Braga, a «outra» dor de cabeça
Vale uma presença no Jamor, o quarto embate da época entre Sérgio e Carvalhal. FCP em vantagem, mas o Braga esperneia tanto…
OS dois maiores clubes do Norte decidem hoje, no Dragão, qual deles pisará o relvado do Jamor na próxima final da Taça de Portugal. O FC Porto parte em vantagem, por ter empatado com golos (1-1) na 1.ª mão da meia final, mas o momento actual das duas equipas sugere que o bilhete para o Jamor continua em aberto. O FCP vem de um empate-derrota com o Sporting e não disfarçou, no final do jogo, a «azia» que esse resultado lhe causou (Sérgio Oliveira nem reparou, antes de amesquinhar os leões, que o FCP não conseguiu vencer nenhum dos três jogos que fez com o Sporting nesta época...). O Braga vem de uma vitória estóica no Funchal que lhe permitiu ultrapassar o FC Porto e agarrar o 2.º lugar que dá acesso directo aos milhões da Champions. A 13 jornadas do fim, e até noticia em contrário, o Braga passou a ser a maior ameaça à liderança sportinguista. Não só porque reduziu a desvantagem de 11 para 9 pontos, mas também porque recebe os leões dentro de oito jornadas. Bem sei que até lá muita coisa pode acontecer (por exemplo, há um Braga-Benfica no dia 21), mas é um facto que os «guerreiros» de alguma forma continuam bem presentes nos pensamentos de Rúben Amorim. O Braga também está a tornar-se um segundo «intruso» terrivelmente incómodo para as contas do FC Porto e Benfica (o Sporting passou há muito de «intruso» a pesadelo). Sentado num lugar que vale milhões e certamente disposto a lutar até ao fim por ele, Carlos Carvalhal passou de tipo porreiro, educado e competente (olha que bem joga o Braga!, temos ouvido a tantos e tantos adeptos dos três grandes…) a séria dor de cabeça. Ele pode vir a provocar um rombo de milhões no próximo orçamento do FC Porto ou do Benfica, partindo do principio que o Sporting já não deixa escapar um dos dois primeiros lugares. E para quem acha que o terceiro lugar, ainda assim, é o menor dos males, há duas palavrinhas que contrariam qualquer dose de optimismo exagerado: Krasnodar e PAOK.
Tenho a certeza que nem Sérgio nem Jesus contavam com um Sporting tão sólido, personalizado… e poderoso. Mas também duvido que algum deles acreditasse que à 22.ª jornada nem FC Porto nem Benfica, os clubes que habitualmente discutem o título, estivessem tão atrapalhados na classificação (a dez e treze pontos do líder) e, mais embaraçoso, sem garantia de Champions para a próxima época. É claro que o Benfica é o que está pior nesta altura - porque falhou a Champions deste ano, porque rende pouco e porque investiu mais de cem milhões para «jogar o triplo» e «arrasar» -, mas já vai sendo tempo de reconhecer que o FC Porto está a fazer um campeonato demasiado pífio para a equipa que tem, e que a coisa só não é mais comentada porque o Benfica ainda está a fazer pior.
O jogo de hoje é o quarto da época entre FCP e Braga e cumpre reconhecer que nos três anteriores o campeão jogou mais e esteve sempre por cima. Inclusivamente nos dois empates consecutivos em Braga (2-2 a 7 fevereiro para o campeonato; 1-1 três dias depois para a Taça), o FC Porto estava claramente por cima até ficar em inferioridade numérica (expulsões de Corona no primeiro jogo; e de Luis Diaz - indecorosa! - e Uribe no segundo) e colapsar nos instantes finais - Gaitán empatou aos 90+5 e Fransérgio fez o mesmo aos 90+12! O mote está dado e Sérgio há-de querer recolocar os pontos nos i. Uma eliminação depois do empate-derrota com Sporting seria muito dificil de explicar, mais a mais bastando o nulo. Mas o Braga é uma equipa terrível. Tem carácter, tem personalidade, sabe o que faz e esperneia até ao fim. E quer-me parecer que tem, além do ataque mais produtivo do país (76 golos, contra 74 do Benfica e 73 do FCP), uma taxa de aproveitamento de oportunidades superior à do FC Porto…
Guardiola falha pouco
OCity venceu ontem um bravo Wolverhampton e soma agora 21 vitórias seguidas em jogos oficiais (15 na Premier), uma sequência ao nível daquilo que tem sido a carreira de Pep Guardiola: extraordinária! Embaladíssimo para o terceiro campeonato em quatro anos (que fará de Pep o primeiro treinador tricampeão em Espanha, na Alemanha e em Inglaterra), o City está também a aproximar-se do recorde mundial do clube galês The New Saints, que ganhou 27 jogos oficiais seguidos na época de 2016-17. Essa equipa britânica, liderada pelo desconhecido Craig Harrison, bateu no penúltimo dia de 2016 (30 dezembro, vitória sobre os Druids, 2-0) o anterior recorde mundial (26 triunfos seguidos) que era detido desde 1972 pelo lendário Ajax de Stefan Kovacs (e Cruyff, Keizer, Neeskens, Haan, Rep, Muhren, van Dijk…).
Não vou comparar a dificuldade dos adversários dos Saints nessa campanha (Bala Town, Druids, Carmarthen, Nomads, Landudno…) com os que o Man. City tem vencido na Premier, na FA Cup e na Champions, porque os recordes - frios, factuais - não têm essas «nuances» em conta. Mas vale a pena olhar para o calendário. Para igualar o recorde do Mundo, Guardiola tem de vencer mais seis jogos: Man. United (casa, próximo domingo); Southampton (casa, dia 10); Fulham (fora, dia 13); Borussia M’bach (casa, dia 16, Champions); Everton (fora, dia 20) e Leicester (fora, 3 abril). Nada fácil, mas se conseguir o pleno Pep lutará pela 28.ª vitória na 1.ª mão dos quartos-de-final da Champions, a 6 ou 7 de abril - quem sabe se contra o FC Porto?
Já agora, lembro que Pep é o recordista de vitórias seguidas em três dos principais campeonatos europeus: La Liga espanhola (16, com o Barcelona), Bundesliga alemã (19, Bayern) e Premier inglesa (18, City, igualado com o Liverpool de Klopp).
Guardiola, sim, falha pouco.
Ronaldo: 30, mais uma vez
CRISTIANO marcou ao Spezia no penúltimo minuto e chegou aos 30 golos pela 12.ª época consecutiva (leva 27 com a Juventus, mais três com a Selecção). Uma marca incrível tendo em conta a idade do avançado português (36 anos) e o campeonato onde joga (Série A). Ronaldo também chega aos 20 golos no campeonato pela 12.ª época seguida - a última vez que baixou desse número foi no Manchester United (18 golos) na Premier de 2008-09.
Não vou comparar a dificuldade das competições e dos adversários que Cristiano (767 golos) tem enfrentado com os que Pelé (757 golos) e Josef Bican (805 golos) tiveram no seu tempo, porque os recordes - frios, factuais - não têm essas «nuances» em conta. Mas sempre lembro que CR7 é o recordista de golos nas Ligas «big five» (467), na Champions (135) e no Mundial de Clubes (7); e o recordista de golos em Campeonatos do Mundo (37) e Campeonatos da Europa (40), englobando qualificações e fases finais. E não fica por aqui…
Como Guardiola, Ronaldo também falha pouco.