Bruno de Carvalho deve ir a eleições?

OPINIÃO21.07.201800:51

Coloca-se, neste momento, ao Sporting, um problema de consciência ética que se resume a isto: consentir que concorra a eleições quem pela prática de uma gestão populista e extremista destruiu toda a ideia de ética do clube. É um problema que, não raras vezes, a democracia coloca a si própria e que nos leva a interrogar sobre se, de facto, a democracia deve ser o que é, em toda a sua expressão de liberdade não condicionada, ou se, de tão aberta, tão liberal, tão tolerante e, por vezes, até, tão ingénua, a democracia deve correr o risco óbvio de se destruir a si própria.

Acreditem que o problema não é de fácil solução. Nem no Sporting, nem no país, nem no mundo.

É óbvio que a vontade objetiva daqueles que assumiram responsabilidades provisórias no Sporting com a intenção de o salvar de um estado de calamidade pública é a de deixar a candidatura de Bruno de Carvalho e de outros seus acólitos num banho maria de uma suspensão que, na prática, resultará no impedimento dessas candidaturas avançarem para este próximo ato eleitoral.

Não será difícil, tendo em vista a realidade conhecida e a complexidade do processo, encontrar razões sustentáveis para manter a suspensão dos putativos candidatos que estiveram envolvidos no brunismo e no tresloucado regime que o sustentou.

A questão mais importante, porém, não será essa. O que importa é saber se o impedimento, mesmo que legal, da candidatura do presidente destituído não irá gerar uma onda de vitimização que pode vir a crescer na proporção direta de eventuais maus resultados desportivos, algo que nem sequer será pouco expectável tendo em conta a natureza de uma situação que é obrigatoriamente muito pouco sólida e que precisará de tempo e paciência - duas coisas que os adeptos não costumam ter -para resolver o clube e todo o universo do seu futebol.

 A consequência do anunciado fim da brutal política de gestão unipessoal, que incendiou o Sporting e o país, era tão previsível quanto é perigosa. Os sócios do  Sporting veem-se, agora, confrontados com a escolha de uma multidão de candidatos. E se ainda acontecer uma oportunidade para a candidatura de Bruno de Carvalho, nestas atuais condições de pulverização de tendências e de expressões divergentes para o futuro da vida leonina, então, o ex -presidente voltará, de facto, a ter uma hipótese real de se ver reconduzido, mesmo que seja por uma minoria radical que continuará, sempre, a defender um regime talibã para fazer vingar o que considera ser um género de direito revolucionário a ser campeão nacional de futebol. 

Talvez, algumas candidaturas entendessem o perigo e procurassem a unidade que permitisse a vitória de uma sólida maioria dos sportinguistas conscientes, mas não estou certo que tal viesse a acontecer. Cada um haverá de pensar que a unidade é possível se for ele a mandar, o que, na realidade, impossibilitaria essa unidade.

É curioso como todas estas questões já marcaram tempos na história do país e do mundo. Atente-se no período democrático português, no pós 25 de Abril, e logo se perceberá que da fantástica unidade dos que eram contra a ditadura nasceu uma dramática divisão, sobretudo a partir do momento em cada um de nós teve de se afirmar pelo que queria e não pelo que não queria.

Aconteça o que acontecer, com mais solavancos, mais mágoas, mais divisões, mais ou menos prolongado período de seca desportiva, o Sporting é grande, o Sporting sobreviverá. Porém, mais débil, mais enfraquecido, mais vulnerável, se os seus sócios não perceberem o essencial.