabriel; foi Vitória quem muito insistiu nesta contratação, feita em última hora, no fecho de agosto - e depressa a lançou no 1.º onze; só que Gabriel, mostrando ser potencial mais-valia, ressentia-se de não ter feito pré-época, precisava de tempo…). Mais: inesperada e espetacular recuperação de Samaris, progressivo lançamento de outras crianças (Florentino, Ferro), detonação do melhor Rafa…
A estreia incluiu sofrimento e genica atacante: na Luz, face a Rio Ave, viragem de 0-2 para 4-2. Os 2 jogos que se seguiram, porque fora de casa, foram importantíssimos: 2-0 nos Açores, 1-0 em Guimarães. Daí partiu embalagem… trituradora!: na Luz, 5-1 ao Boavista; em Alvalade, 4-2 (grande exibição, quiçá a mais categórica); de imediato 10-0 (!) ao Nacional, 3-0 nas Aves e, em casa, 4-0 ao Chaves (26 golos nestes 5 jogos!). Seguiu-se o teste dos testes: 2-1 no Dragão - personalidade para reviravolta, pois o FC Porto marcou primeiro… -, absolutamente decisivo! (quase incrível salto para… 1.º lugar).
Escorregadela, na Luz - 2-2, frente ao Belenenses -, absurda, após 2-0, porque consequência da súbita rajada de estapafúrdios/colossais brindes de Odysseas e Rúben Dias (muitíssimo pior do que o 2-2 do FC Porto em Vila do Conde por erros… coletivos). E fio à meada logo categoricamente retomado em casa de Moreirense 5.º classificado (4-0).
Senhor Bruno Lage: 19 jogos, 18 vitórias (1 empate), 72 golos marcados (mais 29 golos - e mais 9 pontos - face ao FC Porto no mesmo período), que obra! Exatamente isso: miúdo Bruno Lage fulgurante a mostrar-se senhor! Também - e muito, tanto! - na diferença que impõe no público discurso. Oxalá consiga mantê-lo…
O que lhe correu mal (Taças nacionais e Frankfurt) e, sobretudo, a incógnita sobre o próximo futuro do Benfica e deste treinador… abordarei noutro dia.
JAMOR, gala fechando a época com aliciante grande despique: FC Porto-Sporting. Maior exigência (favoritismo) para o vice-campeão. Mas o Sporting já se lhe impôs na Taça da Liga e muito melhorou desde esse êxito. Taça é Taça… fenómeno único. Vivà Taça! Vivà sua gala!