Braga é uma festa
1 O saudoso Senhor meu Pai gostava particularmente, entre outros, de um livro de Ernst Hemingay, Paris é uma festa. O livro começou a ser escrito em Cuba no outono de 1957 e só foi ultimado, também em terras cubanas, três anos depois. A obra situa-se em Paris e abrange os anos de 1921 a 1926 e, como é mencionado, dá conta das «impressões da vida do autor em Paris». Recordei-me do livro em razão da permanente lembrança de meu querido e saudoso Pai, da visita que recentemente fiz a Braga, do reencontro com uma cidade atrativa e cheia de história - de rica história e de história rica - e, naturalmente, em razão de ser nos próximos dias a capital do futebol português, o local de encontro da interessante final four da Taça da Liga. Na próxima semana vamos conhecer o dito, em termos de sugestivo marketing, campeão de Inverno. E Braga vai ser o palco de encontros que um quarteto de luxo vai repetir daqui a poucas semanas nas meias-finais da Taça de Portugal. Aqui, e para alegria dos operadores televisivos, da Federação e dos fiéis adeptos, com jogos a duas mãos, o que significa que no espaço de pouco mais de um mês teremos três Benfica-Sporting e também disputa acesa entre Futebol Clube do Porto e Sporting de Braga! Para já teremos a primeira disputa entre Sérgio Conceição e Bruno Lage e depois, logo a seguir, o encontro entre Marcel Keizer e Abel Ferreira. E com a certeza que o Conselho de Arbitragem designará árbitros internacionais para esta festa do futebol em Braga. E, aqui, e a respeito do futebol e dos seus números, importa não ignorar o recente estudo da UEFA que evidencia, no que concerne a vários vetores, que a Liga portuguesa é um claro caso de estudo. É que em razão do fosso entre os grandes e os outros clubes torna-se «extremamente improvável» que a conquista da Liga fuja a um dos «três grandes». Diria eu a um dos destes quatro que lideram a classificação da Liga NOS e estão nas meias- finais da Taça de Portugal e da Taça da Liga!
2 A Taça da Liga, e o seu formato, indicia que os quatro grandes são encorajados pelo sorteio, que, aliás, é bem condicionado. Os quatro primeiros classificados da Liga só entram na fase de grupos - sendo cada um verdadeiro cabeça da respetiva série, ou seja, do respetivo grupo - e jogam dois dos três jogos no seu Estádio. Meio caminho andado para marcarem presença nesta final four para alegria da Liga, dos seus patrocinadores - diretos e indiretos -, dos seus conhecidos e reconhecidos embaixadores e, também, da cidade que acolhe o evento. Sem esquecer, assuma-se, que é a em rigor Taça Allianz! E o Município de Braga, e o seu dinâmico Presidente, sabem que, nesta época baixa em termos de turismo - e antes da sempre atrativa Semana Santa -, a próxima semana será bem estimulante para a hotelaria, a restauração e o comércio da cidade. A que se soma a permanente presença universitária e a romagem semanal de largas centenas de espanhóis, por excelência da Galiza. O que sabemos bem é que este será o primeiro dos títulos que na presente época desportiva disputarão Benfica, Futebol Clube do Porto, Sporting e Sporting de Braga. Com a particularidade do Sporting de Braga, de António Salvador e Abel Ferreira, jogar em casa. O que é uma alegria e uma indiscutível mais-valia. E com o Estádio, bem bonito, cheio de adeptos bem fervorosos. E, assim, a Liga, e o seu Presidente, farão as honras de uma festa, que será, estou certo, bem bonita. E, no final e afinal, diremos que nos próximos dias «Braga é uma festa»!
3 A janela de transferências de janeiro parece, por ora e por cá, relativamente calma. Parece haver mais contratações de treinadores - com as terras da Arábia a reconhecerem a imensa qualidade dos nossos treinadores, da Arábia Saudita ao Koweit, do Catar ao Irão! - do que de jogadores. Mas importa acompanhar a saída de alguns jogadores de certos clubes intermédios para alegria, desde logo, das respetivas tesourarias. De Chaves a Tondela, de Moreira de Cónegos ao Bessa, há saídas de jogadores relevantes, como é o caso de David Simão, que se muda para a Bélgica e para o Antuérpia. E até o México, graças ao empenho de Pedro Caixinha, acolhe um internacional sub-21 português, o Stephen Eustáquio que jogava no Chaves. Mas nos próximos dias, e depois dos treinadores e do regresso - que vivamente saúdo - de Pepe aos relvados portugueses, teremos, decerto, algumas entradas - poucas - e outras saídas nos grandes do futebol português. Depois destes dias de festas em Braga haverá a festa da intermediação dos jogadores. E tal como no livro de Hemingway há sempre um jovem Hem com a cabeça povoada de sonhos, sempre atento aos mais simples prazeres da vida.
4 Por razões deontológicas - bem diferentes - não poderei pronunciar-me acerca de duas situações que marcaram a semana. A primeira diz respeito ao caso Rui Pinto, um dos ciberpiratas do momento. O que é interessante, a ser verdade, será a sua ligação a autoridades francesas e suíças, o que deixa antever uma interessante disputa jurídica, mesmo que em solo português. A segunda para avaliação e comentário - e sem que esqueçamos o Alverca! -, que seria bem pormenorizado, das sanções aplicadas ao Casa Pia, a Rúben Amorim e a José Reis, sem esquecermos a fundamentação que levou o TAD a decretar, provisoriamente, a «medida cautelar de suspensão da execução de realização de cinco jogos à porta fechada» bem como a sanção de 90 dias a Rúben Amorim e de seis meses a José Reis. Mas aquelas razões impeditivas vão cessar a curto prazo por decisão própria . E, então, face ao silêncio cúmplice de tanto e tanta jurista - e numa semana em que vai surgir, no âmbito da Federação, uma nova Revista de Direito do Desporto - importa recordar Simónides: «Muitas vezes nos arrependemos de ter falado, mas nunca de ter calado».
E, mesmo que haja sugestões de atos e empurrões para factos que nos surpreendem, há que, até perante sugestões de delação, deixar o silêncio que a cumprida deontologia impõe. Também, aqui, pela verdade desportiva!